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Tesouro Direto: como perspectiva de recessão nos EUA já afeta rendimentos dos títulos aqui
O payroll – relatório de emprego dos EUA – divulgado na sexta-feira causou uma reação em cadeia nos mercados globais relacionadas a um aumento da aversão a risco. Com isso, a alta volatilidade atingiu também os títulos do Tesouro Direto no Brasil, que tiveram suas negociações suspensas na manhã desta segunda-feira (5), com exceção do Tesouro Selic, que seguiu sendo negociado.
De acordo com Lucas Queiroz, estrategista de Renda Fixa para Pessoa Física do Itaú BBA, “a possiblidade de que a maior economia global esteja indo em direção a uma recessão é fator que aumenta a aversão a risco e pode comprometer o fluxo para países emergentes”.
Assim, há um movimento contraditório no mercado. “Se a gente olhar para as treasuries (títulos emitidos pelo governo dos EUA), este momento – de queda – seria positivo para os títulos do Tesouro Direto no Brasil porque abriria espaço para um retorno maior no mercado secundário”, diz Fabrício Silvestre, analista de Renda Fixa da Levante.
Contudo, o quem tem movimentado o fluxo de capitais é o temor de uma eventual recessão nos EUA se espalhe. Isso tem superado a ideia de tentar aumentar ganhos em economias emergentes.
Assim, pode haver penalização para os títulos do Tesouro Direto. “Não acho que o cenário seja muito favorável para os títulos de renda fixa no Brasil. Falo principalmente em prefixado e nos híbridos, indexados à inflação”, diz Silvestre.
Prêmio de 7% para Brasil nos juros futuros
Já para outros analistas, o Tesouro Direto fica mais atraente neste momento. A percepção é de Marcos Moreira, sócio da WMS Capital. Ele diz que, ainda que haja pontos de atenção no cenário local, o patamar atual de prêmio entre os títulos brasileiros e americanos oferecem boas oportunidades para ganhos aqui, no Brasil.
“Quando analisamos o vértice [das taxas de juros futuros] intermediário, como de 10 anos, e as diferenças entre Estados Unidos e Brasil, estamos falando de algo perto de 7%. Então, tem prêmio considerável na mesa. O prêmio de Risco-Brasil neutro é algo perto de 5%”, avalia Moreira.
Além disso, ele ressalta que a tendência de queda acelerada dos juros futuros nos EUA pode aumentar o prêmio por aqui.
Tesouro Direto prefixado ou pós-fixado para este momento?
Pode haver um ganho de atratividade nos prefixados agora, “dado que estavam bem estressados, pagando 13% a 14% ao ano”, diz Victor Furtado, head de Alocação na W1.
Ainda assim, a perspectiva é de que os pós-fixados se mantenham mais atrativos segundo a maior parte dos analistas consultados pela Inteligência Financeira.
Silvestre, da Levante, diz que, nos últimos dois meses, a atratividade dos títulos pós-fixados já estava crescendo em relação aos prefixados. “Mais especificamente por conta da dinâmica doméstica”, diz o analista. Ele menciona “os desafios fiscais no Brasil”.
Agora, com o temor de uma recessão nos EUA se espalhando, as condições estão ainda mais favoráveis aos pós-fixados. “O que a gente prefere são os pós-fixados, até para ter tempo de entender o que está acontecendo. Se a gente tem incerteza do momento, então é melhor deixar alocado em pós-fixados”, avalia Silvestre.
A WMS Capital tem alocação “um pouco maior em ativos pós-fixado” e vê “oportunidades pontuais em prefixados”, segundo Moreira.
Para Jaqueline Kist, especialista em mercado de capitais e sócia da Matriz Capital, o mais interessante agora pode ser utilizar os títulos do Tesouro como reserva de oportunidade.
Nesse sentido, o pós-fixado é o mais indicado.
“[Essa modalidade] ainda parte da base de rentabilidade acima de 10% ao ano e, dependendo da magnitude da correção, novas oportunidades de compra podem aparecer no cenário global”, acrescenta Jaqueline.
Saída antecipada da renda fixa brasileira?
Furtado, da W1, diz que ainda precisa “haver um tempo maior para saída antecipada com lucro” dos títulos públicos e privados brasileiros. “Por mais que tenha havido queda na taxa de juros futuros, ela foi mais comedida, levando em conta os problemas fiscais por aqui”.
“Para quem está investindo na renda fixa brasileira, talvez haja momento muito mais oportuno do que o atual, dado que não houve queda tão brusca na curva [de juros futuros]”, acrescenta.
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