Economia Circular e seus investimentos

A reciclagem e o reaproveitamento de resíduos são conceitos cotidianos; mas estamos atentos a essas questões como investidores

Nos dias atuais a reciclagem, reuso ou mesmo reaproveitamento de resíduos são conceitos que fazem parte do nosso dia a dia.

A importância sobre ações relacionadas a essa temática já vem sendo amplamente promovida e adotada. Como, por exemplo, nos casos de embalagens de produtos indicando quantas vezes o material delas foi reciclado.

Nem sempre esse foi o cenário

Mas nem sempre o cenário foi assim. Afinal, a preocupação com materiais, processos produtivos e/ou resíduos não estava na pauta de forma a ponderar o ciclo de vida do produto e a sustentabilidade vinculada aos seus materiais.

Apesar disso, os conceitos listados anteriormente fazem parte de um conceito maior. Conceito esse que define o que chamamos de economia circular, um termo cunhado na década de 70.

Trata-se de um modelo de produção que tem como objetivo a expansão do ciclo de vida do que é produzido. Como resultado, se obtém uma redução relevante no desperdício, gerando mais valor e contribuindo com a redução dos impactos no meio ambiente.

Estamos em um momento em que discutimos e presenciamos alterações relevantes nos regimes hídricos, contribuindo com secas mais recorrentes, incêndios de grande escala, dentre outros eventos climáticos extremos que impactam de forma significativa os diversos insumos naturais existentes.

Portanto, fica clara a relevância de migrarmos para um modelo onde o consumo de recursos naturais seja menor e mais eficiente. Assim, fomentando a capacidade de reutilização destes nos processos produtivos. 

Sem uma alteração de rota, estimativas revelam, por exemplo, que a geração de resíduos sólidos pode triplicar até 2050.

Isso gera um grande desafio não somente para sua administração, mas também pelos potenciais efeitos negativos relacionados à saúde. Isso porque sua gestão inadequada leva à poluição do solo, ar e água.

Nos oceanos, por exemplo, são gastos em torno de US$ 13 bilhões por ano em função do impacto de resíduos que não são geridos adequadamente.

Desperdício de comida, emissão de carbono e despejo de plásticos nos oceanos são desafios relevantes e endereçados por esse novo modelo produtivo.

Europa está tratando do tema

A Europa endereçou esse tema em um dos pilares da sua taxonomia verde. Isto é, um sistema de classificação que define critérios para atividades econômicas alinhadas aos seus objetivos ambientais, atingidos através da promoção de uma economia circular.

Notadamente as metas climáticas e energéticas do continente europeu para 2030, bem como para 2050, dificilmente serão atingidas sem uma economia circular madura.

A Finlândia, sede recente do Fórum Mundial de Economia Circular, é uma das líderes globais desse movimento. Assim, tem metas claras desde 2016, e sendo estas aprimoradas em 2019 com mais 30 novos elementos sobre como realizar a transição para esse modelo.

Ações como limitar consumo de matérias-primas primárias em 2035 aos níveis de 2015, chegar em 30% de plásticos reciclados em 2030 e na neutralidade de carbono em 2035 são alguns dos exemplos adotados.

Oportunidades em investimentos

Se por um lado os desafios estão postos, por outro as oportunidades são relevantes quando pensamos em termos de investimentos.

A transição rumo a uma economia circular tem um potencial relevante de acelerar as agendas existentes como a redução da pegada de carbono. Afinal, nesse ecossistema estimativas revelam que um potencial de redução da pegada de carbono através da economia circular seria em torno de 40%.

Fato relevante para um mundo que cada vez mais precifica o carbono e suas externalidades.

Empresas que reciclam seus resíduos podem ter uma redução de custos relevante ao deixar de enviar estes para aterros sanitários. Ou, ainda, ao optar pela reciclagem em vez da incineração e obtendo receita com esses processos.

Outros exemplos nos remetem a redução de custos com o uso de embalagens ecoeficientes recicladas pós-consumo. Com o uso delas, a geração de resíduos da empresa é reduzida com a reciclagem e reutilização de material, além de custos com aquisição de matéria-prima reduzidos.

Para ajudar no mapeamento, materialização e mensuração destes impactos bem como da dependência da natureza, protocolos como o Protocolo de Capital Natural surgem com uma proposta de ferramenta facilitadora. Um avanço importante para o desenvolvimento estruturado dessa temática pois amplia o conjunto informacional na hora de tomarmos decisões estratégicas.

Vale assim ressaltar que corporações que adotam os princípios de uma economia circular podem obter novas fontes de receitas, redução de custos, promover inovação bem como mitigar riscos operacionais ou mesmos legais. 

Diante disso, enquanto consumidores, já temos conhecimento sobre nosso poder em função das escolhas que fazemos.

Por exemplo, ao escolher produtos e/ou serviços que estão alinhados a toda essa agenda de transição.

Mas será que, enquanto investidores, estamos atentos a essas questões?