Vinil reconquista mercado, estimula negócios e até mesmo atrai turistas

De Lady Gaga a relançamentos de discos históricos, vinil tem novos adeptos e crescimento de vendas no Brasil

O vinil, quem diria, é o formato físico de produtos novos de música mais comercializado no País. O faturamento atingiu R$ 16 milhões no ano passado em comparação a 2023. O crescimento é de 45,6%. Essa evolução vai seguir, embora o disco continuará sendo o que é hoje: nicho de mercado, uma pequenina parte do faturamento de R$ 3,4 bilhões alcançado pela indústria musical brasileira em 2024.

Mas o que se pode notar, uma vez inserida neste nicho, é que a indústria presta mais atenção no vinil. Há relançamentos de discos históricos. Aliás, olha-se mais para isso do que para os lançamentos. Embora as novidades tenham lugar desde que o artista demonstre apelo comercial suficiente para bancar essa prensagem física.

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    Lady Gaga: do streaming ao vinil

    É o caso de Lady Gaga, artista com 121 milhões de ouvintes mensais no Spotify e que lançou em março ‘MAYHEM’. Assim mesmo, em caixa alta, como um grito. O vinil importado está disponível para pré-venda no site brasileiro da sua gravadora, a Universal Music. Sai por quase R$ 400 e pode ser parcelado em 12 vezes. Suaves prestações mensais de R$ 33,32. E segundo a própria Universal, é um dos mais vendidos.

    Ao seu lado na prateleira virtual de vinis demandados, está um clássico. ‘Tropicalia ou panis et circencis’. É vinil nacional, absolutamente indispensável em qualquer coleção séria e custa R$ 215,92 – está com desconto de 20%.

    “Vinil aqui no Brasil é absolutamente de nicho, o faturamento corrobora”. A frase é de Paulo Rosa, presidente da Pro-Música Brasil, entidade de produtores fonográficos e que assina o relatório com os números da indústria em 2024.

    Quem diria: vinil vende mais que CD atualmente

    Vendas físicas
    por formato
    (%)
    202220232024
    CD56,9%30%23%
    Vinil39,7%69,3%76,7%

    É de Paulo Rosa a análise de que o segmento de vinil novos vai continuar crescendo, mas será difícil chegar a uma fração do que um dia foi esse mercado. A limitação evidentemente esbarra no preço – é caro comprar um bom aparelho de execução atualmente – a conhecida vitrola.

    Mas é ainda mais caro manter uma coleção com compras frequentes de vinis. E é por isso que o mercado se retroalimenta com lojas especializadas em vendas de usados e nas feiras de vinis que pipocam de tempos em tempos, sobretudo nos fins de semana, em São Paulo.

    Os vinis novos, para além do preço, esbarram em outra dificuldade. O mercado no passado se desintegrou tanto que hoje praticamente não há como comprar em lojas físicas. A Livraria da Travessa é uma exceção. Mas o sortimento decepciona os aficionados, podendo funcionar para colecionadores iniciantes.

    Uma loja de vinis novos em Pinheiros

    É por isso que a aposta de Guilherme Hungria e seu sócio, Gustavo Leite, chama a atenção. Eles abriram no fim do ano passado uma loja de vinis novos. Num lugar privilegiado, o bairro de Pinheiros, e com variedade bastante grande de títulos apesar do espaço físico ser reduzido. Há um pouco de tudo ali, rock, jazz, hip-hop, reggae, música brasileira e trilhas sonoras de clássicos do cinema.

    É certamente uma loja feita por apaixonados pela músicas – e sobretudo por vinis – para atender público semelhante. É o nicho. Um café que funciona no local ajuda a pagar as contas, parcerias, inclusive com um streaming e uma marca de leite de aveia também. “O vinil não é barato, o espaço tem de ser agradável”, comenta Hungria. Nos planos do negócio está também vender vinhos.

    Para além dos apaixonados daqui, embora eles também os sejam, estão os gringos. Pinheiros é um bairro que atrai turistas em São Paulo. E parte deles começa a chegar até a loja de Hungria, a Now Play Vinyl Store, atrás de música brasileira. Sobretudo querem Jorge Ben e Tim Maia.

    Mercado fonográfico em expansão

    O mercado fonográfico brasileiro experimentou o oitavo ano consecutivo de expansão. De acordo com os dados gerais da Pro-Música, o faturamento total do segmento foi de R$ 3,4 bilhões no ano passado. Isso representa alta de quase 28% em relação ao ano anterior.

    A receita total no ano passado vem massivamente do streaming, com a execução pública de música ocupando um distante segundo lugar. E as vendas físicas a terceira posição ainda muito mais distante.

    Categoria de receitaReceita total em participação (%)
    Streaming88%
    Execução pública11%
    Vendas físicas0,6%
    Sincronização0,6%
    Download, mobile e outros0,1%

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