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O que esperar do dólar blue para 2024 com Milei no poder?
Taxa de câmbio mais popular entre turistas brasileiros e argentinos para compras e pagamentos do dia a dia, o dólar blue voltou a subir após a incerteza de aprovação do megadecreto do presidente da Argentina, Javier Milei.
A cotação do blue, que caiu após a vitória do ultraliberal na eleição de 2023, vem novamente pesando no bolso do argentino em meio a uma incerteza da aprovação do megadecreto de Javier Milei. E isso é bom para os turistas brasileiros, dizem economistas consultados pela Inteligência Financeira.
Para especialistas, o cenário da economia argentina tende a piorar antes de melhorar. Principalmente porque a inflação deve seguir descontrolada pelo menos nos próximos seis meses, desvalorizando o peso diante do dólar americano. Ou seja, o dólar blue vai favorecer estrangeiros na troca de câmbio por um lado. Por outro, os preços já subiram para quem visita ao país.
O que é o dólar blue e por que ele virou referência na Argentina?
O dólar blue é uma das principais taxas de câmbio da Argentina. O país possui, ao todo, sete taxas de câmbio sem considerar a cotação oficial.
A emissão de pesos descontrolada no governo de Alberto Fernandéz levou a uma alta taxa de inflação, e, ao mesmo tempo, a uma desconfiança do mercado sobre a taxa oficial do dólar contra o peso.
Argentinos vêm optando por fugir do peso e acumular dólares. Assim, a taxa de câmbio blue ganhou uma importância cada vez maior porque virou referência para o varejo local.
Argentinos passaram a usar o dólar blue ou taxas semelhantes para tudo: comprar casas, carros ou até investir, diz Carlos Herrera, fundador da Condor Insider.
“Estou falando no dia a dia mesmo. Quando o pessoal pensa em comprar uma casa, um carro, compra dólares no mercado financeiro a um preço parecido com o dólar blue”, diz o analista.
O que mudou no dólar blue com Milei no poder?
Após o primeiro mês de governo de Milei em 2024, o peso continua perdendo valor em relação ao dólar na cotação do câmbio blue. Na visão de analistas, é um sinal de que o mercado ainda está aguardando medidas mais certeiras do presidente para melhorar a economia do país.
Quando Milei foi eleito, nota a economista da seguradora de crédito Coface, Patrícia Krause, a diferença do câmbio paralelo e da taxa oficial caiu para cerca 20%.
Ao mesmo tempo, afirma Krause, a entrada de Milei no poder desvalorizou o peso em 188% em relação ao dólar. A incerteza que marca o início do mandato do presidente argentino levou a uma nova alta do dólar paralelo.
Na última sexta-feira, o governo aprovou no Congresso a proposta apelidada de “Lei Ônibus”, mas agora deputados devem analisar a proposta item por item. A reforma trabalhista que faz parte do megadecreto de Milei, contudo, foi julgada inconstitucional pela Justiça.
“A diferença do câmbio paralelo voltou a subir. Em relação ao câmbio oficial, teve alta de 46%”, diz Krause. Além da dificuldade para aprovar medidas de ajuste fiscal, a inflação está no calcanhar do governo Milei. O IPC, índice oficial de preços do país, subiu 25% desde que o ultralibertário assumiu a presidência da Argentina.
Preços para turistas brasileiros pioraram, mas tendem a melhorar
Com a desvalorização do peso, o setor de consumo e serviços argentino ganhou novos estímulos para repassar preços ao consumidor local e aos turistas que visitam o país.
Eduardo Campos, diretor da câmbio do Banco Daycoval, explica que houve “um aumento significativo nos custos para os brasileiros”, especialmente nos custos de hotéis e restaurantes.
“Contudo, vale notar que os preços estão em ajustes de acordo com a dinâmica de oferta e demanda dos produtos”, diz.
Carlos Herrera, contudo, afirma que hoje existe uma vantagem em usar o cartão de crédito para compras em dólar. Mas a vantagem depende do destino turístico.
“Em lugares como Córdoba e Rosário, cidades mais afastadas de Buenos Aires com fraca demanda por dólar, voltou a ser vantajoso usar o cartão de crédito”, afirma.
Apesar de especialistas notarem um aumento de preços para turistas, há uma expectativa de que a inflação argentina suba nos próximos meses, ampliando a diferença do peso para o real. E isso pode favorecer o turista brasileiro, diz Paloma Lopes, economista da Valor Investimentos.
“Quando observamos a situação do peso argentino frente ao real, isso tende a melhorar para brasileiros e piorar cada vez mais para os argentinos”, diz Patrícia ao citar que a economia argentina “deve continuar caótica”.
Vale a pena trocar pesos pelo dólar na Argentina?
A recomendação de casas de câmbio é que o turista brasileiro evite realizar trocas de pesos argentinos para o dólar blue dentro do país. Mas que ele deve manter um pouco da moeda argentina no bolso para emergências.
Conforme explica Ricardo Amaral, presidente da Western Union no Brasil, a troca de moeda diretamente na Argentina “pode trazer alguns riscos”. O primeiro sendo que cambistas podem usar o dólar blue para atrair turistas e trocar pesos por notas falsas. O segundo é a alta volatilidade.
“Muitas vezes, os turistas acabam sendo atraídos por casas de câmbio informais, que podem lesar o cliente com bilhetes falsificados, ou com cotações com muita disparidade da realidade. A volatilidade também é algo a ser considerado, já que muitas vezes ocorre do valor da moeda sofrer fortes alterações e o cliente perde a referência na hora da troca”, diz Amaral.
Já Campos, do Daycoval, recomenda que brasileiros “continuem considerando a opção de viajar com dólares em espécie”. Mas o diretor de câmbio adverte que o turista pode andar com uma pequena quantia em peso para “necessidades imediatas”.
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