Goldman Sachs: Destituição de presidente da Câmara eleva chances de ‘shutdown’ do governo nos EUA

Kevin McCarthy foi retirado do cargo vítima de uma pequena ala radical do Partido Republicano

A histórica destituição de Kevin McCarthy como presidente da Câmara dos Representantes dos EUA aumenta as chances de uma paralisação (shutdown) do governo no final do trimestre, de acordo com analistas do Goldman Sachs.

O Congresso aprovou um projeto de financiamento provisório de última hora no fim de semana, ganhando mais 45 dias para chegar a um acordo sobre o financiamento do governo para o próximo ano.

Embora a medida tenha eliminado o risco imediato de uma paralisação, o afastamento de McCarthy na terça-feira e a necessidade de um novo líder da Câmara fazem com que os 45 dias pareçam não ter tempo algum. E o relógio já está correndo.

“Com muitas disputas políticas remanescentes e uma diferença de US$ 120 bilhões entre os partidos sobre o nível de gastos preferido para o ano fiscal de 2024, é difícil ver como o Congresso pode aprovar os 12 projetos de gastos necessários para o ano inteiro antes que o financiamento expire em 17 de novembro”, disseram os analistas.

O Goldman acrescenta ainda que o próximo presidente provavelmente estará “sob ainda mais pressão” do que McCarthy para evitar outra extensão temporária ou mais financiamento para a Ucrânia.

A hipótese básica do banco é de uma paralisação no quarto trimestre, mas que uma paralisação prolongada – mais de três semanas – é improvável.

Entenda o imbróglio envolvendo McCarthy

Pela primeira vez na história americana, o presidente da Câmara dos Deputados foi destituído do cargo por membros rebeldes de seu próprio partido. Kevin McCarthy foi derrotado na terça-feira (3), vítima de uma pequena ala radical do Partido Republicano e foi removido do cargo por 216 votos a 210 – com 8 rebeldes republicanos votando contra ele.

O resultado paralisou completamente os trabalhos do Congresso, que tem pouco mais de 40 dias para votar um orçamento para manter o governo americano funcionando. Imediatamente após a votação de ontem, a Câmara dos Deputados entrou em recesso para que os dois partidos debatessem os próximos passos e escolher um novo presidente.

A luta pelo poder na Câmara dos Deputados marca uma grande escalada nas tensões entre a bancada republicana, dilacerada por lutas internas, e ocorre poucos dias depois de McCarthy arquitetar com sucesso um esforço de última hora para evitar a paralisação do governo, no fim de semana.

Diante de um impasse com a ala radical do Partido Republicano, McCarthy fechou um acordo de última hora com os democratas e conseguiu os votos necessários para manter o aparato do governo funcionando provisoriamente por mais 45 dias, até que um acordo definitivo seja votado.

Foi o suficiente para que Matt Gaetz, um deputado trumpista da Flórida, protocolasse uma moção para destitui-lo do cargo.

Fogo cruzado

Antes da votação, um debate sem precedentes ocorreu no plenário entre as duas facções do Partido Republicano: os deputados rebeldes de extrema direita batiam duro no presidente da Câmara, os moderados defendiam McCarthy e a bancada democrata sentava em silêncio absoluto.

A votação foi cercada de tensão. No plenário, os deputados votavam pela destituição do presidente da Câmara da mesma forma que o elegeram: levantando-se um por um em uma chamada alfabética. Segundo especialistas, o vácuo de poder paralisa os trabalhos até que um sucessor seja escolhido.

O problema é definir um novo presidente em tempo de negociar e votar uma nova lei orçamentária para manter a burocracia estatal americana funcionando em um prazo de 40 dias. Em janeiro, McCarthy foi escolhido líder do Partido Republicano após uma maratona de 15 votações e nada garante que será mais fácil desta vez.

A paralisação dos trabalhos da Câmara dos Deputados é resultado de uma maioria apertada em tempos de polarização política. Os republicanos têm apenas 9 deputados a mais que os democratas (221 a 212, com 2 cadeiras vacantes).

A consequência direta dessa matemática é que um pequeno grupo de 10 deputados é capaz de pressionar por uma agenda radical, colocando sempre uma faca no pescoço de McCarthy.

Impeachment

Foi por isso que, em setembro, o líder republicano ordenou que a Câmara desse o primeiro passo para instaurar um processo de impeachment do presidente americano, Joe Biden, ao autorizar investigações por abuso de poder, obstrução e corrupção.

Mesmo sem ter nenhuma evidência concreta, McCarthy agiu sob pressão da ala radical, ligada ao ex-presidente Donald Trump, que ameaçava justamente protocolar uma moção para destitui-lo do cargo de presidente da Câmara – o que, no fim das contas, ele não conseguiu evitar.

“Há muita gente que pode se apresentar e fazer o trabalho dele”, disse o deputado Tim Burchett, um dos oito rebeldes que votaram pela destituição de McCarthy. No entanto, a realidade é mais cruel. Encontrar um substituto pode ser uma tarefa tão difícil que muitos republicanos não descartam apresentar de novo o nome do próprio McCarthy – no entanto, ele precisaria de uma maioria que, no momento, ele não tem.

“Agora, é responsabilidade dos deputados do Partido Republicano acabar com a guerra civil na Câmara”, disse o democrata Hakeem Jeffries, após a votação de ontem. Ainda sem saber o que fazer, os republicanos escolheram o deputado Patrick McHenry, um aliado de McCarthy, como presidente interino da Câmara, até a eleição do próximo líder.

Com informações da Dow Jones Newswires/Estadão Conteúdo

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