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Guerra ameaça controle da inflação no Brasil; agronegócio pode sofrer o maior impacto
Os desdobramentos da guerra entre Rússia e Ucrânia colocam sob ameaça o controle de preços no Brasil. André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre) diz que o desmantelamento das cadeias de escoamento de petróleo, que ainda não tinham se recuperado completamente, pode acelerar a inflação brasileira. “Ainda que a Petrobras segure o repasse para a gasolina e diesel, outras cadeias dependem do petróleo, como plásticos, garrafas pet e fertilizantes”, diz Braz.
O economista diz que a entrada de fluxos estrangeiros no Brasil por conta das altas taxas de juros podem ajudar a mitigar os impactos, com valorização do real. No entanto, há incerteza sobre a continuidade desse direcionamento de fluxos para os emergentes em um momento de aversão global ao risco, principalmente se o os Estados Unidos mantiverem as perspectivas atuais de aumento dos juros.
Para Braz, o cenário que se desenha é de um avanço da cotação do petróleo e outras commodities mais de forma mais acelerada do que a valorização do real. “Isso já se materializou com o barril a US$ 100 dólares e pode piorar”, diz.
Se houver necessidade de aumentar ainda mais o juros no Brasil, a possibilidade de algum crescimento do PIB se tornam mais remotas. “Com os juros ainda mais altos, não haverá investimentos produtivos”, afirma.
Écio Costa, economista da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), diz que o maior impacto poderá ser sentido no agronegócio, por conta de possíveis sanções comerciais que venham a ser impostas no comércio de fertilizantes. Cerca de 30% das importações brasileiras são da Rússia. Por outro lado, diz, Rússia e Ucrânia estão entre os 3 maiores exportadores de trigo, que pode afetar seu preço internacional. “A soja pode também ser afetada, pois a Ucrânia produz e exporta óleo de girassol, um bem substituto da soja”, diz.
Para Costa, se restrições mais comerciais forem impostas, o mundo terá um impacto inflacionário significativo, “um tiro no pé por parte de governantes americano e europeus”.
Impacto nos investimentos
No Brasil, o aumento do preço do trigo, que já vinha sendo impulsionado pelas notícias do conflito ucraniano, poderá afetar negativamente empresas listadas na Bolsa, observa Pedro Serra, head de research da Ativa Investimentos. “A M. Dias Branco, que depende da importação de trigo, assim como a Santa Amália, marca de massas e biscoitos recentemente adquirida pela Camil, deverão sentir efeitos negativos advindos das altas do trigo”, aponta. Já a valorização do milho no mercado internacional, na avaliação de Serra, tende a influenciar as companhias compradoras da commodity. “BRF, Seara e Ambev deverão sentir impactos negativos em seus resultados”.
Com Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor Econômico
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