Os estragos das tarifas de Trump serão maiores do que parecem, aponta Fitch

- A Fitch prevê impactos negativos generalizados pela guerra comercial iniciada por Trump.
- Setores automotivo, tecnologia e químicos serão diretamente afetados pela alta das tarifas.
- Empresas de mineração e siderurgia enfrentarão maior concorrência em mercados externos.
- O impacto na tecnologia dependerá do embate EUA-China, mas a Fitch considera improvável um divórcio total entre os mercados.
- A indústria química europeia e chinesa também sofrerão com a maior concorrência, limitada pela dependência de matérias-primas chinesas.
- Um efeito cascata atingirá setores domésticos como construção civil, varejo, restaurantes e bebidas, devido à queda da confiança do consumidor.
- A Fitch estima queda significativa nas vendas de veículos novos nos EUA e na Europa.
Cadeia automotiva, commodities, tecnologia, aço. O governo de Donald Trump já sinalizou que os Estados Unidos vão criar ou aumentar tarifas sobre produtos importados destes setores. Porém, uma guerra comercial mais ampla atingiria até restaurantes e bebidas alcoólicas, previu a Fitch.
Em relatório, a agência de classificação de risco avaliou que a implementação integral de tarifas já anunciadas pelos EUA sobre importações do Canadá, México, União Europeia e China pressionará a receita e os lucros de diversos setores da economia no mundo todo.
Inclusive porque esse cenário deve provocar um enfraquecimento global da economia, provocando consequências mais amplas.
Inicialmente, os setores automotivo, de equipamentos de tecnologia e de produtos químicos devem sofrer impacto direto, devido à exposição internacional, atividade comercial entre mercados e cadeias de suprimentos complexas, diz o relatório.
Nesta quarta-feira, a Casa Branca informou que o presidente Trump anunciará tarifas sobre importados da indústria automobilística.
Só as fabricantes de veículos vão vender cerca de 300 mil unidades novas a menos nos Estados Unidos e outra diminuição de mesma intensidade na Europa já neste em 2025, estimou a equipe da Fitch sob direção de Emmanuel Bulle, que escreveu o documento.
Consequentemente, isso também afetará os fornecedores de autopeças e empresas industriais no México, devido à alta integração da cadeia de suprimentos com os EUA.
Ainda, o setor de recursos naturais também sofrerá com o menor crescimento.
Neste sentido, as empresas de mineração e siderurgia podem ser desafiadas pela maior concorrência em mercados fora dos EUA, à medida que as exportações são desviadas para outros mercados.
Impacto no setor de tecnologia depende do embate EUA-China
Para a Fitch, como exportam uma parcela significativa de seus produtos para os EUA, as empresas de hardware europeias e asiáticas tendem a sofrer mais com as tarifas de Trump.
“Será difícil para elas encontrar mercados alternativos para absorverem totalmente o excesso de oferta caso as exportações para os EUA diminuam após o aumento das tarifas”, afirmou a Fitch.
Essas empresas de hardware e suas contrapartes nos EUA também podem enfrentar custos mais altos da cadeia de suprimentos, relacionados a componentes importados e um aumento potencial na produção nos EUA.
Porém, a dimensão do impacto no setor dependerá da dissociação do comércio de tecnologia EUA-China.
Mas um divórcio total entre os dois mercados é improvável, avalia a Fitch, dada a complexidade das cadeias de suprimentos do setor e ao domínio da China em componentes críticos.
Isso inclui placas de circuito, monitores e telas sensíveis ao toque, bem como em processamento químico e elementos usados em dispositivos de alta tecnologia, incluindo smartphones, computadores e veículos elétricos.
Em outra frente, as indústrias químicas europeia e chinesa têm um grande superávit comercial com os EUA e podem sofrer com uma concorrência potencialmente maior, após as tarifas de Trump.
Mas a China desempenha um papel fundamental no fornecimento global de produtos químicos, limitando a capacidade dos EUA de diversificar para outros fornecedores.
A China também é a única fornecedora de matérias-primas essenciais e produtos químicos básicos para alguns ingredientes farmacêuticos ativos.
Na outra ponta, a capacidade da China de absorver o fornecimento adicional desviado para seu mercado é limitada devido ao crescimento relativamente fraco da demanda doméstica nos próximos anos, diz o relatório.
Guerra comercial mais ampla afetará até restaurantes, diz Fitch
De acordo com a Fitch, o efeito cascata de uma guerra comercial mais ampla, à medida que outras geografias reajam, também aplicando tarifas maiores.
Logo, esse cenário tenderia a reverberar em setores mais voltados para os mercados domésticos, mas dependentes de insumos do exterior.
Esse efeito inclui a construção civil. Nos EUA, construtoras estarão sujeitas a custos mais altos de madeira e gesso que podem não conseguir repassar nos preços devido à queda da confiança do consumidor, diante dos preços já altos de imóveis e das taxas de hipoteca.
Já na China, a pressão deflacionária atrasará qualquer recuperação no mercado imobiliário, que já enfrenta excesso de oferta, acrescentou
Em menor medida, setores ligados aos gastos e confiança do consumidor, como varejo, bens de consumo, hospedagem, restaurantes, companhias aéreas e até bebidas alcoólicas serão atingidas, conclui o relatório.
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