O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nos últimos dias que a inflação atingiu o pico em setembro, quando o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses ficou em 10,25%. A aposta do chefe do BC é que haja uma desaceleração até o final do ano. A autoridade monetária estima que o índice irá encerrar 2021 em 8,50% – superando o teto da meta de 5,25%.
O mais recente boletim Focus, divulgado na segunda-feira (18), mostra que os especialistas das instituições financeiras não estão tão afinados com Campos Neto e ainda veem uma tendência de alta para o IPCA. Foi a 28ª vez seguida que o índice foi elevado, agora para 8,69%. Já projetando 2022, a expectativa para a inflação no ano que vem está em 4,18%, enquanto o centro da meta estipulada pelo Banco Central é de 3,50%.
Para Felipe Sichel, estrategista-chefe do Modalmais, a dinâmica para a inflação deve seguir bastante pressionada e com a possibilidade variações mensais fortes. O alívio deve começar a vir no começo de 2022. “Dificilmente teremos novos reajustes da bandeira tarifária de energia”, diz. “A indicação é que as tarifas sejam revistas para baixo no começo do ano que vem, o que contribui para um índice menor.”
O sócio do banco digital comentou que a grande dúvida que permanece sobre ao IPCA está em relação ao setor de serviços. Sichel disse que o desempenho sofre a pressão pela reabertura, mas que há o fator desemprego contribuindo para a dinâmica de serviços ficar mais fraca. “Isso pode ser o principal foco de surpresa negativa. Na medida em que a gente espera um crescimento baixo da economia e na ausência de choques, isso deveria contribuir para que os preços fiquem mais fracos ao longo do tempo.”
O estrategista-chefe do Modalmais avaliou também a sinalização do Banco Central de que a taxa básica de juros tende a subir 1 ponto percentual nas últimas duas reuniões do ano do Comitê de Política Monetária (Copom). Ou seja, a taxa Selic irá avançar dos atuais 6,25% ao ano para 8,25% ao ano – maior valor desde setembro de 2017.
Conforme Felipe Sichel, o cenário de inflação alta e juros em elevação é uma combinação ruim para as pessoas. “Porque significa essencialmente que a renda real está menor. Você está gastando mais dinheiro para consumir menos”, disse. “A Selic elevada contribui ainda para um ciclo de crescimento menor à frente. Ou seja, não existe viés de melhora para esta renda”, acrescentou.
Já para os investimentos, o especialista vê um panorama de eventual saída de ativos “excessivamente arriscados”. “A direção provável é para ativos que possam se beneficiar efetivamente de um cenário de inflação mais acelerada.”