A importância dos ciclos de mercado

Há diversos aspectos cíclicos no mundo e na experiência humana. As artes são profícuas em descrever essa ciclicidade de forma bela e sutil. No clássico da literatura brasileira “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, por exemplo, a vida de Fabiano, o protagonista, é um ciclo implacável de seca, fome, trabalho árduo e migração.
Ele e sua família, Sinha Vitória, seus dois filhos e a cachorra Baleia, são constantemente empurrados pelas intempéries do sertão nordestino. A cada ciclo, a esperança de uma vida melhor renasce. Assim, com a chegada de uma chuva que traz pasto e trabalho, mas posteriormente se esvai com o retorno da seca.
Os ciclos do mercado financeiro
As empresas e o mercado financeiro são criados e geridos por pessoas. Portanto, naturalmente, também refletem alguns destes aspectos cíclicos da vivência humana.
Afinal, o mercado financeiro é um microcosmos da sociedade e vive ciclos de prosperidade e de perdas, como Fabiano, com a chuva e seca.
O investidor Howard Marks explora brilhantemente essa ideia de ciclos de mercado. Bilionário e gestor da Oaktree Management Capital, ele se destaca há décadas por fazer investimentos bem-sucedidos. Geralmente optando por ativos de risco, sendo muito admirado e reverenciado pelo mercado.
O próprio Warren Buffett, um dos maiores investidores de todos os tempos, declarou que quando vê os memorandos de Howard Marks em seu e-mail, a primeira coisa que faz é abri-los e lê-los.
Buffett ressalta que sempre há algo para se aprender com os insights de Marks. O que levou a brincadeira, com algum fundo de verdade, de que Marks seria o “guru” de Buffett.
Criaram assim a categoria mais que honorífica de guru do maior guru para Howard. Enfim, com certeza, alguém cuja opinião sobre investimentos é relevante.
Marks é um grande adepto desta ideia de como os ciclos de mercado influenciam os investimentos, tanto que escreveu um livro inteiro sobre o assunto, “Dominando o Ciclo de Mercado”.
Para Marks, o ciclo de mercado é formado por quatro fases: expansão, euforia, contração e depressão.
Os preços dos ativos se movimentam de acordo com essas fases do ciclo e as estratégias de investimento variam conforme cada fase.
As fases dos ciclos de mercado – e como aproveitá-las
Durante a fase de expansão, quando a vitalidade econômica está em alta, Marks preconiza a alocação de capital em ativos dotados de substancial potencial de crescimento, como ações de companhias cujos fundamentos se revelem sólidos e promissores.
Em contrapartida, na fase de euforia, caracterizada pela exacerbação do otimismo e pela sobrevalorização de ativos, o autor sugere a prudência e a busca por refúgio em ativos de menor risco, como os títulos soberanos.
Na fase de contração, Marks advoga a aquisição seletiva de ativos cujos preços tenham declinado a patamares inferiores ao seu valor intrínseco, como é o caso de empresas com desempenhos financeiros robustos, mas que, por contingências de mercado, tenham experimentado quedas nas cotações de suas ações.
Por fim, na fase de depressão, quando o pessimismo se alastra, o autor encoraja a acumulação de ativos com notório potencial de crescimento, ainda não reconhecidos ou valorizados pelo mercado, antevendo a sua possível valorização futura.
O ciclo de mercado no mundo
Em qual fase do ciclo de mercado estarão as bolsas das principais economias do mundo? Essa pergunta é chave para o investidor definir a sua estratégia de diversificação internacional.
Os Estados Unidos, nos últimos anos, por exemplo, têm convivido com significativas altas nas bolsas de valores, que bateram recordes sucessivos, ao mesmo tempo, com altas taxas de juros de seus títulos públicos.
Caso o investidor avalie que mercado estadunidense ainda esteja na fase de expansão, seria possível comprar ações de empresas com alto potencial de crescimento, como as big techs e lucrar bastante nos próximos anos.
Por outro lado, se já estiver na fase de euforia, seria o momento de migrar para os títulos do governo e aproveitar as significativas taxas de juros.
Com o início do governo de Donald Trump e todas as mudanças que ele prometeu, cabe ao investidor essa reflexão, do que pode acontecer com o ciclo econômico: mais expansão ou euforia?
O ciclo no Brasil
No Brasil também há incerteza por conta do momento político e a aproximação das eleições presidenciais, que serão realizadas em menos de dois anos. Ao contrário dos Estados Unidos, o mercado acionário no Brasil tem vivido tempos difíceis nos últimos anos.
Cabe então a reflexão: estamos na fase de contração ou de depressão?
Caso a resposta seja a primeira, deveríamos ser bastante seletivos com ativos de risco e focar nas altas taxas de juros dos títulos públicos. Alternativamente, se a reposta for a segunda, há uma grande oportunidade de comprar ativos baratos que podem se valorizar significativamente em um horizonte de 3 a 5 anos, após a eleição presidencial de 2026.
Quaisquer que sejam as respostas, o mais importante é que investidor faça essa pergunta sobre o ciclo de mercado. Então, que a incorpore na sua estratégia de carteira de investimentos a fim de proteger melhor seus ativos.
E, assim, garanta a construção de seu patrimônio em longo prazo. Isto é Inteligência Financeira.
Leia a seguir