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Decisão do Copom foi ruim e deve prolongar volatilidade; entenda o que pode acontecer
A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central ao baixar a taxa Selic a 10,50% ao ano sob um placar dividido gerou indigestão na Faria Lima.
Gestores e economistas afirmam que esse resultado representa o pior cenário possível para os juros, inflação e câmbio no Brasil e deve levar a pregões voláteis no mercado financeiro sem prazo de validade.
Na visão do mercado, o principal perdedor da decisão do Copom foi o próprio Comitê.
E, portanto, o Banco Central.
Fontes ouvidas pela reportagem da Inteligência Financeira afirmam que o Comitê responsável pela política monetária do país perdeu credibilidade com o placar dividido. A volatilidade sentida na quinta-feira nos juros, inflação e bolsa de valores foi o resultado imediato.
Decisão do Copom foi dividida e traz sentimento político
O Copom decidiu cortar a Selic em 0,25 p.p. na quarta-feira (8), rebaixando o juro a 10,50% ao ano. A queda, contudo, foi ofuscada pela linha do comunicado que revelou um placar apertado na votação entre os membros do colegiado.
Cinco dos nove membros votaram a favor de uma queda de 0,25 p.p., ala de integrantes empossados durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Outra ala de quatro membros, todos empossados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), votou a favor de um corte maior na Selic, de 0,50 p.p.
O mercado não digeriu bem a penúltima linha do comunicado, que mostrou o placar de 5 a 4.
Para economistas e gestores, a decisão do Copom mostra que o comitê perdeu credibilidade.
Um gestor com mais de R$ 60 bilhões sob guarda disse que “ficou com uma sensação de voto politizado em uma instituição que deveria ser técnica”.
A incerteza sobre o futuro da Selic chacoalhou o mercado.
Após a decisão do Copom voltar atrás no guidance de cortes, o Ibovespa oscilou para queda de 1%, enquanto os juros futuros na taxa DI na ponta longa da curva saltaram. Títulos de renda fixa prefixada e atrelada à inflação dispararam.
Na visão de Tony Volpon, economista e ex-diretor do Banco Central, era esperada uma discordância entre membros. “Mas não esperava que houvesse uma racha tão claro entre o Copom ‘bolsonarista e lulista'”, diz.
Para Flávio Aragão, sócio da 051 Capital, o mercado interpretou a divisão de forma politizada.
“O mercado está comprado no motivo político. Para ele, o movimento foi claro de que uma ala dos indicados pelo PT achava que (o corte de) juros ia ser 50 bps. Mas a ala pode ter votado por motivos técnicos, assim como por motivos individuais”, afirma.
Para mercado, racha fez Copom perder credibilidade
A perda de credibilidade para o Copom foi unânime entre fontes.
O racha do colegiado expõe dois cenários sem cravar incertezas: um BC antes e depois de 1º de janeiro de 2025. Ou um BC ainda sob o mandato do atual presidente, Roberto Campos Neto, e após a sua saída do cargo.
Para Aragão, a decisão do Copom, assim, pouco importa no curto prazo.
“Não é um problema que vai se resolver com a ata”, diz.
O motivo é a incerteza sobre a próxima diretoria do BC.
Na Faria Lima, o favorito a assumir o posto é o atual diretor de política monetária da instituição, Gabriel Galípolo. Ele foi indicado por Lula e é o ex-número dois do ministro Fernando Haddad, da Fazenda.
“Realmente passa a mensagem que teremos um Copom ao final do ano com menos compromisso com a meta (de inflação)”, diz Volpon. Ele afirma que o próximo presidente, de largada, terá que carregar um “déficit de credibilidade” como consequência.
Isso porque, de acordo com o mercado, o placar de 5 a 4, além de politizar o Copom, mostra que membros com mais tempo a cumprir na instituição devem combater a inflação de forma mais branda. Ou seja, o BC a partir de 2025 inverteria o tom hawkish dos últimos anos – sob Campos Neto – para dovish.
É por isso que os investidores “não vão esquecer a decisão do Copom de quarta-feira”, afirma Gino Olivares, economista da Azimut Wealth Management. “Todos ficaram com uma pulga atrás da orelha”.
“E todos do Copom perdem”, afirma Olivares.
“Se um grupo queria fazer um corte menor (da Selic), não ajudou porque a expectativa de inflação disparou. A ala que vai ser maioria em breve também perde, porque fica com uma “batata quente” em 2025.
Apertem os cintos: volatilidade pós-Copom é de longo prazo
Com a decisão de quarta-feira, o Copom trouxe volatilidade ao mercado brasileiro, dizem gestores e economistas. E ela pode permanecer por mais tempo que o previsto.
A taxa de juros foi a primeira a subir.
Com o cenário de uma diretoria mais suave para controlar a inflação, a expectativa é que a Selic continue mais alta no longo prazo, cita Pedro Paulo Silveira, economista da A3S Investimentos.
“Se for isso, teremos que trabalhar com taxa de juros nominal de longo prazo maior, porque a inflação vai ser maior”, diz. Isso, por sua vez, acarreta em um “prêmio de risco maior para investimentos de longo prazo” em todas as categorias.
Aragão, da 051 Capital, é mais pessimista em relação ao mercado após a decisão do Copom.
“Daqui para frente teremos mais volatilidade estrutural na bolsa, que vai demorar muito para ser devolvida.”
O problema, diz o gestor, está no próximo mandato do BC.
“A partir de agora, cada decisão que o Galípolo tomará será questionada”, complementa.
Por fim, Gino Olivares afirma que o movimento de alta dos juros longos pode “se provar errado”. Mas somente em 2025, quando o novo presidente do BC for empossado.
“O movimento de abertura de parte mais longa da curva pode se revelar errado, mas não tão cedo. Somente em 2025, quando a ala que quis o corte de 50 bps for maioria, faremos o tira-teima”, comenta o economista da Azimut. “Essa parte da volatilidade veio para ficar.”
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