Filippe Santa Fé, do ASA: ‘Daqui para frente, não quero saber mais do real. Ficou perigoso agora’

O tom mais suave do comunicado do Banco Central na sua última decisão de política monetária na quarta-feira foi um “divisor de águas” para o fundo ASA, que encerrou sua posição comprada em real, de acordo com o chefe de multimercados da casa, Filippe Santa Fé.
“Tivemos uma deterioração de expectativas [de inflação] e da própria inflação corrente, com o [presidente do BC, Gabriel] Galípolo reconhecendo isso, quando elevou no comunicado a projeção de inflação”, afirma Santa Fé.
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“Mas, sobre a orientação futura, ele não mudou nada; pelo contrário, deixou a mensagem mais branda. É o caso quando ele diz que as medidas de [Donald] Trump serão desinflacionárias. Ao colocar dessa forma, o mercado passa a pensar ‘talvez esse cara seja, de fato, o que eu tinha medo do que ele fosse’”, diz o executivo, ao fazer referência ao temor dos agentes financeiros de que Galípolo fosse assumir uma postura mais heterodoxa em sua gestão à frente da autarquia.
“Daqui para frente, não quero saber mais do real. Ficou perigoso agora.”
Em agosto de 2024, a Inteligência Financeira conversou com Santa Fé. Então, ele embarcava na sua primeira experiência como gestor. Sua missão, disse à época, é provar que existe retorno para além das teses de investimento dos tubarões da Faria Lima.
Banco Central conservador
Santa Fé diz que vinha desde maio do ano passado tentando montar posição em real, mas abriu e fechou a aposta algumas vezes diante da piora do mercado local. A âncora dessa posição vinha, principalmente, da postura da autoridade monetária, que estava sabendo responder às necessidades do momento em suas atuações.
“Não acho que vai ter desastres. O BC vai entregar 1 ponto [percentual]; vai fazer mais alguma coisa e, depois, provavelmente, vai achar uma desculpa para não fazer nada”, afirma.
A percepção do chefe de multimercados do ASA é de que o comunicado preparou o investidor para um BC mais “dovish”. “Qualquer dado que viesse mais fraco seria motivo para um ajuste, como foi o que aconteceu com o Caged no dia seguinte, com os juros ‘fechando’ [caindo] bastante.”
Na avaliação de Santa Fé, a postura mais conservadora do BC era a âncora em um ambiente global em que as posições compradas em dólar contra todas as moedas não foram desfeitas porque as ameaças das medidas de Trump ainda estão presentes. Por isso, nem mesmo o diferencial de juros (diferença entre as taxas de juros) mais amplo entre Brasil e Estados Unidos deve beneficiar o real.
Também por conta do cenário adverso global, o gestor decidiu não ter posições no mercado de moedas neste momento.
Desempenho do real
Ao analisar o desempenho da moeda brasileira, Santa Fé diz que, caso o real tivesse se comportado da mesma forma que o grupo de moedas de países emergentes e do G10 desde maio do ano passado, o dólar estaria cotado em torno de R$ 5,45 no momento.
“O que está acima deste valor é o prêmio acumulado decorrente da política econômica do país e, na minha visão, a política monetária deveria ter um peso maior nessa composição do que ela teve, gerando uma compressão desse prêmio”, disse.
Hoje, no entanto, esse prêmio está relacionado ao exterior, considerando que o lado doméstico “deixou de ajudar”, pondera Santa Fé. “Não gosto de ficar vendido em dólar porque os Estados Unidos têm muitos argumentos positivos: de crescimento; diferencial de juros; e de proteção contra as tarifas do Trump. Eu gostava de comprar o real e não de vender o dólar, é diferente”.
Dólar a R$ 5,45/R$ 5,50
Considerando o cenário atual, Santa Fé acrescenta que o momento de comprar dólar seria se a moeda americana batesse, então, o nível de R$ 5,45/R$ 5,50.
Ele, porém, tem dúvidas de que a moeda americana vá para esse nível.
“Não quero pegar esse movimento para baixo do dólar porque não tem nenhum fundamento”, diz o gestor.
Com informações do Valor Econômico.