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Repercussão do PIB: consumo das famílias e agro forte impulsionaram resultado, dizem analistas
A alta de 0,9% do PIB no segundo trimestre em relação aos três primeiros meses de 2023 foi interpretada como surpreendente pelo mercado. Nesse sentido, especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira destacam que a força do agronegócio, que caiu pouco, e o crescimento do consumo das famílias foram alguns dos fatores mais relevantes para a alta surpreendente.
Com relação ao agro, houve queda de 0,9% no trimestre. Ainda assim, o resultado foi interpretado como consistente, tendo em vista que a alta no primeiro trimestre foi de 21%.
Porém, os setores que garantiram números positivos ao PIB foram indústria e serviços, impulsionados pelo aumento do consumo das famílias, que aumentou 0,9% no segundo trimestre.
A alta relacionada ao consumo das famílias foi ainda mais pujante, levando em conta que houve uma correção para cima desse indicador no primeiro trimestre. Antes, o IBGE havia apontado alta de 0,3%, mas corrigiu para 0,7%.
Itaú BBA: PIB ex-agro também surpreende
O Itáu BBA apontou que o PIB sem a inclusão do agro também “surpreendeu positivamente”, acelerando para 1,0% na variação trimestral no segundo trimestre.
“A resiliência do mercado de trabalho e o estímulo fiscal impulsionaram o crescimento do
período. Com esse resultado, a nossa projeção para o PIB deste ano (agora em 2,5%) deve ser revisada para cima”, afirmam Natalia Cotarelli e Matheus Fuck, economistas do Itaú BBA, que assinam o relatório.
Armor: alta do consumo mostra resiliência
Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital, classificou o dado como “surpresa muito grande”, tendo em vista que a projeção da Armor era de 0,3%.
Ela destacou a resiliência do agro como um dos pontos de destaque no crescimento acima do projetado, caindo 0,9% depois de um ganho extraordinário no primeiro trimestre.
“A gente esperava queda forte, de 7% na margem no segundo trimestre contra o primeiro, e, na verdade, não aconteceu. Essa queda muito menor ajuda a explicar nossa surpresa”, diz.
Além disso, ela chama a atenção para o consumo das famílias. Apesar do efeito de medidas do governo, especialmente, relacionadas às vendas de automóveis, com incentivo fiscal, ela avalia que a alta pode ser resultado de uma “atividade mais robusta” e não apenas relacionada a iniciativas pontuais.
“Chama a atenção alta do consumo na relação com o primeiro trimestre, que tinha ficado em 0,3% e foi revisado para cima, para 0,7%. Então, a gente entende que tem um componente atípico, mas vislumbramos também resiliência do consumo”, reforça.
“Dados do PIB seguem robustos”, diz Perfeito
Para o economista André Perfeito, “os dados do PIB seguem robustos” e a alta força revisão da projeção de PIB para 2023 de 2,5% para 3%, na percepção do economista.
Ele também destaca o consumo das famílias como uma das boas notícias. “Esse impulso sem dúvida é decorrente da elevação do Rendimento Médio Real Habitual, que vem subindo por conta da inflação sob controle e de medidas mais ligadas ao aumento da demanda por parte da administração federal”, avalia.
Perfeito avalia que o impulso no consumo das famílias ainda será sentido nos próximos trimestres. Ele diz que os dados recentes da PNAD, que apontou recorde na massa salarial, apontam nessa direção.
Ativa: investimentos ainda estão deprimidos
“Em linhas gerais o número traz otimismo por si, mas está ainda longe de denotar um crescimento estruturalmente robusto da economia, visto que teve impulso altamente associado a itens básicos, enquanto os investimentos seguem deprimidos”, avaliam Guilherme Sousa e Étore Sanchez, economistas da Ativa.
Com isso, a Ativa revisa suas projeções para o PIB de 2,2% para 2,7%, principalmente por conta da “resiliência do setor agropecuário”. Segundo os economistas, a queda de 0,9% do agro “ironicamente, reforça a força do setor, pois no primeiro trimestre a agropecuária havia avançado surpreendentes +21,6%”.
Ainda assim, há ressalvas por parte dos economistas da Ativa, principalmente relacionadas a um eventual sobreaquecimento da atividade, que poderia causar repiques inflacionários.
Austin: segundo semestre “será um pouco melhor”
Para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, “as expectativas foram superadas, isso reforça a nossa projeção, de que o PIB pode crescer algo em torno de 2,4% ou até mais”, diz.
A abertura para uma taxa ainda mais alta de crescimento é justificada pela expectativa de um segundo semestre mais positivo. “O cenário interno será um pouco melhor com a aprovação de medias importantes como o arcabouço fiscal e o começo do ajuste relacionado ao início da reforma tributária”, acrescenta.
Outro ponto que pode impulsionar a economia, segundo Agostini, é o estímulo da desoneração de pelo menos 17 setores, o que ajuda a manter o mercado de trabalho fortalecido. Além disso, ele destaca a queda da taxa de juros e o programa Desenrola, que devem facilitar o acesso ao crédito.
Mas, há também pontos de atenção, relacionados principalmente ao exterior. “A gente precisa avaliar as condições de EUA, Europa e China. O risco de recessão no Hemisfério Norte está diminuindo, mas precisa ser acompanhado de perto”, alerta.
Juros e renda variável
Perfeito avalia que “não vai demorar para o mercado e parte do colegiado do BCB começarem a dar mais peso aos aspectos da atividade que limitam a queda dos juros”. Ele vislumbra patamar de 10,75% da Selic até o final do ano.
Assim, a atividade econômica pode ser impulsionada pelos investimentos que, segundo ele, ainda não andaram por conta da manutenção dos juros em patamares elevados durante a maior parte do primeiro semestre.
Nesse sentido, a renda variável deve ser favorecida, segundo Perfeito, “à medida que a elevação do PIB se concretizar nos balanços das empresas listadas”. Com isso, de haver “uma alta das ações ligadas, principalmente, ao mercado doméstico. Isso deve ocorrer no terceiro trimestre”, acrescenta.
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