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Dinheiro de pai pra filho, mas sem moleza
O mês de julho se foi. É aquele mês de férias escolares e do “te vira papai e mamãe e dá seu jeito”. A gente que tem filho sabe bem o perrengue que são esses períodos. É um tal de caçar avô, avó, madrinha e, nessas horas, até vizinho indesejado eu chamo de abençoado. Só assim para conseguir dar conta da agenda apertada e de tanta energia que os miúdos querem extravasar. Você se vê nessa cena, patrício? Sim ou não, o importante é que no final, os julhos vão, os janeiros chegam e caminhamos no rumo em que dá tudo certo.
Nessas férias, dentro do curto período que consegui casar férias profissionais com férias do miúdo, estávamos cá um dia, Nuno, Joaquim (sobrinho/afilhado) e eu, na busca de alguma atividade e disponíveis para convites, quando lembrei que estava precisando trocar uma lâmpada do meu carro.
Então, estávamos focados em atividades para Joca e Nuno, mas também era tempo de solucionar algumas pendências que eu estava a carregar. Tomamos nosso pequeno almoço e nos dirigimos até um sítio próximo, uma dessas lojas grandes, com tudo para automóveis em busca da dita cuja peça.
Quando estávamos na fila do caixa, naqueles corredores labirínticos, avistei à venda cartelas de “dinheirinho falso”. Quem aí nunca teve uns dinheirinhos falsos na infância? Clássico. Achei aquilo demais! Primeiro, me perguntei por que uma loja automotiva estaria vendendo cartelas de R$ 2. Nem precisa pensar muito na resposta, afinal eu comprei.
Além de não precisar ser uma loja de brinquedo para comprar algo baratinho pros nossos filhos, as cartelas me remeteram à minha infância e, por um segundo, me esqueci dos meus 39 anos e pensei em comprar para mim. De verdade!
Mas no segundo seguinte lembrei que eu tinha um filho de 4 anos e que seria muito mais interessante para ele.
Aproveitei que Nuno se distraía com uma mistureba de pequenos brinquedos e algumas ceras automotivas para enfiar as cartelas na cesta com a lâmpada. Queria fazer uma surpresa para ele à noite.
Assim, mostrei para o Joca, mas com um ar de maturidade proveniente de seus 8 anos, não se interessou. E eu cheio de pouca maturidade e empolgado com as notinhas. Pendência adulta resolvida. E por aí fomos…os três gajos em busca de aventuras infantis.
Chegando em casa mais tarde, eu e os pequenos já não nos aguentavam nas canetas. Abrindo as sacolas, lembrei das benditas cartelas e fui logo correndo para mostrar ao Nuno:
– Olha o que comprei para você Nunera!, disse a ele.
-Cartinhas desenhadas com animais! Eu quero, papai!
– Não filho, isso é dinheiro! O que a gente usa para comprar as coisas!
-Mas eu nunca vi você usar isso, nem para comprar os Pokémons!
Ali eu percebi que meu filho nunca tinha visto “dinheiro”, cash, notas, cédulas… eu abri minha carteira e não tinha nenhuma e, realmente, não costumo ter. Será que um dia ele vai saber que a gente preenchia uma folha de papel com números, assinava e pagava coisas com isso? (cheque).
Então, pode parecer banal, mas é uma loucura pensar no mundo que ele já nasceu. No último fim de semana, passeando com Nuno e a dona Coelha pela Cinemateca, ele aponta para a parede e me perguntou o que era aquilo. Olhei e se tratava de dois orelhões. Dona coelha e eu rimos e não sabíamos explicar muito bem.
A falta de conhecimento sobre a forma mais comum de se realizar algum tipo de pagamento não é algo tão chocante para mim quanto não saber quanto o dinheiro vale, independentemente da sua forma.
E isso ele já sabe. Nuno já utiliza muito do seu método de análise Pokémon para ponderar se algo é caro ou não. Eu, em um artigo passado, chamado Moeda Pokémon, lembro um pouco de como Nuno começa a ganhar conhecimento de valores, de barato e caro, de prioridades e de planejamento, baseado em algo que ele gosta e adquire com frequência, que são seus Pokémons de R$ 1,00.
“- Papai, esse carrinho vale 25 pokémons? Então, não quero! Prefiro esperar e ter os 25”.
Assim, está criando seu balizador e aprendendo a ter respeito pelo dinheiro e por quanto ele vale.
Passei a noite explicando que aquele cartão, que utilizamos com frequência, tem poder de compra, como as cédulas reais têm e que aquele era o “verdadeiro” dinheiro físico. Confesso que ainda estou em débito com ele, de mostrar uma cédula verdadeira, tamanho o caminho de falta de hábito e circulação das “verdinhas”. Mas aquela cartela despretensiosa, de R$ 2,00, cumpriu o seu papel e nos trouxe uma lição e uma história para contar, em um dia de férias.
O dinheirinho falso não sai da mochila do Nuno e, de vez em quando, deixamos ele “pagar” algum treco para dar corpo ao entendimento de valores. Às vezes, ele se irrita e quer ficar com o treco e com o dinheiro. Eu também gostaria! Quem não gostaria, certo? Mas explicamos que não é assim que funciona. Depois, o dinheirinho ganha pernas e retorna misteriosamente para a mochila dele.
Essa é a próxima lição! Dinheiro não brota sozinho na mochila, meu caro miúdo tuga. Mas, vamos devagar. Afinal, paternidade também é ter paciência e construir, tijolinho por tijolinho, a vida junto com nossos pequenos.
Um ótimo Dia dos Pais!
*Texto escrito por Marcelo Coelho, escreve diretamente de Portugal para o feed de notícias do íon Itaú, onde o artigo foi publicado originalmente. Para ler este e outros conteúdos, acesse ou baixe o app agora mesmo.
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