Vale: China pode ‘supervisionar’ preço do minério; como isso afeta as ações VALE3?

Preço da commodity está no nível mais alto desde junho do ano passado

Entenda os fatores que mexem com o valor das ações da vale e com outras empresas do setor de mineração e siderurgia - Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Entenda os fatores que mexem com o valor das ações da vale e com outras empresas do setor de mineração e siderurgia - Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Há cerca de 10 dias vem sendo noticiado na China a possibilidade do governo adotar medidas que tentem regular o preço do minério de ferro. Mas o que isso impacta nas ações da Vale (VALE3)?

O anúncio vem com a escalada da commodity, que atingiu U$$ 132 a tonelada na última quinta-feira, maior valor desde junho do ano passado.

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Por que a China é importante para a Vale (VALE3)?

Aliás, China é o maior comprador de minério de ferro do mundo, com uma fatia de 70% das aquisições globais da commodity.

Com isso, donos de ações da Vale (VALE3) estão de olho nas perspectivas para os papéis da empresa. E não é por menos, cerca de 50% das receitas líquidas da mineradora no ano passado vieram de vendas para a China. 

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Governo chinês aumenta tarifas de armazenagem em portos

Em comunicado do NDRC (Comissão Nacional de Reforma e Desenvolvimento), foi informado que foram iniciados estudos para lidar com a subida rápida dos preços do minério de ferro.

Com isso, no mesmo dia (6 de março), os contratos futuros de minério para maio registraram queda de cerca de 2%. Mas, esta não foi a primeira vez que o governo chinês fala em “reprimir” a subida dos preços.

Em junho de 2021, após o minério atingir cerca de U$$ 200 a tonelada, o governo anunciou que iria tomar medidas. Entre elas, combater a “manipulação, a especulação, a formação de monopólios e a acumulação ilegal de reservas em seus portos”. 

Coincidência ou não, as advertências do governo chinês contribuíram para a queda dos preços nas semanas seguintes. No entanto, também à época, os sucessivos fechamentos da economia chinesa com a política de Covid 0 foram primordiais para a queda da demanda, impactando a cadeia de commodities. 

Já desta vez, o anúncio não segurou os preços e nos dias seguintes às advertências, o valor da commodity voltou a subir. O que chama a atenção agora é a frequência com que o governo chinês faz essas declarações, antes sazonais ou anuais, este ano, já vieram em três ocasiões.

Aliás, o preço do minério já subiu cerca de 60% desde o início de novembro. Já as ações da Vale (VALE3), acumulam alta de aproximadamente 17% no período.

Com isso, de acordo com uma reportagem da Bloomberg, autoridades chinesas já começaram a aumentar as taxas de armazenagem de minério em seus portos.

O que está acontecendo com as ações da Vale (VALE3)?

Pedro Galdi, analista da Mirae Asset, diz que vê pouco impacto para as ações da Vale (VALE3). Segundo ele, a retórica chinesa é difícil de ser implementada, especialmente com a retomada da economia local.

“Há pouco tempo, tínhamos a China parada com o plano para Covid 0 impactando preços de aço e minério de ferro. Agora, com a retomada da economia temos uma situação interessante, preço do minério de ferro na faixa de US$ 130/ton e o preço do aço se recuperando na China”, diz.

Galdi diz também que a recuperação econômica chinesa já vem refletindo em números. “A produção de veículos lá registrou aumento de 20% em fevereiro e deve seguir em evolução. Os estoques de minério de ferro nas siderúrgicas estão em 19 dias, contra média histórica de 27 dias”, afirma.

Para o analista, mesmo com as advertências do governo chinês, o momento é de compra para as ações da Vale(VALE3).

Analista do Itaú não vê grandes mudanças para a Vale(VALE3)

Daniel Sasson, analista de commodities do Itaú BBA, também vê como difícil a batalha do governo chinês contra os preços do minério de ferro. “Embora a China represente a maior parte da demanda global por minério, há centenas de pequenas siderúrgicas no país, o que faz com que a tentativa de centralização das compras por uma entidade única não seja super fácil”, diz.

Daniel também afirma que o poder das mineradoras é grande neste embate. “Do lado da oferta, a Vale (VALE3) e mais 3 grandes produtores australianos, as BIG 4, representam  cerca de 75% da oferta de minério de ferro no mundo, então é um cenário mais concentrado na ponta da oferta”, afirma.

Com relação aos preços de minério, ele diz que é comum haver volatilidade quando as advertências do NDRC são publicadas, mas depois o preço acaba se regulando por conta própria.

“Historicamente, o preço do minério de ferro reagiu negativamente nos dias seguintes aos anúncios de que a China aumentaria o controle sobre a negociação da commodity. Mas a médio prazo, as forças de oferta/demanda acabam prevalecendo”, diz.

Quais as perspectivas para as ações da Vale (VALE3)?

A agência Fitch soltou um comunicado na última semana mostrando perspectiva de alta no preço da commodity, mas com valores abaixo dos atualmente negociados.

“Elevamos nossas estimativas de preço do minério de ferro para 2023-2025 por conta de uma demanda mais forte da siderurgia na Europa, na América do Norte e outras partes da Ásia”, diz um trecho do documento.

Aliás, a previsão era de preços ao redor de U$$ 85 a tonelada, passando agora para U$$ 100.

Já a agência Moody’s, em comunicado também na última semana, espera que os preços do minério se mantenham em níveis altos até o fim do primeiro semestre, caindo até meados de 2024 à medida que a oferta supere aos poucos a demanda. 

Além disso, Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos, lembra também que a atual fase de alta dos preços tem relação com o clima. Brasil e Austrália são os maiores fornecedores de minério da China e por estarem no hemisfério sul, sofrem com os ciclos de chuva do primeiro trimestre do ano.

“As altas taxas pluviométricas nessa época do ano reduzem a produção das grandes mineradoras. Mas passando esse período, com maior nível de oferta circulando, devemos ver preços mais baixos que neste momento”, afirma.

O que está acontecendo com a economia chinesa?

A expectativa é que a economia chinesa  volte a crescer de forma mais acentuada este ano com o fim da política de Covid 0. No ano passado, o governo estabeleceu como meta 5% de crescimento, mas o país encerrou 2022 com 3%.

O resultado foi o segundo pior em meio século, perdendo apenas para 2020 devido à pandemia.

Aliás, a meta de crescimento para 2023 é de “cerca” de 5%. O alvo é um dos mais baixos feitos pelo governo comunista em décadas. 

Ilan afirma que mesmo com o fim da política de Covid 0, a economia chinesa enfrenta outros desafios. “Há alguns gargalos, sobretudo quando você olha para o setor imobiliário e vê os preços caindo e a área construída em queda. Não há a robustez do cenário pré-Covid. Lembrando que esses dois setores que representam a maior parte da demanda por minério de ferro”, diz.

Além disso, ele explica que o episódio envolvendo a Evergrande, segunda maior incorporadora imobiliária do país, com dívidas de U$$ 300 bilhões, mostra que há ainda muitos desafios em uma retomada mais forte do crescimento chinês.

“Essa queda na expectativa de crescimento (5%) da China pega a Vale (VALE3), mas já havia alguma expectativa de crescimento mais módico, mesmo com governo chinês oferecendo sistematicamente facilidades para a expansão do crédito”, diz.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.

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