Corinthians, São Paulo e Atlético Mineiro: os times brasileiros com os maiores endividamentos no ano passado, segundo levantamento

Estudo mostra ainda os clubes nacionais com maior faturamento com negociação de jogadores

Os principais clubes de futebol do Brasil tiveram desempenho de faturamento recorde em 2023, mas o endividamento ainda elevado e poucos sinais de uma gestão de passivos eficiente ainda deixa o esporte muito dependente de injeções constantes de dinheiro, mostra estudo da EY antecipado ao Valor Econômico.

O levantamento, que levou em consideração as demonstrações financeiras de 31 dos 40 times que disputaram as Séries A e B do Campeonato Brasileiro em 2023, mostra que o faturamento consolidado dos clubes foi de R$ 11,1 bilhões no ano passado, alta de 32% na comparação com 2022.

O crescimento foi muito impulsionado pelo adiantamento que os clubes que fazem parte da Liga Forte União (LFU) receberam ano passado, após a entidade vender 20% dos direitos comerciais do Campeonato Brasileiro de 2025 a 2027 para a XP, General Atlantic e Life Capital Partners.

“Alguns clubes consideraram os valores de adiantamento dessa negociação em sua demonstração de resultados, como receita de direito de transmissão, ou no balanço patrimonial, reduzindo dívida”, diz Pedro Daniel, diretor executivo de esporte e entretenimento da EY e um dos responsáveis pelo estudo.

Venda de jogadores

Entre os cinco clubes de maior faturamento no ano passado, os três primeiros, Flamengo, Corinthians e Palmeiras, são do Libra, grupo rival que também disputa os interesses do futebol brasileiro. Athletico-PR e Fluminense completam o grupo, tendo reconhecido o adiantamento da LFU como receita.

O aumento da importância das receitas vindas de direitos de transmissão e premiações, representando 45% do faturamento dos clubes em 2023, reduziu a fatia correspondente a transferência de jogadores para 16%. No entanto, Daniel destaca que a consolidação dessa fonte de receita como a segunda mais importante nesta década.

“Nós somos um país formador e exportador de jogadores, a venda não é considerado uma receita adicional e sim faz parte do planejamento anual dos times”, comenta. O Flamengo, Corinthians e Athletico-PR foram os times com maior faturamento com negociação de jogadores ano passado.

O restante das receitas dos clubes está concentrado em faturamento de dia de jogo, como bilheteria, que vêm retomando níveis pré-pandemia, mostra o estudo, além de receitas vindas de clube social, esportes amadores e outras atividades comerciais exercidas pelos clubes.

Times mais endividados

Mesmo com faturamento recorde, o endividamento dos clubes das Séries A e B continuam exorbitantes. No ano passado, fecharam com dívida líquida de R$ 9,52 bilhões, leve queda de 8,7% sobre o patamar de 2022, o maior dos últimos 10 anos, mas os números precisam ser olhados com calma.

Botafogo, Corinthians, Atlético-MG, Vasco e São Paulo foram os cinco times de maior endividamento em 2023, representando, conjuntamente, 44% da dívida líquida total analisada. Botafogo e Vasco, participantes da LFU, contabilizaram valores recebidos como contas a receber.

“A queda no endividamento não mostra que os passivos foram necessariamente trabalhados, é efeito contábil do adiantamento da LFU”, comenta o diretor da EY. As dívidas tributárias dos clubes, por exemplo, aumentaram 7% no ano passado, indicando que não houve gestão de dívidas.

“Temos que lembrar que historicamente sempre nos anos seguintes aos que tivemos receitas recorde no futebol brasileiro temos dívida recorde porque os clubes não conseguem gerenciar esse dinheiro, se endividam com contratações e inflam a folha salarial, esse é um risco que pode acontecer de novo em 2024”, afirma.

Daniel entende que o Brasil passa hoje por um momento de grande transformação no cenário do futebol, citando não só a disputa entre LFU e Libra pelos direitos do Campeonato Brasileiro, mas a entrada de empresários estrangeiros na compra de clubes e a regulação do mercado de apostas esportivas.

“Precisamos centralizar o produto futebol na liga e não nos clubes, regular melhor quem compra participação para melhorar a liquidez das transações, tudo isso para tentarmos aproveitar um momento do mercado de direitos de transmissões que aqui no Brasil, ao contrário de lá fora, ainda está em plena ascensão”, diz.

Fizeram parte do estudo ABC, América-MG, Athletico-PR, Atlético-GO, Atlético-MG, Avaí, Bahia, Botafogo, Botafogo-SP, Ceará, Corinthians, Coritiba, Criciúma, Cuiabá, Flamengo, Fluminense, Fortaleza, Goiás, Grêmio, Guarani, Internacional, Palmeiras, Ponte Preta, Red Bull Bragantino, Santos, São Paulo, Sport, Vasco, Vila Nova e Tombense.

Com informações do Valor Econômico