Alckmin defende alimentos e combustíveis fora do cálculo da inflação
O presidente em exercício da República e ministro do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), Geraldo Alckmin, defendeu nesta segunda-feira o debate sobre retirar alimentos e combustíveis do indicador de inflação utilizado pelo Banco Central para ajustar a Selic.
Alckmin notou que esta é a metodologia utilizada pelo Federal Reserve.
“Mencionei o exemplo americano porque ele tira do cálculo da inflação o alimento porque ele é muito clima. Se tenho seca forte, sobe preço do alimento, não adianta aumentar juros que não vai fazer chover, só vou prejudicar a economia”, afirmou Alckmin.
Ele participou por videoconferência do evento “Rumos 2025”, organizado pelo Valor no Hotel Rosewood, em São Paulo. Ele lembrou ainda do impacto dos juros sobe a dívida pública.
Inflação de alimentos no foco
Sobre possíveis medidas “heterodoxas” para combater a inflação de alimentos, Alckmin destacou o câmbio mais apreciado e a previsão de alta de 10% da safra este ano.
“Estamos mais otimistas: o clima melhorou, há expectativa esse ano de crescimento da safra de quase 10%, se no ano passado a indústria ajudou elevar o PIB, esse ano agricultura vai dar um empurrão”, disse.
Ele defendeu também as medidas transitórias, como a adoção de estoques regulatórios pela Conab e queda do imposto de importação de alguns alimentos.
“Bom destacar que o governo federal não cobra tributo sobre cesta básica, alguns estados têm ICMS, não vou dizer que dá para tirar de tudo, mas as vezes de um ou outro ajuda nessa questão transitória”, disse.
Resposta às tarifas de Trump
Geraldo Alckmin afirmou que a adoção de uma cota de exportação é uma das alternativas que estão à mesa nas negociações comerciais com os Estados Unidos, que recentemente taxou o aço e alumínio brasileiros em 25%.
“Tive uma conversa com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, e o representante comercial americano (USTR), Jamieson Greer. Uma das ideias é estabelecer uma cota. Antes, havia uma tarifa de 18%, mas até certo volume tinha essa cota. São negociações que estão ocorrendo e estamos defendendo o ganha-ganha, aproveitar as oportunidades.”
O vice-presidente afirmou que “lamenta” a postura dos Estados Unidos de elevar tarifas para o Brasil e lembrou que o gigante tem superávit na balança comercial, tanto de serviços (US$ 18 bilhões) como de bens (US$ 7 bilhões). “Dos 10 produtos mais exportados para eles, em 8 tarifa é zero”, ressaltou.
Investimentos no Brasil
A postura dos Estados Unidos, que anunciou a sua saída do Acordo de Paris, em relação à questão ambiental não é boa, mas não altera o protagonismo do Brasil, disse Alckmin (PSB) durante o talk show.
“Nós somos hoje o grande protagonista na segurança alimentar, segurança energética e energia limpa, com inúmeras oportunidades, e grande protagonista na questão climática”, disse Alckmin. “Temos a maior floresta tropical do mundo”, acrescentou.
Alckmin disse que está otimista com investimentos em data centers, hidrogênio verde, SAF, o combustível sustentável de aviação, com avanço do país em questões regulatórias, como os marcos legais do hidrogênio verde, das eólicas em alto mar e dos biocombustíveis; e o mercado regulado de carbono.
“Mudou a postura do Brasil, queremos desmatamento ilegal zero, e até recompor parte da Floresta Amazônica”, disse Alckmin.
O presidente em exercício disse que o país segue concentrado na transição ecológica, e mencionou o compromisso do país em reduzir suas emissões líquidas de gases de efeito estufa entre 59% a 67% em 2035, em comparação aos níveis de 2025, entregue a Simon Stiell, secretário executivo da Convenção sobre Mudança do Clima das Nações Unidas, durante COP 29, em Baku, no Azerbaijão.
“As metas da COP de Baku são ousadas, mas factíveis”, disse, ele que destacou a oportunidade do evento climático que aconteceu no país esse ano para alavancar o protagonismo climático do país. “A COP é desafiadora, mas é uma mudança importante”.
A participação de Alckmin foi mediada por Fernando Exman, chefe da redação do Valor em Brasília, e por Maria Cristina Fernandes, colunista e repórter especial do Valor.
Eleição presidencial de 2026
Os temas da eleição de 2026 serão vários, mas para a disputa nacional é a economia que irá prevalecer e o governo tem o que mostrar. Essa é a opinião do presidente em exercício e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB).
“Numa eleição municipal é muito cidade, manutenção, asfalto, buraco, iluminação, creche, o posto médico. Na eleição para o Estado, é segurança pública, infraestrutura, autoestradas, rede hospitalar. Já no governo federal, é o tema econômico que prevalece”, comentou.
Alckmin mencionou como avanços a reforma tributária, o crescimento do PIB e de empregos na indústria, entre outros. “Pulamos de 40 anos para quase 80 anos”, defendeu o presidente em exercício, que mencionou a preocupação do governo com as mudanças climáticas como algo positivo.
Segundo Alckmin, o novo empréstimo consignado do setor privado, que entrou em operação na sexta-feira, foi outro avanço do governo. “Medida importantíssima, vai tornar o crédito mais barato para a iniciativa privada”, afirmou.
Outra medida destacada foi a proposta de isenção do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) para quem recebe até R$ 5 mil por mês, compensada com a criação de uma alíquota mínima efetiva sobre contribuintes de alta renda, que ganham acima de R$ 600 mil por ano.
“O ministro Haddad fez um trabalho muito bem feito, a política é neutra […] de tal maneira que não tenho problema fiscal e ajudo a distribuição de renda”, completou Alckmin, que chamou a isenção de justiça tributária e social.
Com informações do Valor Econômico