Brasil pode perder eficácia no combate à inflação se nada mudar, afirmam economistas do Itaú

Equipe do banco avalia que, caso não haja novas medidas de controle de gastos, BC corre risco de não conseguir controlar alta dos preços por meio de aumentos na Selic

A economia do Brasil segue rumo à dominância fiscal, que é quando o Banco Central perde a eficácia de combate à inflação via alta dos juros. Assim, mesmo por meio do aumento da taxa Selic, as contas públicas apresentam rombo cada vez maior. Se nada for feito, este é o cenário que a equipe de economistas do Itaú Unibanco projeta para o País.

Os economistas entendem que a inflação implícita estimada pelo mercado sobe apesar do arcabouço fiscal. “Entendemos que a tendência das variáveis fiscais, se não for alterada, nos aproximará cada vez mais da situação de dominância fiscal”, diz o Itaú.

Dominância fiscal sugere mercado fora do normal, diz Itaú

A discussão sobre dominância fiscal teve início no mercado financeiro a partir do último aumento de juros pelo Banco Central. Isso ocorreu em dezembro, quando a Selic saiu de 11,25% para 12,25% ao ano. A autoridade sinalizou ainda mais dois aumentos de juros de 100 pontos-base nas próximas duas reuniões.

Mesmo com a postura mais dura do BC sobre os juros para levar a inflação para o centro da meta de 3% ao ano, a expectativa do mercado caminhou no sentido oposto.

Mesmo com a atuação “coerente” do BC, o banco afirma que as discussões sobre dominância fiscal por agentes “sugere que não estamos em plena normalidade”.

Entre dezembro e janeiro, a projeção de agentes do mercado consultados pelo Boletim Focus mostrou piora de expectativa do IPCA para este ano, de 5% para 5,08%. No horizonte de 2026, saiu de 4,05% para 4,10%.

Assim, o Itaú entende que a inflação implícita “continua subindo”, mesmo sem os efeitos da depreciação cambial. O banco subiu recentemente a projeção de Selic para 15,75% ao final deste ano.

“Nas variáveis de mercado, como tem registrado o Copom em documentos recentes, há um estresse com significativa elevação recente do prêmio de risco da economia brasileira”, cita a equipe liderada pelo economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita.

Credibilidade ‘deteriorada’ do arcabouço fiscal

Para os economistas, uma das condições que aproximaria o governo da dominância fiscal seria a falta de limites à trajetória da dívida bruta “de forma crível” ao mercado.

O Itaú afirma que a credibilidade do arcabouço fiscal se deteriorou “no médio prazo”. Isso mesmo no caso de cumprimento de 100% das metas propostas pelo pacote de medidas do ministro Fernando Haddad, da Fazenda.

Assim, o plano do governo é economizar R$ 70 bilhões em despesas em dois anos.

“A piora, portanto, decorre da constatação de que a regra, além dos riscos de descumprimento crescentes (mesmo com a adoção recente de medidas na direção correta), não traz perspectiva de estabilização da dívida pública a menos de uma alta significativa das receitas”, dizem economistas do Itaú ao avaliar a possibilidade de dominância fiscal.

Medidas adicionais e, assim, capazes de equilibrar o rumo da dívida “serão fundamentais para afastar o perigo de descontrole inflacionário”.

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