Dólar vale a pena como investimento de curto prazo?

Desde julho do ano passado a cotação do dólar oscilou entre R$ 5,00 e R$ 5,50/USD, mas nas últimas semanas o real ganhou força. É hora de comprar?
Pontos-chave:
  • Neste artigo, o assunto é o mercado de câmbio e analiso esse momento do dólar fraco
  • O risco para a continuidade desse cenário otimista para a moeda brasileira é tanto interno quanto externo
  • Para investidores que não operam via mercados futuros, não se esqueça de que existe um custo de oportunidade, como em qualquer investimento: o CDI continua atrativo

Neste ano a moeda brasileira está apresentando uma boa performance contra o dólar. Desde julho do ano passado a cotação do dólar oscilou dentro de uma faixa entre os R$ 5,00 e R$ 5,50/USD, mas nas últimas semanas o movimento de valorização do real parece ter ganhado força.

Drivers macroeconômicos

Em mercados onde o câmbio não é controlado, como no caso do Brasil, no curto prazo as moedas respondem a fluxo, com oferta e demanda determinando a cotação. A entrada e saída de divisas de um país ocorre o tempo todo, e uma das principais razões para isso é a balança comercial. Por exemplo, um exportador agrícola recebe o pagamento em dólares, e compra reais ao internalizar esse dinheiro; de forma semelhante, ao importar uma máquina para sua fábrica, a empresa precisa comprar dólares para fazer a remessa ao vendedor.

Mas além de fluxos relacionados à economia real, há também o fluxo atraído pelo diferencial de juros. São operações financeiras que chamamos de carry trade. Os investidores buscam sempre a melhor alocação dos recursos, ajustada ao risco. O carry trade é uma operação relativamente simples, na qual o investidor capta em país com juros baixos e aplica em país com juros altos. Portanto, tudo o mais constante, a elevação da taxa de juros aumenta a atratividade da moeda.

Já no longo prazo, as moedas tendem a se equilibrar em função do seu poder de paridade de compra (PPC), e essa é uma relação que se baseia no diferencial de inflação entre os países.

Aversão a Risco

A discussão, mesmo que superficial, sobre os principais drivers para o mercado de câmbio não estaria completa se não falássemos sobre moedas fortes e o sentimento de aversão a risco dos investidores. O fato é que em ambientes de maior incerteza, o investidor busca segurança e liquidez, em geral investindo em títulos de dívida de governos com moedas fortes, como o dólar.

Mas o dólar não é a única moeda segura com liquidez. O euro, o yen japonês e o franco suíço também são considerados portos seguros para os investidores. A grande vantagem do dólar é que ele é tido como a principal moeda de reserva global, principalmente por ser a moeda mais utilizada nas transações de comércio internacional.

Essa prerrogativa do dólar, no entanto, vem sendo questionada, em especial após a decisão de congelamento dos ativos russos como retaliação à guerra da Ucrânia. A quebra de confiança no dólar é um dos temas mais discutidos, principalmente nesse mundo em que a China começa a despontar como um líder. No grande tabuleiro geopolítico, as peças estão se movendo rapidamente.

A queda do dólar

Muita gente vem dando atenção a essa possível perda do status do dólar, mas não acredito ser essa a principal causa da recente queda do dólar, pelo menos agora.

O dólar começou a perder força contra o euro a partir de outubro: a inflação americana já havia alcançado o pico, o BCE (Banco Central Europeu) também vinha subindo suas taxas de juros em ritmo acelerado, e os mercados começaram a assumir uma visão um pouco mais otimista com a potencial reabertura da economia chinesa.

A perspectiva de retomada do crescimento chinês significa mais comércio internacional, o que historicamente tem correlação negativa com o dólar, justificando um dólar mais fraco.

Em fevereiro deste ano, com os dados de inflação persistentes, as curvas de juros passaram a precificar a possibilidade de o Fed ter que subir mais os juros e de forma acelerada, o que ajudou o dólar a subir contra o euro.

Mas então tivemos as quebras de bancos regionais americanos e o Fed atuando rapidamente para apagar o incêndio. As curvas de juros mudaram rapidamente o posicionamento e passaram a precificar cortes de juros ainda este ano. A interpretação do mercado foi a de que, entre combater a inflação ou evitar uma recessão, o Fed vai priorizar a atividade econômica.

Ou seja, a queda do dólar a partir de março parece precificar um cenário de soft landing, no qual o Fed vai pausar e começar a cortar juros ainda este ano, enquanto na Europa o BCE ainda tem trabalho a fazer e deverá subir um pouco mais os juros para combater a inflação.

Dólar vs. Real

Em paralelo a todo esse cenário global de dólar fraco, temos nosso cenário doméstico. Com o avanço da discussão sobre o arcabouço fiscal, e com a sinalização da proximidade do início do ciclo de cortes de juros pelo nosso Banco Central, temos uma redução da percepção de risco, e a perspectiva de início de ciclo de expansão econômica.

O corte de taxa de juros não tornaria o carry menos atrativo? Sim, mas há muito prêmio nos juros brasileiros, e se tivermos um ambiente de inflação sob controle e crescimento econômico, o real deve seguir apreciando.

O risco para a continuidade desse cenário otimista para a moeda brasileira é tanto interno quanto externo. Estamos num momento de maior apetite a risco, mas há muita incerteza, principalmente no cenário internacional.

Considerações na hora de investir em dólar

A decisão sobre investir em moeda estrangeira deve ser pensada sob diversos ângulos. Um deles é a composição da sua carteira como um todo; a moeda americana é um excelente diversificador de risco, protege contra inflação no longo prazo e tradicionalmente funciona como proteção em momentos de estresse. Outro, por exemplo, é se vale a pena como investimento de curto prazo.

Talvez a forma mais simples de resumir a análise seja pensar na assimetria de riscos. Hoje o mercado está atribuindo maior probabilidade a cenários otimistas…

Por fim, para investidores que não operam via mercados futuros, não se esqueça de que existe um custo de oportunidade, como em qualquer investimento: o CDI continua atrativo.