Quem decide pra que lado a nossa moeda vai?

A literatura se dedica a estudar três variáveis quando o assunto é efeito cambial: diferencial de juros, fatores domésticos e fatores externos.

O que realmente afeta a direção do nosso câmbio? Spoiler: não é só a Selic. Quem nunca comprou ou vendeu dólar pra um amigo ou parente e ficou naquela dúvida: ‘Qual cotação eu pago?’

No vídeo que publiquei essa semana (e que você pode assistir abaixo), eu explico o conceito de diferencial de juros – a diferença entre as taxas de juros daqui e dos Estados Unidos. E é um conceito muito simples: quanto maior a diferença dos nossos juros para os lá de fora, mais o dólar tende a se desvalorizar, afinal o custo de oportunidade de ter dólares aqui (e não reais investidos na Selic) aumenta.

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    Em outras palavras, se o Brasil tem juros muito altos, manter dólares aqui fica caro. E quanto mais caro fica ter dólar por aqui, menor o interesse dos investidores em segurar essa moeda — o que ajuda a derrubar sua cotação.

    Mas será que mudar a Selic é o que mais afeta o câmbio?

    A literatura se dedica a estudar três variáveis quando o assunto é efeito cambial: diferencial de juros, fatores domésticos e fatores externos. E os especialistas estão sempre tentando averiguar qual delas tem maior efeito sobre as moedas.

    Samuel Pessôa, pesquisador do Ibre-FGV e Julius Baer
    Samuel Pessôa, pesquisador do Ibre-FGV e Julius Baer – Foto: Divulgação

    Um estudo recente feito por Samuel Pessoa e publicado no Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE) analisou justamente essa questão, com base nos movimentos do câmbio em 2024. E a conclusão foi clara: os fatores externos pesam muito mais na formação da taxa de câmbio do que os fatores domésticos ou o diferencial de juros.

    Mais especificamente, quando há uma pressão global sobre o dólar — seja por movimentos nas taxas de juros dos Estados Unidos, por variações no discurso do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) ou por mudanças no apetite ao risco — o real tende a se desvalorizar, mesmo que o Brasil esteja com juros altos ou em uma situação fiscal e política relativamente estável.

    Mais detalhes sobre o estudo

    O estudo mostra que, ao longo do primeiro semestre de 2024, em três momentos distintos de forte depreciação do real (fevereiro, abril e início de maio), o movimento coincidiu com eventos externos — como revisão nas apostas para os juros americanos, deterioração no sentimento de risco global e fortalecimento generalizado do dólar frente a outras moedas. Mesmo em abril, quando o Brasil teve superávit em conta corrente e os juros locais estavam elevados, o real se desvalorizou: tudo por conta do movimento internacional.

    E não é a primeira vez que isso é observado. Em outro estudo publicado por Livio Ribeiro, também no FGV IBRE, chegou-se à mesma conclusão, dessa vez analisando uma janela temporal diferente, de novembro de 2020 a abril de 2021: não dá pra explicar o câmbio olhando só pra dentro de casa ou só pro diferencial de juros. O mundo pesa. E pesa muito.

    Um ponto importante

    O dólar é a moeda de referência global. Em momentos de instabilidade, o mundo corre pra ele. Pandemia, guerra, crise bancária, expectativa de recessão global… tudo isso fortalece o dólar frente às moedas emergentes, sem que a gente tenha necessariamente qualquer culpa no cartório.

    Isso quer dizer que fatores internos não importam? Claro que não. Um rombo fiscal, uma crise institucional ou uma queda abrupta de confiança podem sim derrubar o real. Mas quando colocamos tudo na balança, os eventos externos ainda têm mais força.

    E aí fica o alerta: quem investe em ativos ligados ao câmbio — como fundos cambiais, exportadoras, ou até mesmo quem viaja com frequência pro exterior — precisa acompanhar de perto não só o que acontece no Brasil, mas também (e principalmente) o que está acontecendo lá fora.

    Porque no fim das contas, quem mais afeta o nosso câmbio não somos nós.

    Parafraseando Livio Ribeiro, quando falamos de câmbio, é o cachorro (mundo) que balança o rabo (Brasil), e não o contrário.

    Nos vemos na minha próxima coluna na Inteligência Financeira.

    Até!

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