Primeiro aniversário do Plano Real foi momento de reflexão e não de festa para FHC

Inteligência Financeira teve acesso a documento que trata do pronunciamento do então presidente por ocasião do aniversário do Real

Fernando Henrique Cardoso, então ministro da Fazenda, posa com as imagens das cédulas do Plano Real. Foto: Getúlio Gurgel / Acervo Instituto FHC
Fernando Henrique Cardoso, então ministro da Fazenda, posa com as imagens das cédulas do Plano Real. Foto: Getúlio Gurgel / Acervo Instituto FHC

O Plano Real acabara de completar um ano. E, ao contrário do que muita gente pode imaginar, o recém-eleito presidente Fernando Henrique Cardoso não adotou postura de celebração. Ele foi contido. E buscou olhar mais para os desafios adiante em vez de celebrar as conquistas obtidas desde que a nova moeda entrou em circulação.

Assim, a Inteligência Financeira obteve da Fundação Fernando Henrique Cardoso a íntegra do pronunciamento de rádio de FHC por ocasião do primeiro aniversário da moeda e do plano econômico. O documento de seis páginas tem carimbo da presidência da República e embargo estipulado até as 20h de 29 de junho de 1995.

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“Neste sábado, o Real faz um ano. Este deve ser um momento de reflexão. Não de festa. Porque ainda temos muito que fazer. Mas também não podemos deixar de reconhecer que nestes 12 meses o Brasil mudou”, afirma o pronunciamento lido pelo presidente.

Trecho do pronunciamento de FHC em rede de rádio. Imagem: Fundação FHC

O tom do pronunciamento de rádio

Assim, o pronunciamento segue em tom sóbrio. FHC lembra da desconfiança inicial com o plano econômico, defende a força da nova moeda diante da crise do México, afirma que os preços se estabilizaram e que os salários “ganharam duas vezes”. Na sequência, diz: “Tudo isso não é mais promessa. É uma realidade que todos nós conquistamos”.

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Na sequência, como esperado, Fernando Henrique lembra das cinco prioridades do seu governo, explicitadas na campanha presidencial de um ano antes: emprego, saúde, educação, agricultura e segurança. E indica que a inflação de janeiro a junho de 1995 foi de dez por cento. “Dez por cento era a inflação de uma semana, você se lembra?”

Dessa maneira, o principal comunicador do Plano Real faz sua defesa intransigente do plano econômico, postura semelhante foi adotada por ele no papel de garoto propaganda do Real junto aos brasileiros.

Vale lembrar que enquanto ministro da Fazenda de Itamar ele foi até no Programa Silvio Santos para explicar a até então inédita URV. A Unidade Real de Valor foi uma espécie de moeda paralela que vigorou no país antes da efetiva implementação da nova moeda, a que completava um ano.

É preciso vigiar os preços

Reforçando o tom de vigilância e de não celebração diante de tantos desafios que se colocavam à frente, FHC faz um apelo para a população. Era preciso estar atento aos preços e a eventuais aumentos abusivos. “O governo está cumprindo a sua parte e você pode ajudar muito. É preciso vigiar os preços. Principalmente dos serviços – do eletricista, do mecânico, do médico… Nesta área estão ocorrendo muitos abusos. Eu quero repetir mais uma vez um apelo: compre só o necessário, faça pesquisa de preços, pechinche, evite os crediários, denuncie os abusos”.

Neste ponto, é nítido que a preocupação estava no retrovisor.

Planos anteriores haviam se esfacelado justamente por não darem conta da demanda que se aqueceu e do descontrole dos preços após os famosos congelamentos, prática não adota pela equipe econômica no Real. Mas o fantasma estava presente na sala, sobretudo o bode do Plano Cruzado de José Sarney.

Em seguida FHC admite que os preços precisam cair ainda mais, assim como as taxas de juros em vigência. No fim, o presidente resume. O país estava apenas iniciando uma caminhada, que ainda seria muito tortuosa, para debelar a hiperinflação.

“Precisamos continuar confiando porque estamos no caminho certo para melhorar o Brasil e a vida dos brasileiros”.

Um contexto sobre o momento do Plano Real

Para entender melhor o momento desta fala do então presidente, a Inteligência Financeira entrevistou Sergio Fausto, cientista político e diretor-geral da Fundação FHC. Para ele, o contexto da época, que dá o tom de olhar para frente e não exatamente celebrar as conquistas de até então, ocorre por alguns motivos.

A batalha da desindexação, por exemplo, ainda não estava ganha, analisa Fausto. Havia o desafio de limitar no Congresso, também, a política de reajuste do salário mínimo. E isso era fundamental pensando na famosa âncora cambial.

“Não tinha nada consolidado”, afirma.

Diante do tom do pronunciamento e da análise do cientista político, uma pergunta é quase inevitável. FHC teve, tinha ou chegou a ter certeza do sucesso do Plano Real?

Fausto diz que FHC nunca teve esse sentimento, de que tudo deu ou daria certo.

Claro, o ex-presidente tinha momentos de confiança, mas como intelectual, segundo Fausto, não se furtava de ser realista. Mas de acordo com Fausto, houve um momento em que Fernando Henrique entendeu que o processo estava, ao menos, consolidado.

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Foi quando Luiz Inácio Lula da Silva assumiu como presidente, em 2002, e manteve a essência do plano econômico criado por tantos e também por ele.

A democracia tinha vencido.

E o Plano Real também.

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