Cinco temas em debate

Os preços de ativos se movimentam em função de diferenças de opiniões, que vão sendo alteradas ao longo do tempo

Os preços de ativos se movimentam em função de diferenças de opiniões, que vão sendo alteradas ao longo do tempo.

No que se refere ao contexto internacional, que tem sido determinante para os preços de ativos brasileiros, cinco temas concentram as atenções e o debate.

Em primeiro lugar, as implicações que potenciais restrições ou excessos de oferta podem ter para o processo de desinflação global.

Como diversos países operam com taxas de desemprego baixas, a redução da inflação depende de preços de matérias-primas e produtos comercializáveis bem-comportados, o que, por sua vez, requer canais de distribuição desimpedidos.

Por um lado, os ataques à navegação no Mar Vermelho implicaram um sensível aumento do custo de fretes, o que tende a pressionar os preços, bem como certo repique nas cotações de petróleo.

Mas, com a reação ocidental, a situação se acalmou, pelo menos por ora, e o risco parece contido.

Por outro lado, a persistente deflação de preços ao produtor na China, relacionada ao excesso de capacidade nos setores de manufatura, e as dificuldades conjunturais e estruturais que detalharemos em seguida trazem alguma ajuda para balancear os riscos de gargalos de oferta e, no caso de um fracasso da atual estratégia de estabilização do país, pode trazer uma pressão adicional de baixa para os preços internacionais de bens.

Panorama da economia americana

Quanto à economia americana, o debate mudou de pouso suave versus recessão para pouso suave versus reaceleração, após divulgações mostrando a atividade e o mercado de trabalho fortes, no início do ano.

Os dados referentes a janeiro podem ter sido afetados por mudanças no padrão sazonal, e os mais recentes, como taxa de desemprego e salários, mostram alguma acomodação. Segue o debate.

O estado da economia e suas perspectivas guiam as decisões do Fed.

No início do ano, a expectativa era de pouso suave e início de um ciclo de flexibilização monetária quiçá ainda no primeiro trimestre.

A resiliência da economia e um repique inflacionário nos primeiros meses do ano acabaram levando a uma postura mais cautelosa das autoridades monetárias, além de levarem os mercados a rever, sucessivamente, as perspectivas para o início do ciclo, para maio, depois junho, e alguns esperam que isso somente ocorra no segundo semestre.

Eleições em todo mundo

Em um ano com eleições por todo o mundo, incluindo países como Índia, México e EUA, o foco das atenções sem dúvida recai sobre o último processo.

As primárias confirmaram uma repetição da disputa Biden-Trump vista em 2020, com o ex-presidente à frente nas pesquisas.

A evolução dos processos contra Trump indica que dificilmente teremos uma condenação antes da eleição, no início de novembro.

Dada sua performance nas pesquisas, e as dúvidas, justificadas ou não, sobre o estado de saúde do atual presidente, Trump é atualmente o favorito.

O ex-presidente dos EUA Donald Trump. Foto: David Dee Delgado/Reuters

Essa situação é reconhecida por muitos, talvez até pelas lideranças do partido Democrata, o que suscita uma discussão sobre uma eventual substituição de Biden. O quadro, portanto, segue incerto.

Finalmente, a atividade econômica na China vem sendo uma fonte de preocupação para os mercados desde a pandemia.

O país vive uma transição de modelo de crescimento, com menos ênfase em exportações, investimentos em infraestrutura e setor imobiliário, e maior peso para o consumo, digitalização da economia e transição energética.

Esse tipo de transição implica riscos para o crescimento no curto prazo, os quais o governo vem procurando mitigar por meio de rodadas de estímulo fiscal, monetário e de crédito. Esses estímulos devem ser suficientes para evitar que o crescimento caia abaixo de 4% nesse ano, ainda que não supere o objetivo oficial, em torno de 5%.

Em resumo, segue um contexto bom, mas não brilhante, para ativos de mercados emergentes.