Por que as mulheres se afastam do mercado financeiro? Executivas de grandes bancos respondem

Debate abordou carreira e vida privada durante o Women in Finance, evento que reuniu centenas de mulheres em São Paulo

Por que as mulheres se afastam do universo do mercado financeiro? Essa foi a pergunta norteadora do painel “Investimentos: oportunidades e carreiras femininas”, um dos bate-papos do Women in Finance, evento promovido pela Fin4she que reuniu centenas de mulheres na FAAP na terça-feira (18). A conversa foi comandada por Alessandra Libman, uma das sócias do BTG Pactual.

Luciana Antonini Ribeiro, cofundadora da gestora de investimentos eB Capital, abriu a conversa lembrando que, em vários momentos de sua carreira, era a única mulher nas salas de reunião. Ao se dar conta disso, ela recordou que as “conversas de cafezinho” não faziam parte do seu ambiente – “um ambiente hostil”.

“O incentivo para ter mais mulheres no mercado financeiro são mais exemplos. É por isso que estou aqui. Antes eu não acreditava em cota. Hoje eu acredito”, frisa Luciana.

Síndrome da impostora

Na avaliação de Juliana Laham, CIO do Bradesco Global Private Bank, a presença da mulher no setor está evoluindo à medida que o mundo dos investimentos fica mais conhecido. Nesse sentido, ela defende que as mulheres apoiem cada vez mais umas às outras.

“A gente ainda tem alguns preconceitos. Até hoje eu penso: será que eu deveria, será que tenho condições [de realizar determinado projeto]? Depende da gente mudar o nosso mindset para transformar a sociedade como um todo”, reflete Juliana.

“Todas nós temos que ter as rédeas das nossas vidas”, pontua Luciana, que diz conhecer poucas mulheres que não passaram pela “síndrome da impostora”. “Isso é realidade em todos os lugares, em todas as idades; temos que afastar isso. Nesse sentido, é preciso entender que nossas dificuldades são mais comuns do que a gente imagina”, diz a sócia-fundadora da eB Capital.

Adriana dos Santos, diretora do Itaú Personnalité, começou sua fala afirmando da satisfação de estar entre mulheres no evento. “Nós acabamos nos enrijecendo para estar nesse mundo. A gente sai mais corajosa desses encontros”, celebra a executiva.

De acordo com ela, o ambiente do mercado financeiro é propício para as mulheres desistirem. “E a gente não pode. É preciso muita coragem. Faço um convite a todos os líderes: temos que gastar mais tempo para montar times mais diversos”, pontua Adriana.

A diretora do Itaú Personnalitè aconselha as mulheres a irem atrás daquilo a que não estão expostas ou de coisas de que não gostam, e não somente de temas a que estejam familiarizadas.

Carreira e vida privada

Outro ponto abordado na palestra diz respeito à vida privada das mulheres que trabalham no mercado financeiro. De acordo com Luciana, é um mito pensar que não é possível ter filho se quiser trabalhar no setor. “É preciso ter clareza que temos uma vida fora do trabalho. Além disso, devemos incentivar os homens a entender a carreira das mulheres”, salienta a executiva do Itaú.

Saber transferir tarefas é outra dica das palestrantes. “Já trabalhei feito louca. Então, tive que aprender a delegar no trabalho e a delegar em casa”, diz Adriana. A diretora do Itaú contou que 70% das tarefas do seu lar estão nas mãos do marido. “É maravilhoso? Não! Minha casa é espetacular? Não! Mas nós somos felizes”, diz ela, divertindo a plateia.  

Gestão do patrimônio

Alessandra, do BTG, lembrou que as mulheres delegam para os homens a gestão de seus patrimônios, o que pode ser um problema. “Não subestime o poder dos investimentos. O acúmulo de dinheiro te permite a liberdade. Assim, investimentos e o acúmulo de dinheiro fazem uma diferença muito grande para o nosso futuro”, salienta Juliana.

Por fim, Adriana lembrou que o dinheiro é um dos temas que mais provoca conflito no lar e deu um conselho valioso. “O melhor momento para falar sobre isso é quando estamos apaixonadas. É preciso entender o que eu tenho hoje e o que vou ter no futuro”, afirma ela. “Cuidem da liberdade que o dinheiro propõe para que se envelheça bem. Sem liberdade não há felicidade”, conclui a executiva do Itaú.