Fundos de investimento valem a pena para o investidor?

Fundos de investimento não apresentam apenas vantagens, cabe ao investidor ponderar sobre o seu melhor uso dentro da sua estratégia de investimentos
Pontos-chave:
  • Fundos de investimento são instrumentos muito populares entre os investidores, mas nem todos são iguais, é preciso saber diferenciar as suas categorias, especialmente os fundos passivos dos ativos;
  • Os fundos ativos possuem vantagens e desvantagens e não é possível afirmar de forma inequívoca se são adequados ou não ao caso particular do investidor;
  • Cabe ao investidor ponderar sobre essas vantagens e desvantagens especificamente para a sua situação, seu perfil, a diversificação da sua carteira e seus objetivos em longo prazo e assim utilizar ou não os fundos de investimento

A ideia por trás dos fundos de investimento é ao mesmo tempo simples e genial. Este instrumento permite que uma grande quantidade de investidores “terceirizem” a gestão de suas carteiras para profissionais a um custo geralmente baixo e acessível. Uma metáfora muito utilizada para explicar isso é a do condomínio.

No condomínio de casas ou apartamentos o conceito é permitir que haja uma gestão profissional, do síndico, além de confortos compartilhados como piscina, equipe de manutenção de áreas comuns e jardins, academia, entre outros. Enfim, por uma taxa de condomínio, em geral de valor acessível aos moradores, é possível desfrutar de uma série de benefícios de infraestrutura e lazer. Tudo isso sem precisar se preocupar com a complexidade da gestão, a qual é entregue a um profissional capacitado.

Os fundos de investimento, na metáfora, são considerados condomínios de investidores. Da mesma forma que um condomínio possui um síndico, os fundos possuem um gestor profissional que conta com uma equipe especializada para definir e executar a estratégia de investimento, bem como cuidar de toda a parte legal, de tributos e operacional.

Os investidores nos fundos podem se beneficiar de toda a infraestrutura, ganhos de escala, equipe profissional e gestor qualificado por uma taxa de administração, em geral acessível. E, dependendo do tipo do fundo de investimento, mais uma taxa de performance. Esta última só é cobrada quando o fundo vai muito bem, superando uma determinada meta (também conhecida como benchmarking) previamente estabelecido.

As vantagens dos fundos enquanto veículo de investimento são realmente interessantes.

Não por acaso são muito populares no mundo todo, movimentando trilhões de dólares por ano. Contudo há algumas reflexões que os investidores devem fazer antes de embarcar nesta jornada. A primeira é que nem todos os fundos de investimento são iguais, o investidor deve ter clareza de qual tipo ele está analisando.

Tipos de fundos de investimento

Há diversas classificações utilizadas para fundos, mas para fins de análise começamos dividindo-os em duas grandes categorias:

  • fundos passivos;
  • fundos ativos.

Os fundos passivos são aqueles que procuram replicar o desempenho de um índice (benchmarking). Eles têm por objetivo serem um instrumento de acesso fácil e barato para o investidor.

Na atualidade, cada vez mais são estruturados na forma de fundos que vendem ações em bolsa, conhecidos como ETFs (Exchange Traded Funds), para facilitar ainda mais o acesso dos investidores. Deixaremos a discussão sobre os fundos passivos para outra coluna.

Nesta, discutiremos sobre os fundos ativos.

Os fundos ativos, por sua vez, têm por objetivo superar os índices de referência. Assim, por exemplo, usualmente os fundos de ações visam superar o Ibovespa e os fundos multimercado o CDI. Para tanto contratam equipes de análise, adotam estratégias conforme as perspectivas de mercado e da economia e são geridos de forma ativa, com o próprio nome sugere.

Os principais fundos ativos no Brasil são justamente os de ações e os multimercados, os quais podem investir em praticamente todas as principais classes de ativos. Mas vale a pena para o investidor aderir a um fundo ativo? A resposta não é simples, depende de um conjunto de fatores ligados a suas vantagens e desvantagens que devem ser ponderadas pelo investidor no seu caso particular.

Vantagens e Desvantagens dos Fundos Ativos

O investidor deve sempre pensar em termos relativos, as assimetrias positivas que um veículo de investimento pode oferecer e as vantagens e desvantagens para o seu caso específico. A seguir vamos listar três vantagens gerais que um fundo ativo permite aos seus cotistas:

  1. O investidor não precisa se preocupar com as constantes mudanças de cenários econômico para reavaliar seus ativos, isso já feito pela equipe do fundo, seja com as ações ou com diversos mercados;
  2. Os cotistas não precisam conhecer as características mais específicas dos ativos no qual o fundo investe e nem se atualizar constantemente sobre mudanças na legislação tributária, regras de regulação e demais detalhes inerentes ao investimento;
  3. Permitem acesso simples a ativos de investimento mais complexo, como criptomoedas, derivativos, mercados no exterior que demandariam custos e dificuldades operacionais como garantias, depósitos e pagamentos de margens nos derivativos e wallets e segurança nos criptoativos.

Contudo, nem tudo são flores e vantagens para os fundos de investimento. O próprio Peter Lynch, um dos mais bem-sucedidos gestores de fundos de todos os tempos, reconhecia que em diversos momentos o investidor individual estava em vantagem frente ao gestor de fundo de investimento, por diversos motivos, sendo os principais:

  1. A grande maioria dos fundos ativos não consegue vencer o mercado, ou seja, superar os seus benchmarkings de forma consistente em longo prazo. Na verdade, em períodos realmente longos, como décadas, são tão poucos vencedores que acabam virando lendas do mercado como Warren Buffett, George Soros, Peter Lynch, Ray Dalio entre outros poucos;
  2. Nos momentos de crises, nos quais, em geral, acontecem as melhores oportunidades de comprar bons ativos a preços muito baixos, os gestores de fundos são obrigados a vende-los e não comprá-los como gostariam. Isto ocorre pois a maioria dos cotistas entra no “efeito manada” e resgata suas cotas com prejuízo, obrigando o gestor a vender seus ativos a preços baixos para fazer frente aos saques. O investidor individual pode se aproveitar da situação e adquirir estes ativos a preços muito interessantes.
  3. Os fundos de investimento pelo seu volume de recursos algumas vezes precisam ficar de fora de investimentos com excelente potencial pela falta de liquidez de mercado destes investimentos. Caso o fundo investisse, mesmo um valor pequeno para seu portfólio, distorceria o valor do ativo, fazendo-o subir fortemente e anulando o seu ganho potencial.

Assim os fundos ficam mais restritos aos ativos de maior liquidez, o que não ocorre com o investidor individual que pode se aproveitar para comprar estes ativos de menor liquidez enquanto ainda estão bem mais baratos.

O que fazer então?

Não há uma resposta inequívoca em termos de como utilizar (ou não) os fundos de investimento como veículos para os investidores. Cada investidor deve ponderar, no seu caso particular, as vantagens e desvantagens e muitas vezes a resposta é uma estratégia híbrida, ou seja, usará os fundos em algumas situações e não em outras.         

De qualquer forma, usando ou não os fundos, é necessário que o investidor estabeleça sua estratégia de investimentos em longo prazo, considerando seu perfil, a diversificação da sua carteira e os seus objetivos: isto é inteligência financeira.