Opinião: Visão estratégica de investimento

Ter uma estratégia de investimentos é um passo fundamental para alcançarmos nossos objetivos de médio e longo prazo. Mas seja flexível

O conceito de estratégia pode parecer um pouco abstrato, e está sempre sujeito a diferentes definições, mas em geral consiste num conjunto de princípios e processos que nos ajudam a estabelecer um plano para se chegar a um objetivo de mais longo prazo.

A primeira vez que ouvi falar de estratégia foi quando era garoto e li o livro Estratégia Moderna do Xadrez, juntamente com o meu treinador. O autor era um mestre tcheco, e tomou para si a tarefa de organizar e sistematizar uma série de conhecimentos acumulados principalmente a partir das partidas jogadas entre os principais mestres, ajudando os jogadores iniciantes a estabelecer modelos e ferramentas de análise que permitissem identificar objetivos e as melhores formas de alcançá-los.

É como se alguém compilasse num único livro certas verdades universais que nos ajudassem na tarefa de fazer uma avaliação inicial da posição em que nos encontramos, e a saber o que fazer a depender do tipo de situação em que estamos.

No caso do investidor, estabelecer uma estratégia de investimentos também deveria seguir essa lógica de avaliar a situação atual e traçar um plano para se chegar ao objetivo.

Em geral, muitos artigos na internet sobre estratégia de investimentos vão focar ou no investidor, e em considerações sobre seus objetivos e perfil de risco, sobre a atenção à necessidades de liquidez e capital inicial, enfim, sobre elementos para se fazer a análise da situação inicial do investidor; ou vão focar em diferentes tipos ou estilos de investimentos, tais como gestão ativa ou passiva, value investing etc, como se fossem mutuamente excludentes ou que você tivesse que optar por apenas uma dessas.

E quase nenhum desses artigos vai nos dizer o que fazer, ou qual estratégia adotar, a depender do tipo de situação. Será que um value investor deve sempre ser um value investor independente do ciclo econômico ou das perspectivas das taxas de juros? Será que um investidor conservador não deve nunca elevar o seu perfil de risco mesmo em ambientes assimétricos?

Em alguns casos estamos falando de decisões táticas, mais voltadas a oportunidades de curto ou médio prazo, mas em outros casos poderiam ser decisões estratégicas decorrentes de mudanças mais estruturais do cenário. O ponto é que temos que combinar todos esses elementos e ferramentas de análise estratégica uns com os outros e com o cenário atual. Por exemplo, investir em ações de empresas em fase de crescimento (growth investing) não é recomendado em cenários de elevação de taxa de juros. Por que insistir numa estratégia que não é adequada, se o que se aproxima é um período de aperto monetário?

A justificativa de que o que importa é o longo prazo, e que esses períodos ruins se neutralizam com o tempo, é uma desculpa para a preguiça analítica. Sem dúvida, existe algum conforto em saber que mesmo depois de períodos ruins a estratégia deu certo. Mas o passado não é garantia nenhuma para o futuro, e além disso, é um risco enorme tendo em vista que alguns ciclos podem ser longos.

Uma boa alocação estratégica pode ser concebida com as ferramentas e estilos que for, mas deve ser ajustada ao longo do tempo para incorporar as evoluções dos ciclos econômicos e das mudanças de cenários.

Nossa estratégia de investimento deve ser baseada na análise de nossa posição atual, e as ferramentas utilizadas na elaboração do nosso plano e nossa carteira de investimentos vão depender do tipo da situação atual do mercado, e não apenas de nossa vontade ou conforto. É preciso jogar com as cartas que você tem. Tem horas que você precisa arriscar, e tem vezes que precisa passar.

A verdade é que não existe fórmula mágica e universal, e uma estratégia deve ser sempre flexível, pois o cenário está sempre em constante movimento, tanto o macroeconômico quanto a situação do próprio investidor.