André Esteves diz que era de juros baixos provocou ilusão sobre bitcoins

Em evento, sócio sênior do BTG Pactual tratou de distorções nos preços dos ativos no mercado financeiro

O chairman e sócio sênior do BTG Pactual, André Esteves. Foto: Claudio Belli/Valor
O chairman e sócio sênior do BTG Pactual, André Esteves. Foto: Claudio Belli/Valor

Para André Esteves, presidente do conselho de administração e sócio sênior do BTG Pactual, os juros baixos praticados nas grandes economias globais desde meados de 2007 criaram distorções nos preços dos ativos no mercado financeiro e na percepção de parte dos investidores a respeito da boa diversificação dos portfólios de investimento.

Segundo o executivo, nos últimos 15 anos, o mercado conviveu com um ambiente de “bull market” [períodos de forte alta dos ativos de risco], que coincidiu com taxas de juros reais negativas nas economias dos mercados desenvolvidos.

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“Isso inflou os preços de muitos ativos financeiros e criou várias teses do ponto de vista da diversificação de portfólio que não necessariamente se mostram verdadeiras quando tem uma reversão do cenário”, afirmou Esteves, durante evento promovido pelo BTG Pactual nesta terça-feira (21).

O principal nome à frente da instituição financeira disse ainda que, na esteira da era de juros baixos desde praticamente a crise imobiliária nos Estados Unidos, se desenvolveram teses a respeito do potencial das criptomoedas, com alguns agentes de mercado chegando a defender que o bitcoin se tratava de uma opção tão segura para as carteiras como o ouro.

No entanto, com a alta da inflação e dos juros nos mercados desenvolvidos, e a forte correção da bolsa americana de tecnologia Nasdaq, o bitcoin caiu ainda mais do que as ações, assinalou Esteves.

A Nasdaq acumula desvalorização de 31% no acumulado de 2022, até 17 de junho, enquanto a mais popular das criptomoedas recua 55%. O ouro sobe cerca de 0,5% no intervalo. O bitcoin “não é nada ‘digital gold’ [ouro digital]”, disse o presidente do conselho de administração do BTG Pactual, , após ser destituído em meio a uma grave crise que atingiu o banco.

Esteves disse ainda que a pressão inflacionária em escala global, que não se via desde os anos 1970, reflexo das respostas dos governos à pandemia e, mais recentemente, da guerra da Ucrânia, fez com que os principais bancos centrais do mercado tenham ficado “um pouco atrás da curva”, tendo de acelerar o ritmo de alta dos juros para conter a alta dos preços.

Na semana passada, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) elevou a taxa de juros americana em 0,75 ponto percentual, a maior alta desde 1994. “No caso do Brasil, o Banco Central está muito à frente dos outros bancos centrais”, acrescentou o executivo. No mesmo dia da alta dos juros pelo Fed, o BC brasileiro promoveu a 11ª alta seguida na taxa Selic, para 13,25% ao ano, maior patamar desde o início de 2017.

A readequação do custo de capital em meio à normalização das políticas monetárias é “quase invariavelmente um pouco sofrida”, afirmou Esteves, que fez referência à volatilidade dos preços dos ativos financeiros, como não se via há algum tempo, pontuou. “O cenário é bastante adverso, e confronta a teoria de gestão e de diversificação do portfólio que foi sendo construída ao longo dos últimos 15 anos festivos.”

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