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Chuvas no Rio Grande do Sul devem causar aumento de preços de arroz, carnes e mais
As chuvas no Rio Grande do Sul devem causar aumento na inflação de alimentos como arroz, proteína animal e óleo de soja, segundo economistas e analistas ouvidos pela Inteligência Financeira. Os efeitos na inflação de 2024 ainda são difíceis de serem mensurados, mas é esperada piora de pelo menos 0,1 ponto percentual no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).
A margem sobre a inflação, contudo, tende a piorar, já que as águas ainda não baixaram no estado gaúcho e a totalidade do estrago não foi avaliada. A tragédia já deixou mais de 80 vítimas fatais e afeta 345 municípios, segundo dados da Defesa Civil do governo do Rio Grande do Sul.
Preço do arroz deve subir com chuvas no Rio Grande do Sul
As enchentes provocadas por uma série de temporais no Rio Grande do Sul devem afetar principalmente os preços de grãos produzidos pelo estado, como a soja e o arroz.
O grande risco para a inflação do Brasil, destaca Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, é a alta do arroz. Nas contas da economista, o preço do arroz no varejo deve disparar 20%.
Conforme explica Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos, o preço do arroz deve ser o primeiro a saltar nas prateleiras de supermercado. O motivo é o peso do Rio Grande do Sul na produção nacional de alimento: 70% da safra nacional é gaúcha.
“Com certeza o arroz vai subir mais rápido” destaca Tatiana. “Arroz, milho, farinha de milho, feijão, carne suína, óleo de soja, leite. Devemos observar um aumento de preço em todos esses produtos”, completa.
Andréa faz coro à colega: “onde achamos que as chuvas no Rio Grande do Sul devem afetar mais a inflação é no preço do arroz”. Afinal, o Rio Grande do Sul tem peso de 8% no IPCA, enquanto os preços praticados na capital, Porto Alegre, compõem 8,6% do índice.
“Por causa do El Niño, a cultura de arroz gaúcha foi muito favorecida e a expectativa anterior era de uma boa safra”, afirma Gabriel Boente, analista de commodities da Varos. Com as chuvas, o analista conta que o preço da saca de arroz a mercado já disparou de R$ 101 para R$ 106 entre abril e maio.
Alexandre Delara, sócio da Pine Agronegócios, estima perda entre 600 mil e 700 mil toneladas da safra de arroz gaúcha com as chuvas.
Chuvas também devem provocar alta nos preços de aves e suínos
As chuvas no Rio Grande do Sul também devem provocar aumento nos preços de carnes suína e avícola. Isso porque a região concentra grande quantidade de frigoríficos de abate desses animais, como instalações da BRF (BRFS3), destaca Boente.
Ao analista da Varos, a inflação sobre a carne de frango e de porco deve subir porque os frigoríficos gaúchos enfrentam o desafio de logística. As chuvas destruíram estradas e vias, criando gargalos no transporte de proteína animal.
Nesse sentido, empresas mais atingidas entre os grandes frigoríficos devem repassar os preços dos fretes aos consumidores, afirma Boente. “O escoamento dessas carnes para outras regiões vai ser muito difícil, e devemos ver uma inflação muito por conta disso, não tanto por perda de animais”.
Delara, da Pine, frisa que as enchentes no Rio Grande do Sul também destruíram vias para cidades pequenas, que conectam os frigoríficos tanto ao mercado nacional quanto ao de países vizinhos, como Argentina e Uruguai.
Além do desafio logístico, Delara diz que outro problema pode influenciar na alta de preços: o aumento no custo da ração para animais. Um dos principais componentes usados na produção da ração é justamente o farelo da soja.
“O Rio Grande do Sul colheu 72% de sua safra de soja neste ano, mas deixou de colher cerca de 6 milhões de toneladas. Desse total, esperamos uma perda de 2,5 milhões”, diz o consultor.
Delara cita, contudo, que os frigoríficos não devem repassar todo o aumento de custo da ração e das rotas de transporte ao consumidor. As empresas, dizem o especialista, têm um teto para aumentar o custo da carne no mercado.
“Se as classes C e D observam um aumento grande de uma vez, costumam trocar a carne pelo ovo”, diz.
Impacto no IPCA deve passar de 0,1 ponto percentual
Apesar de cravar uma variação de 0,1 ponto percentual para o IPCA em 2024, Andréa Angelo reconhece que o atual viés para a inflação pode surpreender para cima.
Além dos preços do arroz e na carne, as enchentes podem levar a um aumento nos preços da gasolina, diz a estrategista. Mas ela afirma que, por enquanto, “não houve alta considerável” no preço de combustíveis monitorado pela Warren.
Para Carlos Lopes, economista do Banco BV, o impacto da crise no estado deve gerar alta de 0,2 a 0,3 ponto percentual no IPCA para 2024. O cálculo do BV é preliminar.
O economista destaca impactos de problemas de armazenagem de safras de alimentos como principal detrator da inflação. “Por mais que algumas colheitas tenham chegado ao fim, temos muitos problemas com o que foi armazenado. Alguns produtores colheram antes, o que também promoveu uma produtividade menor.”
“Apesar da maior parte do milho e da soja ter sido colhido, ainda estimamos perdas de 20% desses insumos com as chuvas”, diz o economista.
“O risco tende a ser maior, mas ainda é difícil de mensurar. A perda de aves e gado deve gerar piora na inflação, mas a tendência é que os preços sejam devolvidos ao longo do ano”, conclui a economista.
Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos, calcula, então, que o IPCA pode sofrer uma variação entre 0,1 a 0,2 ponto percentual considerando os efeitos das chuvas no Rio Grande do Sul.
Como ajudar as vítimas das chuvas no Rio Grande do Sul?
Desde o início das enchentes no Estado, organizações do terceiro setor, órgãos públicos e mais se mobilizam para atender às vítimas desalojadas pelas chuvas.
Veja pelo menos 10 formas de realizar doações às vítimas de mais 345 municípios gaúchos.
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