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BTG: Dólar poderia cair abaixo de R$ 4 sem sinais ‘agressivos’ do Fed
Empresas citadas na reportagem:
A forte tendência de queda do dólar comercial no primeiro trimestre de 2022, que levou a moeda americana ao menor nível desde março de 2020, poderia ser ainda mais significativa sem os sinais agressivos do Federal Reserve (Fed). “Os modelos de câmbio já incorporam um juro americano mais alto. E por isso, apesar de preços de commodities perto dos picos históricos e uma Selic alta, não temos uma volta mais forte do dólar ao patamar pré-pandemia, de R$ 4,20”, diz Iana Ferrão, economista do BTG Pactual. “Sem o Fed hawkish, poderíamos até ver o dólar abaixo de R$ 4.”
Ferrão afirma que, do ponto de vista dos fundamentos macroeconômicos, o real ainda está depreciado e permanece entre as moedas mais desvalorizadas desde 2020. A divisa segue, assim, aquém do patamar pré-pandemia e distante da performance de algumas divisas pares, que já conseguiram diminuir a queda observada desde o início do choque da covid-19.
Segundo ela, modelos que procuram replicar o comportamento da taxa de câmbio nominal de curto prazo, que levam em consideração os preços de commodities, o diferencial de juros e o indicador de risco-país, apontam para uma taxa de câmbio entre R$ 4,50 e R$ 4,70, mais apreciada que a atual. “Mas há dúvidas se ainda veremos a convergência acontecer”, diz.
O teor mais conservador da linguagem do Fed usado recentemente, nesse sentido, impede, assim, uma apreciação ainda maior do real, diante da perspectiva de que a política de juros mais apertada nos Estados Unidos fortaleça o dólar globalmente, na avaliação da economista do BTG.
Sobre a boa performance do real, que já se valoriza 15% no acumulado de 2022, a profissional chama a atenção para o fluxo cambial positivo, que já é o maior para o primeiro trimestre em dez anos. Segundo os dados de hoje divulgados pelo Banco Central, houve ingresso de US$ 9,5 bilhões no acumulado do ano até 18 de março. O ingresso de recursos pela conta financeira também é significativo, de US$ 6,95 bilhões, também o maior desde 2012, observa Ferrão.
“E é bom lembrar que o primeiro trimestre ainda não acabou. E esta semana foi de uma forte queda do dólar. Ou seja, podemos ver um fluxo cambial e financeiro ainda mais fortes”, aponta a economista do BTG.
Ela destaca que a conta financeira tem tido fortes ingressos no início de ano explicada pelo aumento do investimento estrangeiro no país, que busca predominantemente ações, mas que também deve se refletir em alocações na renda fixa doméstica. “Alguns fatores explicam isso. Acho que o primeiro é o aumento dos preços de commodities lá fora, e commodities que são as mais importantes da pauta exportadora brasileira, como soja, milho e minério”, aponta Ferrão.
A economista cita, ainda, que os juros elevados e a taxa de câmbio depreciada se comparada aos fundamentos também atraiu compradores de real. “E os preços da nossa bolsa também têm estado bastante atrativos, o que incrementou o fluxo”, emenda.
Ferrão enumera, ainda, fatores externos, como os sinais mais restritivos do Fed, que num primeiro momento, como se viu em janeiro, geraram saída de recursos das bolsas que estavam alocados em empresas de tecnologia, sendo redirecionados para emergentes.
“O Brasil acabou ficando mais atraente em comparação aos pares para o fluxo de investimento estrangeiro justamente por causa da exposição a commodities, pelos preços depreciados e os juros altos no comparativo global”, diz.
“E, com o conflito na Ucrânia, também houve um novo redirecionamento de fluxos para alguns emergentes”, aponta. Mais recentemente, observa ela, no atual contexto de geopolítica e pandemia, tem havido uma migração de recursos dos mercados da China também para ativos de emergentes, como o Brasil.
Para ela, o mercado também não tem precificado uma deterioração do risco político, o que ajuda numa melhor performance da divisa brasileira. “Os agentes não esperam, hoje, uma ruptura econômica independentemente do eleito”, avalia Ferrão.
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