Meme coins: vale a pena investir?

Nos dias atuais do mercado cripto, memes são uma modalidade de investimentos. O senso de comunidade, de fazer ‘parte da piada’, faz com que muitos entusiastas comprem criptoativos que brincam com figuras, eventos e até outros ativos digitais. Esses ativos digitais ganharam o nome de meme coins.

Há alguns anos, porém, o cenário era um pouco diferente. Investir em memes se resumia a Dogecoin (DOGE). Criada com o intuito de impulsionar o meme de um cachorro da raça Shiba Inu que dizia frases aleatórias, a DOGE é talvez o caso mais famoso onde uma comunidade é a única fonte de vida de uma criptomoeda.

Um exemplo famoso da força da comunidade da Dogecoin ocorreu em 2014, pouco mais de um mês após a criação da criptomoeda. Entusiastas de DOGE captaram mais de US$ 25 mil em doações para levar a equipe jamaicana de bobsleigh às Olimpíadas de Inverno daquele ano, realizada na Rússia. O motivo? Imitar o enredo do filme “Jamaica Abaixo de Zero”. Um meme serviu de motivação, enquanto outro atuou como ferramenta.

O fenômeno das meme coins

Nos ciclos de alta do mercado cripto, é normal que ‘versões B’ de uma criptomoeda sejam criadas após o preço da original disparar. Em 2017, por exemplo, o ethereum passou por uma valorização de quase 100 vezes. Durante essa alta, diversas criptomoedas com propostas semelhantes foram criadas.

Na esmagadora maioria dos casos, os projetos desenvolvidos não possuem fundamentos, mas passam por altas expressivas. Essas disparadas no valor são causadas por compradores que não investiram a tempo de aproveitar a valorização do ativo digital original, mas não querem ‘perder o trem’ dessa vez.

Algo semelhante aconteceu com a Dogecoin. Em janeiro de 2021, a DOGE estava cotada a um centavo de dólar, até que o homem mais rico do mundo começou a falar abertamente sobre ela no Twitter. O que aconteceu foi um salto de 68 vezes, que levou a meme coin para perto dos US$ 0,70. Mais uma vez, o medo de perder o trem ativou os instintos dos criadores de projetos ocos, e uma leva sem precedentes de meme coins foi criada.

Baby alguma coisa, Dog não sei o que lá, Cat qualquer treco. Todas as meme coins demonstravam ausência de fundamentos e eram alimentadas pela ganância de investidores buscando a próxima alta de 68 vezes. Uma delas, porém, se destacou mais que as outras: a Shiba Inu (SHIB).

Bonitinha, mas ordinária

Enquanto um movimento se formava para impulsionar cada unidade de DOGE para US$ 1, a SHIB conseguiu subir no mesmo vagão. A ideia na cabeça dos investidores era ‘simples’: com cada unidade valendo cerca de US$ 0,00000008, era fácil comprar milhões de SHIB. Seguindo a matemática, se cada unidade  passasse a valer US$ 1, uma nova leva de milionários surgiria.

O problema é: com suprimento total de quase 1 quatrilhão de criptomoedas, a cotação unitária de US$ 1 por SHIB faria o valor de mercado da meme coin ser quase 50 vezes o Produto Interno Bruto dos Estados Unidos, maior economia do mundo. Os números já são problemáticos por conta própria, mas ainda há o fato da Shiba Inu não possuir fundamentos. Seu preço, assim como da Dogecoin, é sustentado pela comunidade apaixonada.

Além disso, essa ideia errônea tem feito com que investidores acreditem ser melhor investir em SHIB do que em Bitcoin, por exemplo. O baixo preço unitário cria a ilusão de que se está ‘investindo mais’ ao comprar Shiba Inu. A realidade é que um aporte de mil reais terá o mesmo valor em ambos os casos.

O hábito de investir em meme coins não é saudável, justamente pelo fato de comprar um ativo que não possui fundamentos. A Shiba Inu não resolve problemas dos mundos real e digital ou tem uma proposta precisa de seus objetivos. Ela é o exemplo atual mais claro da cultura de investir no meme.

Ruim? Não necessariamente

Embora a Shiba Inu seja um investimento ruim em uma análise objetiva, devido à já falada falta de fundamentos, a meme coin é uma porta de entrada interessante para o mercado cripto. Além da expectativa de que cada SHIB atinja US$ 1 em cotação, a Shiba Inu também herdou da Dogecoin sua forte comunidade.

Já tentou falar mal de Shiba Inu nas suas redes sociais? Caso nunca tenha tentado, faça. E boa sorte lidando com as respostas. O sentimento de fazer parte de algo maior é forte entre os investidores de SHIB.

Shiba Inu e Dogecoin são bons exemplos da natureza do ser humano de encontrar casos de uso envolvendo entretenimento nos lugares mais improváveis, como o mercado financeiro. Ainda que isso custe suas economias.