Veja como a gasolina mais barata pode mexer nas projeções para a inflação

Petrobras anunciou novo corte no preço do combustível

Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo
Foto: Gabriel de Paiva/Agência O Globo

A queda de 4,85% no preço da gasolina nas distribuidoras, anunciada nesta segunda-feira pela Petrobras, pode conduzir a inflação oficial do país – apurada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – a registrar taxa abaixo de 7% esse ano. A projeção é do economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Braz. “Já começa a ficar mais provável [taxa abaixo de 7%”, admitiu, lembrando que a projeção anterior, de mercado, estava oscilando entre 7% e 7,2%.

Caso confirmada, seria o menor patamar de inflação anual desde 2020 (4,52%). No ano passado, o IPCA finalizou 2021 com expansão de 10,06%. O impacto da gasolina mais barata, acrescentou ele, não ficará restrito à taxa anual: ele comentou que o IPCA mensal, de agosto, pode terminar o mês com recuo em torno de 0,30% — as projeções para a taxa desse mês giravam em deflação de cerca de 0,20%.

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Na prática, ponderou, o recuo anunciado no preço do combustível reflete fenômeno mais amplo, na análise do especialista: o temor da recessão global, que influencia os preços de commodities no mercado internacional, como petróleo – com efeito em respectivos derivados, como gasolina. Tendo isso em vista, ele não descartou novos reajustes de preço em combustíveis, pela Petrobras, até fim do ano.

Ao falar sobre o recuo, o especialista frisou o forte peso que a gasolina tem na formação da inflação pelo indicador. Ele detalhou que a gasolina tem peso de 6,5% no IPCA. “Mas essa queda de 4,85% não vai ser repassada integralmente [no varejo]”, comentou ele.

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Cálculos do especialista apontam que pelo menos metade desse recuo deve ser repassado para as bombas nos postos de combustível. Assim, levando em conta o peso do produto no indicador, o impacto total dessa queda anunciada, informou ele, será de decréscimo de 0,15 ponto percentual “para período de 30 dias”, frisou.

Assim, como o recuo no preço de combustível anunciado entrará em vigor em 16 de agosto, conforme comunicado já pela Petrobras, o especialista projeta decréscimos em torno de 0,07 ponto percentual (p.p.) na formação do IPCA de agosto; e de cerca de 0,07 p.p. no IPCA de setembro.

Braz comentou que o recuo no preço de gasolina tem maior impacto, no IPCA, do que a queda de 4% no preço do diesel, anunciada pela Petrobras na semana passada. “O diesel pesa apenas 0,3% no IPCA e esse recuo [da semana passada] deve ter influência, de decréscimo de 0,01 ponto percentual no indicador em 30 dias [a partir da vigência em 12 de agosto]”, detalhou o técnico.

No entanto, para o especialista, tanto gasolina quanto diesel têm potencial de novos recuos de preço, no mercado doméstico brasileiro. Isso porque o cenário base, para o exterior, é cada vez mais de recessão global.

O economista lembrou o avanço da inflação nos Estados Unidos, que levou aquele país a uma nova rodada de aumento de juros – que inibe consumo e, com isso, ritmo de crescimento da economia americana. Ao mesmo tempo, o mercado imobiliário da China, fortemente atrelado ao PIB chinês, mostra-se com dificuldades no momento, o que “pode trazer novas surpresas no campo de commodities”, frisou, não descartando novas desacelerações de preços ou até mesmo recuos nesse tipo de produto.

Outro aspecto citado por Braz é que outras regiões, como Austrália e Europa, também dão indícios do mesmo fenômeno. “As grandes economias dão sinais de desaceleração”, alertou ele, reiterando que isso, na prática, ajuda a derrubar cotação de petróleo no exterior e, com isso, a reduzir preços de gasolina e de diesel no Brasil.

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