Meta de inflação volta a dominar reunião do BC com economistas de mercado

Novamente as discussões em torno de uma possível alteração nas metas de inflação foram o principal tema discutido por economistas de mercado em reunião com diretores do Banco Central hoje, no Rio de Janeiro

Novamente as discussões em torno de uma possível alteração nas metas de inflação foram o principal tema discutido por economistas de mercado em reunião com diretores do Banco Central hoje, no Rio de Janeiro. Entre os participantes do encontro, foi formado um consenso de que o debate em torno de um aumento no nível das metas de inflação é ruim, especialmente neste momento. Houve alguma divisão, porém, em relação às perspectivas dos analistas sobre os rumos da política fiscal.

“A questão fiscal foi bem importante. Há um pessimismo geral em relação ao impacto do fiscal em cima da convergência da inflação para a meta, o que é potencializado pela discussão sobre a mudança de meta. A visão mais consensual foi bastante crítica em relação a esse fator, com o apontamento de que há um potencial de desancoragem das expectativas, o que jogaria a inflação para cima”, afirma um economista que esteve presente no encontro.

De acordo com os relatos feitos ao Valor, alguns participantes que expuseram seus cenários disseram achar que o governo deveria dar alguma visibilidade em relação ao arcabouço fiscal, o que poderia descomprimir o cenário e gerar alívio à frente. Algumas pessoas, inclusive, se mostraram mais preocupadas de que a probabilidade de se fazer algo relevante para mudar o cenário fiscal é “muito baixa”. Houve, quem adotasse um tom um pouco mais otimista. “Algumas pessoas estão com esperança de se ter algo mais positivo no arcabouço fiscal, mas é consensual que isso representa um risco, que tem impacto nas expectativas.”

Em relação à inflação corrente, algumas pessoas mostraram visão mais benigna com os números recentes e com o processo de desinflação, enquanto outros economistas mantiveram um tom mais cauteloso. Houve comentários, ainda, de que se os ruídos políticos e a piora na percepção de risco fiscal não estivessem sobre a mesa, o Banco Central poderia estar em um momento de começar a avaliar a possibilidade de redução da taxa básica de juros.

Em relação à atividade econômica, as expectativas de crescimento ficaram entre zero e 1% para este ano. Algumas casas mais otimistas apontaram o forte desempenho da agropecuária, enquanto as mais cautelosas apontaram preocupação com o canal do crédito.

Um dos economistas presentes no evento classificou as discussões como técnicas e que, em geral, os profissionais exibiram exercícios que embasaram as falas sobre o que ocorreria com as expectativas de inflação caso as metas fossem alteradas. Segundo essa pessoa, para quase todos os participantes da reunião uma alteração das metas de inflação diminuiria o espaço para cortes de juros.

“Outra surpresa foi a de que não houve discussão sobre o conteúdo da entrevista de Roberto Campos Neto ao Roda Viva, realizada na véspera. As discussões acabaram ficando bastante restritas aos cenários de cada profissional”, disse o economista.

Para outro presente na reunião, o consenso dos participantes avaliou a pressão política do governo ao Banco Central como equivocada. “Discutir a meta pode até ser feito, mas o timing é totalmente errado. A leitura de quem estava ali também é a de que não adianta mudar a meta de 3% para 3,5%. A percepção geral é a de que, enquanto você não agradar o mundo político, não vai fazer a menor diferença”, disse.

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