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Estudo do Itaú: BC pode ter que subir Selic a 15%, se governo mudar a meta de inflação
O Itaú divulgou um estudo que mostra que o Banco Central poderia ser obrigado a subir os juros básicos (Selic) para quase 15% ao ano no segundo semestre caso o governo Lula resolva aumentar a meta de inflação de 2024 em diante para 4,5% na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) de junho.
Esse é um dos cenários sobre os impactos de uma eventual mudança da meta desenvolvidos por um grupo de quatro economistas do banco. O pressuposto é que as expectativas de inflação sofreriam uma desancoragem mais forte, deslocando-se para 6%, próximo ao hipotético teto da nova meta.
Há duas semanas, o presidente Lula fez uma defesa da meta mais alta, de 4,5%, adotada nos governos petistas, o que intensificou receios no mercado financeiro de uma revisão do objetivo atual, de 3%. Desde então, integrantes da equipe econômica têm procurado passar a mensagem de que não haverá alterações.
Os economistas do Itaú fazem estimativas das repercussões na inflação de uma eventual revisão da meta de inflação, e simulam qual seria a reação do Banco Central na política de juros. Para tanto, replicam os modelos usados pelo próprio BC.
Primeiro, eles mostram que uma revisão da meta não levaria a juros reais mais baixos. “Inflação e juros são variáveis nominais”, dizem os economistas Guilherme Martins, Julia Passabom, Natalia Cotarelli e Luciana Rabelo. “A mudança na meta ajusta, na mesma proporção, todas as variáveis nominais da economia, incluindo juros nominais.” Ou seja, se a meta de inflação sobe 1,5 ponto percentual, ao fim os juros nominais também sobem 1,5 ponto percentual.
Mas a história pode não acabar por aí. Se a mudança da meta de inflação for percebida como uma leniência do novo governo com a estabilidade de preços, as expectativas de inflação podem se desancorar. Se os especialistas passarem a prever inflação acima da meta, isso de fato levaria a uma inflação maior. O Banco Central, então, seria obrigado a reagir, com juros maiores.
Os economistas do Itaú fazem os cálculos do que aconteceria com a inflação – e qual seria a reação do Banco Central – no caso de o aumento da meta de inflação levar a uma desancoragem de 1,5 ponto percentual das expectativas. Seria mais ou menos um repeteco do governo Dilma, quando as expectativas se descolaram para o teto da meta de inflação.
Eles estimam que, nessa hipótese, a inflação chegaria a 6% em 2023 e a 5,6% em 2024. O exercício foi feito com a chamada curva de Phillips, que é uma equação básica que projeta a inflação futura com base em fatores como a inércia inflacionária, as expectativas de inflação e o grau de ociosidade da economia.
Como a inflação esperada estará acima da nova meta presumida, de 4,5%, o Banco Central teria que reagir, com juros mais salgados. Há basicamente duas opções. Uma delas seria o Banco Central adiar e desacelerar o corte dos juros básicos, que atualmente se encontram em elevados 13,75% ao ano. A Selic terminaria em 13% neste ano, sem a queda para 12,5% esperada pelo mercado no . No fim de 2024, ficaria em 11,75%, em vez de 9,75%.
Mas é bem possível que o Banco Central tenha que mostrar alguma ação, subindo os juros, para restabelecer a credibilidade do sistema de metas e evitar que as expectativas sigam se deteriorando. Nessa hipótese, a Selic teria que ir a 14,75% ao ano no segundo semestre. No ano que vem, terminaria em 10,75%, em vez dos 9,75% hoje previstos pelos economistas privados no boletim Focus.
“Para reancorar as expectativas e levar a inflação de 2024 para a nova meta, vemos que o Banco Central não teria, por um período prolongado, espaço para reduzir a Selic e existiria o risco de ter que subir para aproximadamente 15% ainda neste ano”, dizem os economias, no estudo.
Todas essas estimativas sobre juros são feitas com a chamada regra de Taylor, a mais popular ferramenta usada pelos especialistas para calcular qual será a reação do Banco Central a um desvio da sua projeção de inflação em relação à meta.
Os economistas do Itaú fazem uma outra estimativa para ver como seria a reação do Banco Central caso uma mudança das metas não leve a uma desancoragem das expectativas. Ou seja, na hipótese de o CMN mudar a meta para 4,5%, as expectativas ficaram ancoradas exatamente em 4,5%.
Nessa hipótese, a inflação subiria 0,55 ponto percentual no horizonte de um ano. No segundo ano, a inflação terá subido 1 ponto percentual, convergindo para a nova meta
Inicialmente, os juros ficam estáveis em relação à trajetória que já estava prevista no boletim Focus. Mas, como a inflação sobe, o juro real diminui. Ao fim de dois anos, o juro nominal será um ponto percentual maior, para manter o juro real estável. “Qualquer estímulo, portanto, seria temporário”, dizem os economistas.
A questão, ponderam, é que esse cenário é pouco provável, tendo em vista que a inflação andou muito alta ultimamente devido a vários choques e também às dúvidas que a mudança da meta disseminaria sobre o compromisso do governo com o controle da inflação. Assim, a tendência é que, se a meta mudar, as expectativas se desancorem em relação ao novo objetivo.
No estudo, além desses cálculos, os economistas destacam evidências de que a meta mais baixa não levou a juros mais altos. No regime de metas, até 2016, o objetivo foi de 4,5%, e o juro real médio foi de 7,5%. Desde então, a meta foi reduzida, a passo de 0,25 ponto percentual por ano, e o juro real foi de 2,8%. Ou seja, houve uma meta menor e juros reais menores.
“Diversos fatores impactaram o nível de juro real ao longo do tempo”, argumentam. “O ponto é exatamente esse: diminuir a meta não necessariamente reduz o juro real médio da economia.”
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