Jerome Powell é o atual presidente do Fed, o banco central dos Estados Unidos (EUA). Ele assumiu o cargo em fevereiro de 2018, após indicação do republicano Donald Trump, então o presidente do país. Powell foi reconduzido ao cargo na atual gestão do presidente democrata Joe Biden. O Federal Reserve é o órgão federal mais importante para definir as políticas macroeconômicas dos Estados Unidos.
Nenhum ex-presidente do Fed teve que lidar com uma paralisação da economia dos EUA e dos parceiros comerciais, como Powell está tendo de enfrentar. Muitos dos desdobramentos possíveis para a economia dos EUA dependem de questões fora de seu controle – o mesmo vale para o seu par no Brasil, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central.
Isso inclui até que ponto o vírus recua, a rapidez com que as cadeias de suprimentos se recuperam e quanto os arranjos de trabalho e as preferências de gastos revertem aos padrões pré-pandêmicos.
Durante o primeiro ano da pandemia, Powell ganhou reputação por implementar políticas inovadoras destinadas a evitar um colapso financeiro e econômico. Hoje, ele se mostra mais disposto a domar a inflação, agora batendo a alta de 40 anos de 7,5%. Se ele for bem-sucedido, isso ajudará muito a determinar o caminho futuro da economia dos EUA, bem como a credibilidade do Fed.
Powell respondeu à pandemia dobrando as estratégias desenvolvidas por seus antecessores para combater o desemprego prolongado e a inflação baixa. Quando o mercado de trabalho se recuperou rapidamente e a alta inflação surgiu como a maior ameaça, ele e os economistas da autoridade monetária foram pegos de surpresa.
“Estamos muito atrás da curva. Não é onde queríamos estar”, disse à época Eric Rosengren, que, como presidente do Fed de Boston até setembro passado, participou da elaboração dessas políticas. O desafio de Powell agora é mais espinhoso do que no início da pandemia.
Recessão à vista?
Nenhum presidente do Fed desde Paul Volcker no início dos anos 1980 teve que lidar com uma inflação tão alta. O risco para Powell e para o país é que sua luta contra a inflação cause uma nova recessão, como aconteceu com Volcker. Historicamente, o Fed não conseguiu reduzir a inflação sem uma recessão. Exatamente como Powell pretende apertar a política monetária dos EUA representa um desafio adicional.
O Fed tem tanto a alavanca tradicional das taxas de juros de curto prazo quanto uma nova: encolher suas vastas participações em títulos do Tesouro lastreados em hipotecas. Isso pode ser especialmente traiçoeiro para os mercados acostumados a um banco central que nas últimas duas décadas usou principalmente apenas taxas de juros.
Baixa previsibilidade
Autoridades do Fed alertam que não podem fornecer a mesma previsibilidade desta vez. Para os mercados, “pode ser um momento difícil”, disse recentemente ao The Wall Street Journal, Esther George, presidente do Fed de Kansas City – nos EUA, o sistema forma pelo Fed, criado em 1913, é composto por 12 bancos (reserve banks), localizados nas principais cidades dos EUA.
Em menos de um ano, o Fed passou de não projetar aumentos nas taxas de juros antes de 2024 para sinalizar que aumentará as taxas em sua próxima reunião, de 15 a 16 de março, pela primeira vez desde 2018. Na semana passada, os investidores começaram antecipando um aumento de meio ponto em vez de um quarto de ponto naquela reunião, que seria a primeira tão grande desde 2000.
Na tarde desta quarta-feira (16), o Fed divulga a ata de sua última reunião de política monetária, em janeiro. O documento deve trazer detalhes da estratégia da autoridade de subir os juros americanos a partir de março.
O diretor James Bullard defende uma elevação de 1 ponto percentual, para até 1,25% ao ano. Então os investidores vão procurar, na ata, indicações de quantos outros diretores estão com ele.
Por que importa?
O ciclo de alta de juros nos EUA pode ser mais apertado do que o anteriormente pensado, após o CPI (índice de preços ao consumidor dos EUA) vir acima do esperado em janeiro. Agora, o mercado espera sete elevações de 0,25 ponto percentual nos juros americanos e bancos como Citi, Grant Thornton e Deutsche Bank projetam um aumento de 0,50 ponto nos juros americanos já agora em março. Caso a ata sinalize juros mais altos em um prazo menor, o dólar tende a se fortalecer ante o real. Caso contrário, o real pode continuar a se valorizar.