América Latina pode sofrer impacto dos juros americanos, diz Citi

Inflação, a maior em 40 anos, sinaliza um ciclo de aperto monetário agressivo

Os mutual funds investem em ações, títulos de renda fixa, instrumentos de mercado monetário de curto prazo e outros valores mobiliários ou ativos -
Foto: Pixabay
Os mutual funds investem em ações, títulos de renda fixa, instrumentos de mercado monetário de curto prazo e outros valores mobiliários ou ativos - Foto: Pixabay

Os ciclos de alta de juros nos Estados Unidos geralmente são associados a crises na América Latina. Quando os fundamentos locais estão fortes ou quando as condições externas ajudam (como nos anos 2000 em que o ciclo de alta no juro americano foi equilibrado pela expansão da China e alta de preços de commodities), a América Latina consegue ficar menos chamuscada. Mas agora, a situação é mais preocupante.

Segundo relatório do Citi, a alta inflação americana – a maior em 40 anos – sinaliza um ciclo de aperto monetário mais agressivo, e uma crescente probabilidade de recessão nos EUA, o que teria um impacto negativo nos países latino-americanos.

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Considerando os fundamentos da região, a velocidade da deterioração das contas correntes – apesar do alto preço das commodities em função da guerra da Ucrânia – e os desafios fiscais pós-pandemia, são motivos para estar atentos ao impacto que o aperto do Federal Reserve, o Fed, terá na América Latina, diz relatório assinado pelos economistas do Citi, Ernesto Revilla, Fernando Diaz e Iván Stambulsky. Um dos pontos de atenção é que a inflação elevada da região limita os ajustes que geralmente acontecem via variação cambial, à medida que os bancos centrais locais estão mais preocupados em reduzir a inflação e a deterioração das expectativas.

Na década de 2000, fundamentos fortes criaram uma proteção ao choque provocado pelo ciclo de alta de juros americano. “Com a ascensão da China à Organização Mundial do Comércio, e o consequente superciclo de commodities, os países da América Latina conseguiram consolidar sua estabilidade macroeconômica, implementando regimes de metas de inflação com taxas de câmbio flexíveis e regras fiscais”, diz o relatório. Esses países também conseguiram aprimorar seus sistemas financeiros, ficando menos dependentes de dívidas atreladas ao dólar, e se protegendo dos ciclos de alta do Fed, diferente do que aconteceu na década de 80, quando a alta de juros dos EUA – em 1980, 1981 e 1988 – provocaram grandes crises macroeconômicas na América Latina, principalmente na Argentina, Brasil e Peru, que terminaram a década registrando hiperinflação.

Juros americanos com potencial para subir mais

Porém, agora, os fundamentos não são tão bons: a inflação americana é alta e as condições locais não tão fortes. O Citi estima que o juro terminal do ciclo de alta nos EUA será de 3,75% em 2023, com potencial para subir ainda mais. “O fato da inflação americana estar em seu maior nível em 40 anos, aliado às incertezas nas previsões, deve criar problemas para a região”, diz o relatório.

Historicamente, nos ciclos de alta do Fed desde 1965, duas coisas se destacam:

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  • Ciclos de alta do Fed correspondem a um período de turbulência cambial na América Latina;
  • A intensidade dessas turbulências não apenas está relacionada com variação cambial nos EUA, mas também com seu nível, ou seja, quanto maior a taxa de juros, maior a volatilidade cambial.

Esses dois fatores, segundo o Citi, revelam que juros maiores nos EUA pressionam mais as contas públicas dos países da América Latina, tornam os investidores menos tolerantes ao risco e provocam fuga de capital para fora desses países.

Inflação nos EUA afeta moedas da América Latina

Segundo o banco, a história também revela que quando a inflação está elevada nos EUA, as moedas dos países latino-americanos sofrem mais. O Citi ressalta que muitos países da América Latina registram agora uma forte recuperação depois da pandemia, principalmente devido a preços excepcionalmente muito elevados de commodities causados pela guerra na Ucrânia. “Se os preços das commodities caírem por qualquer motivo, e se a valorização do dólar persistir, as contas externas desses países podem enfrentar pressão adicional. E os países da América Latina tem níveis de dívida externa mais elevados que qualquer outro país emergente, comparado com outros ciclos de aperto monetário do Fed”. E em um cenário de alta de juros, alerta o banco, as dúvidas sobre a sustentabilidade dessas dívidas voltam a crescer, o que pode levar a fuga de capital e desvalorização da moeda.

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