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Conflito Rússia x Ucrânia pode valorizar (ainda mais) o ouro: vale a pena investir nesse metal precioso?
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Ouro funciona como proteção em períodos de incertezas econômicas e também como instrumento de diversificação
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Entre outros riscos, investidor precisa ficar atento ao câmbio e aos juros das economias globais
Os preços dos contratos do ouro para abril oscilavam perto da faixa de US$ 1,9 mil a onça-troy nesta terça-feira (22), com valorização superior a 5% em fevereiro sob influência principalmente do aumento da tensão militar entre Rússia e Ucrânia. O risco de um conflito armado no leste europeu diminui o apetite dos investidores globais pela tomada de risco, o que geralmente é ruim para o mercado de ações, e favorece a procura por ativos mais seguros, como a commodity metálica.
A avaliação de especialistas é que, ao menos no curto prazo, os preços fiquem “distorcidos” no campo positivo. “Até que a crise termine, ou pelo menos até que haja sinais de que as tensões estejam diminuindo de forma duradoura, acreditamos que o ouro continuará sendo procurado como um porto seguro”, destacam em relatório economistas do banco alemão Commerzbank.
As conversas entre os agentes diplomáticos não indicam uma solução rápida para o impasse. No entanto, mesmo diante de um cenário turbulento, as perspectivas não são de uma disparada do ouro ou um ciclo mais forte de alta. “As tensões geopolíticas normalmente não proporcionam uma alta duradoura para os preços do ouro. A menos que haja um impacto negativo sustentado para a economias”, aponta o chefe de pesquisas do banco suíço Julius Baer, Carsten Menke. “Com o recente aumento, acreditamos que o ouro já está parcialmente cotado em uma escalada militar, embora os preços provavelmente subam se isso realmente acontecer”, acrescenta.
Como ter esse ‘porto seguro’ na carteira?
O mercado oferece algumas formas de investir em ouro, sendo a compra física do metal a mais conhecida delas. A commodity é considerada por muitos investidores como reserva de valor e embora não ofereça um rendimento determinado, como pagamento de juros, é o destino de recursos quando há uma deterioração do cenário econômico, como períodos inflacionários. “Uma característica importante do metal é seu comportamento diferente em relação ao comportamento dos preços de ativos de risco. Com essa ‘correlação negativa’, os investidores buscam o ouro para proteger o recurso que já está investido em ativos mais arriscados”, comenta Patricia Palomo, diretora de investimentos da gestora de patrimônios Sonata.
Incluir o ouro na carteira de investimentos se dá por esse contexto diversificação para equilibrar o risco dos ativos, mas existem algumas dificuldades. Entre elas está a de encontrar um local certificado que venda o metal com garantia de qualidade, além da questão do deslocamento e armazenamento da commodity. Por conta dessas adversidades, uma alternativa é investir por meio de algum instrumento financeiro que gere exposição ao ouro.
O investidor profissional costuma fazer isso através de derivativos, como os contratos futuros na bolsa de valores – apostando em altas ou baixas. “Mas o valor de investimento nesse caso é mais alto”, argumenta Palomo.
O investidor em geral tem entre as opções a compra de ações de mineradoras focadas em ouro. A B3 negocia os BDRs (Brazilian Depositary Receipts) da canadense Aura Minerials. Outras formas são os fundos de índice (ETFs) que repliquem contratos de ouro ou fundos de investimentos que apliquem no metal precioso. “A opção mais segura talvez seja via fundo de ouro sem exposição cambial. Assim evita que o investidor precisa ficar operando o ouro diretamente no mercado”, aponta Daniel Medeiros, economista da gestora de patrimônios ParMais. “Os fundos de investimentos reduzem bastante a burocracia e facilitam o caminho, mas em contrapartida cobram uma taxa de administração por tal comodidade”, ressalta a diretora da Sonata.
E os riscos?
O fator geopolítico tem puxado a alta do ouro nas últimas semanas, o que sugere que um acordo no leste europeu (improvável no momento, mas não impossível) pode derrubar os preços. Para investidores brasileiros, os especialistas citam também a influência do câmbio. “É importante ficar atento ao risco cambial presentes nos fundos, uma vez que o metal é cotado em dólar. Alguns fundos neutralizam esse risco, outros não. Então o potencial risco da variação cambial deve ser levado em conta na hora de tomar a decisão de investir”, afirma Patrícia Palomo.
A iminente subida dos juros nos Estados Unidos, como já acontece no Brasil e outras economias, também pode deixar o cenário menos favorável para o ouro. “O metal não tem fluxo, não paga dividendos nem nada, por isso tende a sofrer desvalorizações em um momento em que as taxas de juros sobem. Existe um trade off entre ganhar juros e ficar alocado em ouro”, completa Daniel Medeiros.
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