Está faltando mão de obra no Brasil e os salários vão subir? Não é o que dizem os empresários

A taxa de desemprego no Brasil está em níveis historicamente baixos. Mas isso ainda não significa que esteja faltando mão de obra. E menos ainda que os salários vão subir por causa disso.
Esta é a conclusão da equipe econômica do Bradesco, com base numa pesquisa com 2.596 empresários de vários setores.
No levantamento, os pesquisadores perguntaram se os empreendedores tiveram dificuldades de contratação nos últimos três meses.
Nesse sentido, a resposta de dois terços dos entrevistadas foi negativa. Só 15% admitiram que estão enfrentando mais dificuldades do que o padrão para contratação.
Mas dentro desse grupo menor, o aumento de salário não é a opção mais provável para tentar atrair trabalhadores.
Na verdade, 29% deles disseram que apenas aumentaram a área de procura dos trabalhadores.
Outros 24% não tomaram nenhuma medida. Ou seja, preferiram não contratar do que ter que pagar mais. Só 21% dos entrevistados aceitaram oferecer aumento de salário.
“Sem dúvida, o mercado de trabalho está aquecido e o aumento do rendimento confirma isso”, afirma o Bradesco no relatório. “Mas esse aquecimento nos parece razoavelmente compatível com o ritmo de crescimento da economia nos últimos anos”.
Para Banco Central, ‘mercado de trabalho apertado’ é desafio
Os resultados na pesquisa vêm na esteira de um ciclo de aperto monetário no Brasil, com o Banco Central citando o mercado de trabalho como um dos fatores de pressão inflacionária.
Nesta semana, o BC elevou a taxa Selic para 14,25% ao ano, maior nível desde agosto de 2016.
Como vem destacando a autoridade monetária, uma escassez de mão de obra pode limitar o
crescimento econômico e pressionar a inflação.
Segundo o IBGE, no acumulado em 12 meses até fevereiro, a inflação medida pelo IPCA subiu 5,06%, o maior nível desde setembro de 2023
Enquanto isso, desde pandemia o rendimento do trabalho subiu 6,6% acima da inflação.
Simultaneamente, 7,8 milhões de empregos foram gerados desde então, sendo 6,7 milhões de vagas formais.
O crescimento do PIB também foi elevado no período, com quase todos os anos superando 3%, mais do que o crescimento potencial, de 2,3%, estima o Bradesco.
Desemprego baixo e efeito no salário: o caso da construção civil
O resultado mais abrangente da pesquisa, no entanto, muda de figura quando se observam os setores isoladamente.
Em serviços, por exemplo, 80% das empresas relataram não ter qualquer dificuldade para contratação nos últimos meses.
Por outro lado, na construção civil o cenário é diferente, com 44% das empresas relatando dificuldade de contratação.
Segundo pesquisa da FGV, a construção civil de fato tem apontado a falta de mão de obra como um fator limitante.
Enquanto isso, o salário do setor tem subido nos últimos meses, ainda que haja sinais de estabilização entre os trabalhadores formais do segmento.
Mesmo reportando dificuldades de contratação, porém, os empresários do setor não escolhem aumentar salários como primeira forma de atrair novos trabalhadores.
Em vez disso, buscar trabalhadores de outras regiões é a escolha prioritária.
“Esse padrão de respostas não sugere uma falta crônica de mão de obra”, conclui Myriã Bast, autora do estudo.
Por fim, o Bradesco estima que a desaceleração do PIB deste ano deve levar a um menor dinamismo da ocupação, mas os rendimentos continuarão crescendo.
Assim, a massa salarial subiria 3,8% em termos reais neste ano, após três anos consecutivos com expansão ligeiramente superior a 7%, em média.
Leia a seguir