Entre volantes, inflação e o fantasma da estagflação

Quem assiste Taxi Driver, clássico de 1976 com Robert De Niro e Jodie Foster, não imagina que os EUA estavam entrando num dos momentos econômicos mais desafiadores da sua história

Quem assiste Taxi Driver, aquele clássico de 1976 com Robert De Niro e uma jovem Jodie Foster, mal imagina a Nova York que o filme retrata — suja, sombria e quase decadente.

As ruas pareciam um cenário de pós-guerra urbana, onde a violência era tão comum quanto as buzinas dos táxis amarelos.

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    E falando em táxis, você reparou no tamanho daqueles carros? Eram verdadeiros transatlânticos sobre rodas, com capôs intermináveis e motores que deviam beber gasolina como se fosse água.

    Era o auge dos sedans V8, com bancos largos como sofás de sala. O galão da gasolina que chegou a custar centavos, estava cada vez mais caro. O mundo ainda não sabia, mas os Estados Unidos estavam entrando num dos momentos econômicos mais desafiadores da sua história: a estagflação.

    Estagflação — palavra feia, quase dissonante — mistura duas coisas que não deveriam andar juntas: inflação alta e economia parada. Nos livros de economia, é um pesadelo. Na vida real, foi pior.

    Tudo começou com os choques do petróleo. Primeiro em 1973, depois em 1979, quando a Revolução Iraniana chacoalhou o mundo árabe. O preço do barril disparou, e aqueles carros enormes de Nova York passaram a custar caro para rodar. Subiu o preço da gasolina, da comida, da vida. E o pior: enquanto tudo encarecia, a economia não crescia. Ao contrário, o desemprego subia.

    O governo de Jimmy Carter tentou de tudo — tabelar preços, imprimir dinheiro — e só piorou. Foi aí que entrou em cena um sujeito grandalhão, sério e careca: Paul Volcker, presidente do Federal Reserve. Volcker fez o que precisava ser feito, mas ninguém teve coragem antes: jogou os juros lá na estratosfera, acima de 20%, e mandou a inflação para a lona. Doeu? Muito. Dois anos de recessão, mas funcionou.

    Em paralelo, estava Ronald Reagan, com seu carisma de ator e discurso de otimismo. Cortou impostos, liberou a economia e ajudou a enterrar a estagflação, abrindo caminho para um dos ciclos de crescimento mais longos da história americana.

    Mas como todo bom fantasma, a estagflação de vez em quando volta a rondar os becos escuros da economia mundial. E agora, em 2025, o que tira o sono de muita gente é o choque de tarifas de Donald Trump. A ideia de sobretaxar importações — da China, da Europa, de quem for — acende o sinal amarelo.

    A lógica é simples: tarifas tornam tudo mais caro. Sobem os preços dos insumos, dos produtos nas prateleiras. Ao mesmo tempo, o risco é esfriar a economia, já que os custos sobem e o consumo retrai. Receita perfeita para… adivinha? Estagflação.

    Mas antes que alguém saia correndo para vender tudo e estocar feijão, calma. A economia americana hoje está forte.

    O mercado de trabalho vai bem, o consumo se mantém, e mesmo que venha uma desaceleração, tudo indica que será leve, não aquela batida feia de frente que vimos nos anos 70. É difícil pensar em recessão.

    No fim das contas, a história nos ensina que crises vêm e vão, mas o mundo segue. E cá entre nós, ainda bem que pelo menos os carros mundo afora diminuíram de tamanho. Imagina o custo de abastecer um daqueles tanques de guerra amarelos e beberrões do Taxi Driver?

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