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Inflação: analistas apontam ‘sinais positivos’ no IPCA e chance maior de queda de juros
O IPCA registrou uma alta de 0,71% em março, abaixo dos 0,84% de fevereiro. Nos últimos 12 meses, o índice acumula alta de 4,65%, abaixo dos 5,60% registrados no segundo mês de 2023.
A variação positiva no mês é explicada, principalmente, pelo grupo Transportes – a maior variação e maior impacto no mês –, puxado pelo aumento de 8,33% nos preços da gasolina, subitem com maior impacto individual no IPCA de março (0,39 p.p.).
Por isso, analistas veem alguns sinais positivos para a queda da inflação , o que pode impactar a política de juros, um dos grandes debates enfrentados pelo governo nos 100 primeiros dias de mandato.
Para Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, a inflação “veio dentro do esperado e deu alguns sinais positivos”. Ele destaca que “os preços da gasolina subiram no mês por conta da volta dos impostos (Pis/Cofins) sobre o combustível anunciados no dia 1° de março”, o que inviabilizou um resultado ainda mais animador.
Serviços e núcleo da inflação
O especialista destaca que o IPCA de março apresentou alguns sinais importantes, como a queda em relação a fevereiro dos preços de serviços e serviços subjacentes. “Eles continuam em níveis elevados e segue no radar do Banco Central, mas são dados positivos”, diz Sung.
A média dos núcleos da inflação também arrefeceram na passagem de fevereiro para março. Além disso, o índice de difusão, que mostra o porcentual de itens com que aumentaram de preços no mês, caiu de 65,2% para 59,9%.
Para Gustavo Cruz, Estrategista Chefe da RB Investimentos, o índice de difusão ainda está acima do esperado e “precisaria cair mais um pouco. O que a gente calculou é que, na época do (ex-presidente Michel) Temer, quando a inflação estava na meta, esse índice girava em no máximo 0,55%”.
Juros
A expectativa agora é para ver se a inflação de serviços segue esfriando, o pode dar indicações importantes para o Banco Central iniciar a queda na taxa de juros, diz Sung, da Suno. “Nossa expectativa é de que o primeiro corte seja em agosto deste ano”, avalia.
Camila Abdelmalack economista chefe da Veedha Investimentos, destaca que a desaceleração dos preços “pode ser um resultado importante da taxa de juros”. Isso daria um sinal ao BC de que é possível afrouxar a política monetária.
Leonardo Santana, analista da TOP Gain Research, afirma que o mercado já começa a precificar uma possível queda dos juros depois do resultado da inflação. Por volta das 10h35, pouco depois da abertura, o Ibovespa registrava alta de 2,65%.
Ele diz que os investidores começam a buscar aproveitar as “pechinchas” que há na bolsa em todos os setores diante da possibilidade de uma queda da inflação e mudança na curva de juros. “Principalmente o setor de varejo sobe forte com a possibilidade do corte de juros e pelo preço reduzido dos papéis”.
Também petróleo e gás e saúde, setores intensivos em capital, podem se beneficiar da mudança no cenário, segundo Santana.
IPCA abaixo da expectativa
O IPCA de março veio abaixo da mediana da expectativa do mercado, que estava esperando alta de 0,77%. “O número mostrou qualitativo bom, média dos núcleos desacelerando como esperado e com as medidas de difusão mais fracas”, avalia Andrea Ângelo, estrategista de inflação da Warren Rena.
Entre as surpresas no mês, bens não duráveis, como leite industrializado e massas, contribuíram para o resultado positivo. No mesmo sentido, carne bovina, com deflação de 1,22%, e energia elétrica, com alta menor que esperado, explicam a variação menor que esperado. Por outro lado, medicamentos, gasolina e produtos in natura (frutas e hortaliças) apresentaram variação mais forte que projetada, segundo a Warren.
“Para frente, por ora, continuamos vendo pressão no IPCA de abril (projeção de 0,63%) por medicamentos e gasolina. No IPCA de maio (projeção de 0,54%) efeito do reajuste de loterias estimado em alta de 19%, GLP e diesel (impactados pela nova fórmula ad rem) e junho (projeção 0,60) com gasolina mais alta pela ad-rem de R$1,22 por litro.
A Warren projeta inflação de 6% ao final de 2023.
‘Sem espaço para queda de juros’
Laíz Carvalho, Economista-Chefe para Brasil do BNP Paribas, concorda que há uma tendência positiva na inflação que vem desde janeiro, mostrando uma desaceleração dos preços. Porém, ela avalia esse movimento como “mais lento do que o esperado”, principalmente no setor de serviços e no núcleo da inflação, o que tende a dificultar uma mudança na política de juros para as próximas reuniões do Copom.
Esses pontos de resistência da inflação podem jogar os preços um pouco mais para cima em comparação às projeções atuais para a inflação de 2023, diz Laíz. “A gente continua projetando uma inflação ainda um pouco mais alta neste ano, na casa dos 6,5%. E essa inflação ainda persistente é o que faz com que a agente acredite que o BC não vai ter muito espaço para baixar juros”, conclui.
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