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Comunicado do Copom não surpreende mercado
Em meio à elevada expectativa dos agentes financeiros acerca do tom que o Banco Central iria utilizar para abordar o crescimento dos riscos fiscais no país, o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) veio em linha com a expectativa do mercado.
Os membros do colegiado fizeram o esperado ao entregar uma mensagem de cautela um pouco mais elevada. O Copom manteve, nesta quarta-feira, a taxa Selic em 13,75% ao ano, confirmando a sinalização feita no último encontro.
“Se esperava alguma sinalização de preocupação com a política fiscal e acho que ele (Copom) fez o mínimo em termos de indicar que seguem acompanhando o tema com atenção”, avalia o economista-chefe da WHG, Fernando Fenolio.
Na visão de Fenolio, é importante ressaltar a ênfase que o Copom deu aos efeitos das incertezas fiscais sobre os preços dos ativos e das expectativas de inflação.
“Se as expectativas de inflação não subirem ao longo do tempo, talvez o BC não se sinta empurrado a subir os juros. Nesse sentido, o Focus de 2023 e 2024 serão importantes para tentar calibrar a função de reação do BC”, diz.
Incertezas domésticas e atenção ao cenário externo
Na avaliação do economista-chefe da Messem Investimentos, Gustavo Bertotti, o comunicado mostrou um viés de preocupação com a ancoragem fiscal e o balanço de riscos sobre o mercado internacional.
“A PEC da Transição gera uma preocupação fiscal. Isso pode ser observado pela curva de juros, que vem subindo, indicando que o BC deverá estender por mais tempo a atual política. Uma queda da Selic só deverá ocorrer a partir do segundo trimestre de 2023”, apontou, em nota, o economista.
Bertotti também destacou a preocupação com o cenário externo. De um lado, o crescimento de casos de covid-19 na China, que geram incertezas sobre a atividade econômica. De outro, a inflação global resiliente e consequentemente, os aumentos nas taxas de juros pelos bancos centrais das principais economias. “Isso tudo está considerado no balanço de riscos do BC”, aponta Bertotti.
Em sua visão, o Copom deixou a porta aberta para um aumento residual da Selic no futuro, caso necessário.
“Temos que considerar fatores como alta do dólar, já que causa impacto na inflação. E o Brasil interrompeu o ciclo de desinflação, o que também será colocado no balanço de riscos”, ressaltou.
Compasso de espera
“Copom não tinha muita alternativa a não ser esperar”, diz Roberto Padovani, economista-chefe do banco BV. Para ele, o Comitê do BC teve postura adequada ao sinalizar que está atento e precisa esperar até que exista mais clareza sobre a trajetória fiscal do país.
“Existe uma preocupação grande porque a expansão estimula a economia e dificulta a convergência da inflação à meta, por isso a autoridade monetária sinalizou que iria monitorar o movimento”, diz.
Nessa linha, Padovani acrescenta que os modelos do BC sugerem uma leve revisão da inflação para cima em 2023, com a projeção subindo de 4,8% para 5%, algo que está alinhado com a leitura de que uma política mais expansionista pode manter os preços pressionados por mais tempo.
“O cenário global está dado e ajuda o Copom, pois há desaceleração econômica e queda nos preços das commodities. Mas o risco interno parece crescente e, para o Comitê, importa na medida em que começa a impactar as expectativas”, afirma. O economista espera que a Selic encerre 2023 em 12% e que o IPCA atinja 5,5% no mesmo ano e 4% em 2024.
BC subiu tom no fiscal, sem radicalizar
“É possível dizer que o Banco Central subiu um tom no fiscal, mas sem radicalizar. Ele usou um termo que podemos utilizar para caracterizar o comunicado como um todo, que foi ‘serenidade’”, afirma Rafael Cardoso, economista-chefe da Daycoval Asset.
Segundo ele, as indefinições sobre o arcabouço fiscal a ser adotado pelo país no futuro, não permitem uma postura mais assertiva da autoridade monetária.
O economista da Daycoval Asset não acredita que a aprovação da matéria seja capaz de aplacar as incertezas de curto prazo acerca da política econômica. “No fim das contas, essa PEC, independentemente do resultado, não vai conseguir sanar a incerteza em torno do arcabouço fiscal. Pode ser que, caso ela seja muito ruim, o BC precise agir de antemão. Mas a discussão sobre o arcabouço deve ficar para depois e o BC vai conviver com esse cenário por uma parte relevante de 2023. Isso coloca em xeque aquela visão de cortes no primeiro trimestre do ano”, afirma.
O Daycoval Asset trabalha com a projeção de que a Selic encerre o ano de 2023 em 11,75%, com cortes de juros a partir de agosto.
Revisão para cima da inflação em 2023
Para Marco Maciel, sócio e economista da Kairós Capital, postura do Copom foi acertada ao ressaltar os crescentes riscos fiscais, no entanto, diz que os riscos inflacionários são, neste momento, para cima.
“O Copom disse que acompanhará com especial atenção os desenvolvimentos futuros da política fiscal e, em particular, seus efeitos nos preços de ativos e expectativas de inflação. Ou seja, mostrou para o governo eleito que, se for preciso, terá uma mão pesada na condução da política monetária. Não dava para ser mais duro”, diz.
Em relação às projeções do BC, afirma que a revisão para cima da inflação em 2023 (de 4,8% para 5%) tem a ver com um possível aumento da variação cambial a partir da expansão do arcabouço fiscal.
O executivo entende que, para além de uma desvalorização do real, um aumento da volatilidade do câmbio pode pressionar os preços, na medida em que empresas podem fixar preços em patamares cada vez mais elevados por conta das incertezas.
Maciel entende, a partir disso, que os riscos inflacionários são altistas, podendo afetar, consequentemente, o patamar da Selic ao final de 2023. Por ora, sua projeção para a taxa básica de juros ao final do ano que vem é de 13%, com o IPCA do mesmo ano podendo subir de 5,5% para 5,86% e o valor para 2024 avançando de 3,8% para 4,16%.
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