Por que o Ibovespa subiu quase 3% mesmo após o aumento da Selic para 13,25%?

O Ibovespa fechou esta quinta-feira (30) em alta de quase 3%, um dia após o Banco Central elevar a Selic de 12,25% para 13,25% ao ano.

Por que isso aconteceu se a literatura ensina que juro alto é ruim para as empresas e, por consequência, para investimentos em ações?

Segundo especialistas do mercado, um conjunto de fatores ajuda a explicar esse movimento aparentemente contraditório.

O primeiro tem a ver com o receio de grandes investidores ligado à troca de comando no Banco Central.

Esta foi a primeira reunião sob comando de Gabriel Galípolo. E, assim como ele, quatro dos nove membros da diretoria foram indicações do governo Lula.

Porém, a votação pela alta do juro na véspera foi unânime.

Como Lula foi um crítico feroz do antecessor de Galípolo, Roberto Campos Neto, quando este liderou um ciclo de alta de juros, havia no mercado o temor de que o novo presidente comandasse uma virada na estratégia do BC, passando a ser mais tolerante com a inflação, explicou o presidente da gestora de recursos VG Research, Vicente Guimarães.

Mas não foi isso o que aconteceu. O BC não apenas elevou a Selic como indicou que voltará a fazê-lo em março e que segue vigilante contra a inflação.

Então, embora o juro alto seja de fato negativo para a bolsa (aumenta o custo da dívida das empresas, que ficam com menos dinheiro para pagar dividendos aos acionistas), um componente de incerteza saiu do horizonte.

“Na lógica do mercado, é melhor ter algo ruim, mas previsível, do que algo que parece bom, mas não é durável”, disse Guimarães.

Declarações de Lula também ajudaram Ibovespa

Além disso, declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta quinta também agradaram investidores.

Falando a jornalistas, Lula reforçou o compromisso de seu governo com a estabilidade fiscal, outra fonte de incertezas que criou instabilidade no mercado nos últimos meses.

Seus comentários, aliás, vieram horas antes de o Tesouro Nacional anunciar que o governo fechou 2024 com déficit primário de R$ 11 bilhões, dentro da meta definida para o período.

Com menos incertezas no radar, investidores viram uma oportunidade para comprar ações de boa qualidade.

“A bolsa está com preços mais atrativos, o que pode ter levado a busca de oportunidades de longo prazo em ativos descontados”, disse o analista da Ouro Preto Investimentos, Sidney Lima.

Nessa direção, o Morgan Stanley publicou na semana passada um relatório indicando que as ações brasileiras estão em mínimas históricas.

Adicionalmente, o banco de investimentos acrescentou que os lucros de algumas grandes empresas devem continuar crescendo, mesmo com a economia brasileira em desaceleração.

São os casos, por exemplo, de Bradesco (BBDC4) e Itaú Unibanco (ITUB4), que se destacaram entre as ações de maior alta na B3.

Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4) também deram um forcinha

Por fim, as gigantes Vale (VALE3) e Petrobras (PETR4) também tiveram um dia bastante positivo.

A ação da mineradora deu um salto de quase 5%, na esteira de comentários otimistas de Lula sobre a gestão da companhia.

Goldman Sachs, Bank of America, Itaú BBA, Bradesco BBI e Santander foram alguns dos bancos que avaliaram positivamente os resultados operacionais do quarto trimestre de 2024, que a companhia divulgou na noite de terça-feira.

Enquanto isso, Petrobras avançou na esteira do aumento dos preços do petróleo e em meio a expectativas de anúncio de reajuste dos preços dos combustíveis.