IPCA de setembro abaixo do esperado x guerra em Israel: o que esperar agora da próxima decisão do Copom?

Especialistas do mercado avaliam as chances de o ciclo de cortes da taxa Selic ser acelerado ainda em 2023

Bomba de abastecimento em posto de combustíveis. Foto: Adriano Machado/Reuters
Bomba de abastecimento em posto de combustíveis. Foto: Adriano Machado/Reuters

Os números da inflação no Brasil em setembro vieram melhores do que as projeções dos agentes financeiros. Enquanto a expectativa geral do mercado era de uma alta de 0,32%, o IPCA no mês ficou em 0,26%. Já a taxa acumulada em 12 meses avançou a 5,19% contra 5,25% das estimativas.

Na avaliação dos especialistas consultados pela Inteligência Financeira, a inflação atingiu em setembro seu novo pico desde fevereiro, quando bateu 5,60%. Ou seja, a tendência agora é de desaceleração nos últimos três meses do ano.

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Assim, diante da retomada do processo desinflacionário, renova-se a discussão se o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) pode acelerar os cortes da taxa Selic ainda em 2023.

Vale lembrar que o Copom começou a reduzir os juros em agosto e baixou novamente em setembro, em 0,50 ponto percentual nas duas ocasiões. Nos comunicados e atas dos encontros, o colegiado indicou e reiterou que esse é o ritmo apropriado para levar a inflação à meta, que em 2023 é de 3,25% e que passará a ser de 3% a partir de 2024.

IPCA agora muda rumo dos juros?

Os comentários gerais sinalizam que o Copom não deve alterar o plano nas últimas duas reuniões do ano. “Com os dados melhores, o mercado volta suas atenções para os componentes que indicam o que o Banco Central tem chamado de uma segunda etapa de desinflação. Neste sentido, os núcleos desacelerando são um bom sinal para a condução da política monetária em diante”, avalia Luca Mercadante, economista da Rio Bravo.

“Serviços, ainda pressionados por passagens aéreas e serviços intensivos em trabalho, voltam a acelerar, o que ainda deve indicar cautela por parte do Copom. Assim, não esperamos mudanças na condução da política monetária, com a taxa Selic encerrando 2023 a 11,75%. Mesmo sem mudanças de perspectiva, o dado foi bom, e a melhora na difusão também reforça a ideia de que a desinflação é lenta, mas está ocorrendo”, acrescenta Mercadante.

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“A despeito de serviços terem acelerado no mês, os demais itens que compõem o índice mostraram um qualitativo benigno, com difusão muito baixa e as diversas medidas de núcleos bem-comportadas”, observa João Savignon, head de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital.

“Chamamos a atenção para o movimento de alimentos e bens industriais, que seguem com uma dinâmica bastante favorável. Assim, as aberturas do dado de setembro reforçam a dinâmica recente da inflação no país e o plano de voo do Banco Central no ciclo de cortes de juros”, considera Savignon.

O economista André Perfeito também bate na tecla de que os dados qualitativos da inflação de setembro mostraram melhoras. “A dispersão caiu e os núcleos também retrocederam. O resultado é muito bom e reitera uma visão mais benigna da política monetária que deve continuar com cortes de 0,50 ponto percentual levando a Selic para 11,75% ao final do ano”, aponta.

“O mercado deve manter as projeções de juros em 9% ao final do ciclo e se isto realmente se confirmar devemos ter um PIB mais forte em 2024. Atualmente, projetamos PIB em 2% para o ano que vem, mas as chances hoje são maiores para 3%”, prossegue.

Ademais, Perfeito acredita que o Brasil pode entrar em um momento de euforia. Ele cita “a conjunção de inflação sob controle, juros em queda, atividade ganhando força (massa salarial em alta)”. “E o fato de ser uma economia ‘longe’ dos problemas geopolíticos atuais. Esta é uma situação inédita no sentido de certo deslocamento da dinâmica global, mas é uma hipótese que devemos considerar”, afirma.

Conflito Israel-Hamas no caminho

Por fim, na visão dos analistas, outro fator que deve pesar para o Copom não acelerar o ritmo de cortes é o conflito entre Israel e Hamas. Isso porque existe o risco de uma escalada do confronto, com um potencial envolvimento de países produtores de petróleo, como Irã e Arábia Saudita.

“Para o próximo mês, os combustíveis devem continuar dando o tom do IPCA. Como o petróleo voltou a subir por conta da guerra, pode haver novos reajustes nos preços da gasolina e do diesel pela Petrobras”, comenta Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital.

“Com a inflação mostrando arrefecimento, esperamos que o Copom siga com cortes de 0,50 ponto nas próximas reuniões e esse patamar de baixas não deve aumentar por enquanto devido à incerteza global”, sustenta.

Roberto Padovani, economista-chefe do BV, espera que a guerra vai ter impacto muito limitado não só em preços de petróleo, mas em preços de ativos de um modo geral. “Isso acaba não mudando muito o cenário. É um ambiente ruidoso, traz um pouco de volatilidade no curto prazo, mas pensando na estratégia do Banco Central não afeta muito, até porque o BC tem muita gordura em termos de juros reais. Acho que ele ainda pode cortar muito juros que não vai afetar muito, mas reforça a estratégia de (cortes de) 0,50 ponto”, completa.

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