Para 2022, conforme o relatório, as estimativas vão na mesma linha. O mercado projeta ainda uma inflação alta (4,55% ante 4,40%), os juros básicos em ascensão (10,25% ante 9,50%) e um crescimento da economia em desaceleração (1,20% ante 1,40%).
Para especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira, o quadro para os próximos meses é de muitas incertezas. A avaliação é que o Banco Central, na manutenção do ciclo de subida da Selic para conter a pressão dos preços aos consumidores, terá o desafio de não comprometer o crescimento do PIB.
Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da corretora Órama e professor da Ibmec (RJ), diz que, por isso, “o mais provável” é que o Comitê de Política Monetária (Copom) aumente os juros em 1,5 ponto percentual, de 7,75% para 9,25% ao ano, na última reunião de 2021, em dezembro. “É preciso conduzir com parcimônia essa elevação para não prejudicar a atividade econômica, que vem tentando se recuperar com a vacinação”, afirma. Mesmo esperando uma prudência do Copom, a Órama destoa do quadro geral do Focus e estima que o PIB irá crescer 0,5% no ano que vem.
O economista-chefe da corretora considera que, “para o BC subir ainda mais (os juros), é preciso um sinal de desancoragem nas expectativas da inflação para 2022 no boletim Focus”. “Se as projeções subirem muito fortemente pode ser, mas não apostaria nessa hipótese”, avalia. “Parte importante da nossa inflação está associada a choques de preços, como combustíveis, energia e alimentos. Com as chuvas recentes, a energia pode dar uma pequena aliviada, o que é positivo”, acrescenta.
Álvaro Bandeira, economista-chefe do banco Modalmais, também vê um “processo complicado” para o BC. “Fazer um aumento poderoso na taxa básica de juros terá efeito na atividade econômica”, diz. “Mesmo agora, já se fala em estagnação. Então não surpreenderia termos um PIB zero ou até negativo no ano que vem”. Ele observa que a inflação persistente e o aperto da Selic vão contribuir “ainda mais para a perda do poder de compra das pessoas” e “para a queda no consumo”.
O cenário para os investidores
Alexandre Espírito Santo aponta que “é preciso ter cuidado com movimentos bruscos” neste momento para ajustar a carteira. “A volatilidade subiu, inclusive na renda fixa”, diz. “Minha sugestão é ter um pouco de calma e não agir por impulso. Os preços dos ativos estão distorcidos e devem voltar à normalidade daqui a pouco”, acrescenta o economista-chefe da Órama.
Já Álvaro Bandeira, mesmo com o Ibovespa em queda de mais de 10% no ano, avalia que o cenário indefinido não pode ser um empecilho para quem investe ou deseja aplicar na Bolsa de Valores. “É possível realizar compras progressivas visando um retorno de médio ou longo prazo”, diz. “Temos empresas pagando bons dividendos, como Vale e Petrobras. Além de companhias com boa governança, com pegada ESG, que valem a pena selecionar”, completa o economista-chefe do Modalmais.