BNDES não compete com Fazenda em novo marco fiscal, diz Mercadante

Presidente do BNDES, Mercadante diz que há espaço para queda dos juros no Brasil e descarta novos empréstimos à Venezuela

Aloizio Mercadante, futuro presidente do BNDES no governo Lula. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Aloizio Mercadante, futuro presidente do BNDES no governo Lula. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, afirmou nesta segunda-feira (13) que a instituição pretende debater política fiscal, mas negou que irá competir com o Ministério da Fazenda na elaboração do novo arcabouço para as contas públicas do país.

A declaração foi dada ao UOL Entrevista. Conforme Mercadante, o BNDES promoverá um seminário a partir do fim de março para analisar experiências internacionais em áreas como política fiscal. A ideia, disse, é trazer reflexões em meio à promessa do governo de substituição do teto de gastos.

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Esse evento foi construído em “comum acordo” com o Ministério da Fazenda, comandado por Fernando Haddad, disse Mercadante. Segundo ele, até a realização do seminário, a pasta já deverá ter elaborado uma proposta de marco fiscal para substituir o teto.

“O seminário vai ser feito depois que o marco fiscal estiver pronto. Não tem como competir com o marco fiscal, porque ele vai estar pronto”, disse.

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Em entrevista ao SBT na semana passada, Mercadante falou em debater a proposta com o governo. Também disse na ocasião que o BNDES tem liberdade para apontar caminhos para o Brasil em diferentes assuntos.

Mercadante aponta ‘zero’ concorrência entre BNDES e Fazenda

As declarações levantaram discussão sobre uma eventual competição com o Ministério da Fazenda, responsável pelo novo arcabouço fiscal. Nesta segunda, Mercadante descartou essa concorrência.

“Não tem concorrência. Não tem disputa. Cada dia é uma coisa. Antes era: ‘o Mercadante quer o cargo de ministro da Fazenda’. Ninguém mais do que o Haddad sabe o quanto eu o apoio, o quanto eu trabalhei e o quanto eu gostaria que ele estivesse na Fazenda. Estamos totalmente alinhados nessa direção”, afirmou ao UOL Entrevista.

Segundo Mercadante, não haverá censura dentro do BNDES, e será permitida a discussão de diferentes assuntos.

“Eles [membros do ministério de Haddad] são responsáveis pelo marco da responsabilidade fiscal. Eles vão elaborar. O BNDES vai trazer experiências internacionais e ajudar a ancorar, a fundamentar, a sustentar a proposta da Fazenda. Foi isso que foi combinado e será feito [no seminário]”, completou.

Há espaço para queda dos juros, diz Mercadante

Na entrevista, Mercadante ainda considerou que há espaço para a queda da taxa de juros no Brasil. “É evidente que há espaço para redução da taxa de juros. Nós temos que discutir qual é o ritmo e o prazo em que isso vai acontecer”, afirmou.

A atuação do Banco Central (BC) e o patamar da taxa Selic, atualmente em 13,75% ao ano, têm sido criticados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Durante a posse de Mercadante no BNDES, há uma semana, Lula chamou de “vergonha” o nível dos juros básicos no Brasil. O discurso do presidente, contudo, vem pressionando as expectativas de inflação e a curva de juros, o que causa um efeito reverso ao pretendido.

Sem novos empréstimos à Venezuela, diz presidente do BNDES

Mercadante ainda indicou nesta segunda que o BNDES não planeja fazer novos empréstimos para a exportação de serviços brasileiros para obras na Venezuela. O país é um dos que atrasaram pagamentos de repasses feitos pelo banco durante os governos petistas.

“Você pode ter uma renegociação de dívida, mas você não faz um financiamento para quem está inadimplente. Isso não está na pauta”, afirmou Mercadante, que chamou os atrasos de países como a Venezuela de um “problema completamente marginal” diante do tamanho da carteira do banco.

Em seu discurso de posse, o presidente do BNDES defendeu na semana passada uma posição “mais atuante” da instituição, com atenção especial à indústria e a empresas de menor porte.

Na visão de Mercadante, o Brasil não pode ser só “a fazenda do mundo”, deixando bens industriais para trás enquanto commodities agrícolas ganham cada vez mais espaço no exterior.

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