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Vamos ter novos IPOs em 2023? Entenda se as ofertas de ações estão voltando
Nas últimas semanas, as apostas para um início de ciclo de cortes de juros no Brasil, junto com anúncios de mais ofertas de ações por empresas listadas, trouxeram de volta conversas sobre se a bolsa brasileira pode em breve ver estreias de novas empresas no pregão.
A ansiedade é compreensível.
Afinal, desde dezembro de 2021, ano recorde de captações que terminou com a chegada do Nubank, o mercado de ofertas iniciais de ações (IPOs, na sigla em inglês) no país não tinha um período de ostracismo tão longo em pelo menos duas décadas. Desde então, um recorde negativo: cerca de 100 empresas desistiram de aterrissar na bolsa brasileira.
Para especialistas nesse mercado, porém, ainda que uma ou outra oferta possa acontecer no final deste ano ou no começo de 2024, o investidor não deve esperar uma reabertura mais ampla da janela para ofertas iniciais tão cedo no país.
Entenda os motivos para uma retomada mais tímida
“Não tem pipeline de curto prazo”, afirmou Guilherme Maranhão, vice-presidente de estruturação de mercado de capitais da Anbima, referindo-se à movimentação de empresas interessadas em procurar bancos e advogados para estruturar esse tipo de transações. Anbima é a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais.
A principal explicação para manter as companhias longe da campainha e da chuva de papel picado na B3, cerimônia usada para celebrar a chegada de novas integrantes no pregão é a seguinte: os juros ainda vão ficar altos demais por algum tempo no Brasil e nos Estados Unidos.
Por aqui, mesmo que o Banco Central confirme as projeções de economistas e comece a cortar a Selic, hoje em 13,75% ao ano, a taxa básica de juros não deve cair abaixo de 10% pelo menos até o final de 2024. Esse porcentual foi reforçado, inclusive, pelas projeções do boletim Focus, divulgado pelo Banco Central nesta segunda-feira (5).
Isso significa que os títulos do governo, tidos mais seguros, continuarão pagando dois dígitos ao ano por 18 meses, uma concorrência muito dura para ativos de maior risco, como novas ações.
Situação é semelhante nos Estados Unidos; confira
Nos Estados Unidos, o juro, hoje na faixa de 5% ao ano, atingiu o pico em mais de 20 anos e ainda tem uma chance de subir mais, em meio aos esforços do Federal Reserve para conter a escalada inflacionária pós-pandemia no país. Mesmo que a taxa de juros pare de subir e comece um caminho de volta para baixo, não deve fechar o ano abaixo de 4,5%, segundo as projeções majoritárias do mercado.
A retomada de emissões de papéis de empresas brasileiras vai depender em parte do que acontecer com a economia norte-americana, disse Fernanda Castro, diretora no Bank of America no Brasil, explicando que o apetite global por risco, do qual os EUA são um termômetro, ainda é pequeno com os juros nos níveis atuais.
Então, por que empresas listadas estão fazendo ofertas subsequentes, os follow ons? Neste ano já foram ao mercado Assaí, Dasa, Hapvida e Orizon. A Copel já avisou ter contratado bancos para coordenarem sua possível oferta nos próximos meses, como parte do processo para deixar de ter um acionista controlador, num modelo similar ao da Eletrobras. E a BRF informou ter contratado bancos para coordenar uma possível oferta de ações de cerca de R$ 500 milhões nos próximos meses.
Vendas de ações por parte de empresas já conhecidas dos investidores são normalmente uma antessala para operações de companhias que tentam seu debut.
Para Rodrigo Carvalho, sócio do escritório Winston & Strawn, especializado em mercado de capitais, essas operações refletem de fato alguma melhora no ambiente para algumas operações, como a aprovação pela Câmara dos Deputados de um novo arcabouço fiscal no Brasil e o avanço no Congresso de uma reforma tributária.
Porém, tratam-se de temas já conhecidos do mercado e as operações costumam envolver garantias de compra de um lote significativo dos papéis ofertados por parte de grandes investidores, como é o caso da BRF.
É uma história diferente daquelas que vão testar o mercado pela primeira vez, disse Carvalho. “Companhias com esse perfil costumam esperar que outros nomes maiores se lancem no mercado primeiro e vão depois”, acrescentou ele.
Estratégia é primeiro ficar vivo e depois crescer
Um fator que também tem concorrido para deixar o investidor mais arisco em relação a ativos como ações é a piora acentuada do mercado de dívida corporativa, precipitada em janeiro com o episódio da Americanas que a levou à recuperação judicial e aumentou o escrutínio do mercado sobre o perfil de crédito das companhias.
Isso levou os bancos a ficarem muito mais rigorosos na análise de crédito para empresas, com muitas delas tendo que queimar caixa ou tomar empréstimos mais caros, opções que deterioram seu perfil de dívida. A situação só vem se normalizando recentemente, após empresas terem se adiantado e ampliado a divulgação de informações sobre dívidas, disse Renato Boranga, diretor no Brasil da FTI Consulting.
De forma majoritária, as atenções das empresas estão voltadas para superar o momento mais adverso, muitas enfrentando um horizonte de venda de ativos para pagar dívidas ou reestruturar as existentes, antes de voltarem a pensar em crescimento, tese dominante nas histórias de IPOs.
“Antes das ofertas de ações, devemos ver uma retomada do mercado de dívida”, disse Boranga durante evento sobre captação de empresas brasileiras no exterior, referindo-se a ativos como debêntures e bonds. E a evolução recente nesse sentido não é positiva. Segundo a Anbima, as ofertas de debêntures no Brasil em 2023 até abril somaram R$ 43 bilhões, queda de 41,4% ante mesma etapa do ano passado.
É preciso um tempo de preparação
De todo modo, os executivos citam alguns indicadores positivos, que podem ganhar corpo, quando uma nova janela se abrir. O mercado de ações dos Estados Unidos também tem dado alguns sinais de reabertura, mesmo com os juros do país em ascensão, já que os temores de recessão vão diminuindo.
Segundo a consultoria Stock Analysis, os EUA tiveram 68 IPOs em 2023 até maio, número 41% menor do que na mesma etapa 2022, mas melhor do que nos últimos meses do ano passado.
Por aqui, desde o fim de abril, ao menos seis empresas já pediram na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) o registro de companhia aberta, valendo-se de novidades regulatórias que as permitem ficar numa espécie de antessala, prontas para ir ao mercado quando a janela se abrir. Desse time fazem parte a locadora de veículos VRental; a metalúrgica Alubar; a Agasus, de tecnologia; e a Inspirali, braço da Ânima, que indicou recentemente que este é um primeiro passo para um IPO mais adiante.
Além delas, um dos nomes mais falados pelo mercado é o da elétrica CTG geradora de energia da gigante estatal chinesa China Three Gorges. Incluindo a própria CTG.
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