Para quem desconfia que o fluxo estrangeiro para o Brasil pode minguar com o início do aperto monetário nos Estados Unidos, o Bank of America mostra que, em ciclos anteriores de alta de juros pelo Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, o mercado de ações brasileiro apresentou bom desempenho. Em relatório a clientes, o time de pesquisa mostra que, em termos quantitativos, o ajuste não necessariamente significa retornos mais baixos para as bolsas de economias emergentes.
“Os países e setores de commodities tendem a se sair bem no primeiro ano de alta do Fed”, diz o BofA, citando análise do estrategista de mercados emergentes, já que alguns mercados como Índia, Brasil, Rússia, Chile e África do Sul tiveram boa performance nesses períodos. “Nos ciclos anteriores, os preços do petróleo e do minério de ferro subiram, o que é positivo para o índice de ações do Brasil em particular.”
No primeiro ano dos últimos três ciclos de alta do Fed (jun/99, jun/04 e dez/15), o retorno total do Ibovespa foi de 34%, na média, em reais. Mas as commodities não foram os únicos fatores positivos. Retirando ações dos setores de energia e materiais básicos do índice (que historicamente representam cerca de 40%), o retorno total do Ibovespa em reais foi de 23%, na média. Mesmo tirando o segmento financeiro, outro de peso no principal referencial da bolsa brasileira, o índice subiu 13%, na média, nos períodos de aumento de taxas de juros nos EUA.
A valorização do câmbio também ajudou o desempenho do Ibovespa em dólares. No primeiro ano dos últimos três ciclos de alta do Fed, o real se valorizou 18%, em média. Como resultado, os retornos totais do Ibovespa na moeda americana foram mais fortes do que em reais, com valorização de 57% no primeiro ano de aumentos de juros pelo Fed, em média.
Excluindo-se commodities e energia, os retornos totais do índice em dólar foram de 44%, em média, e tirando também as ações do setor financeiro, os retornos totais foram de 32%.
Altas passadas do Fed coincidiram com o pico da Selic, nota o time do BofA, e hoje o Brasil está à frente no processo de correção monetária. O banco americano estima uma taxa final em 13,25% ao ano até junho.
Com a Selic em dois dígitos, as pessoas físicas no Brasil continuam saindo de ações para renda fixa, destaca o banco americano. Os fundos de ações locais tiveram 25 semanas de saídas desde o último pico em setembro.
O forte desempenho do Brasil no acumulado do ano foi impulsionado por estrangeiros, com R$ 75 bilhões de entradas no acumulado do ano no mercado à vista. E nesta semana os fundos estrangeiros dedicados ao Brasil tiveram as maiores captações líquidas desde outubro do ano passado, com quase US$ 300 milhões, impulsionadas pelo fluxo em dois ETFs (fundos de índice).
Enquanto isso, os fundos de mercados emergentes registraram entradas de US$ 3,1 bilhões esta semana e de US$ 37 bilhões no acumulado do ano.
Com Valor Pro, serviço de informação em tempo real do Valor Econômico.