Bancos norte-americanos tentam se livrar de dívida arriscada

Instituições dos EUA enfrentam momento em que investidores têm optado por ficar de fora do mercado

Bancos norte-americanos tentam se livrar de dívida arriscada. (Arte: Inteligência Financeira)
Bancos norte-americanos tentam se livrar de dívida arriscada. (Arte: Inteligência Financeira)

Os bancos de Wall Street estão usando o derretimento dos mercados de dívida corporativa em uma nova estratégia. As instituições estão se desfazendo de bilhões de dólares em empréstimos atrelados a arriscadas aquisições de private equity. Por outro lado, muitos ainda estão incorrendo em perdas para fechar os negócios com os investidores.

Uma venda de títulos de dívida este mês, atrelados à aquisição da companhia de avaliação de audiência de TV, Nielsen, ofereceu um alívio para credores que incluem o Bank of America e o Barclays, que estão desesperados para resolver negócios “pendentes” que se acumularam em seus balanços este ano por causa de uma falta de apetite dos investidores.

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O mercado de US$ 3,2 trilhões de bônus corporativos de risco e empréstimos alavancados começou a se recuperar nas últimas semanas, depois de uma longa calmaria, preparando o caminho para os bancos considerarem a venda de algumas dívidas para os investidores.

No entanto, a confiança nos mercados permanece instável e os temores crescentes de uma recessão significam que muitos negócios continuam arriscados demais para os investidores, embora outros comecem a ser realizados.

Peter Gleysteen, presidente-executivo da gestora de ativos AGL Credit Management, diz que as incertezas na economia mundial “levaram os investidores a parar, olhar e prestar atenção… Há muito capital disponível, mas ele não está sendo colocado para trabalhar da maneira usual.”

Os negócios com bônus e empréstimos a que os bancos estão presos foram firmados no ano passado ou no começo deste ano, antes que os mercados fossem sacudidos pelo aumento dos custos das dívidas. Os bancos se comprometeram a financiar as aquisições em termos bem mais generosos do que uma empresa poderia encontrar nos mercados atualmente.

Na semana passada, credores liderados pelo Citigroup e BofA abandonaram parte de uma planejada venda de dívida de US$ 2,4 bilhões para financiar a aquisição pela Apollo Global Management da fabricante de autopeças Tenneco, por US$ 7,1 bilhões, depois que grandes descontos e rendimentos de dois dígitos não atraíram credores.

Semanas antes, uma oferta de dívida de US$ 3,9 bilhões para financiar a aquisição do grupo de telecomunicações Brightspeed pela Apollo foi abandonada.

Mas os bancos tiveram sorte em aumentar o interesse em ofertas de dívida de companhias com classificações de crédito melhores, incluindo aquelas avaliadas por investidores como mais bem preparadas para suportar uma desaceleração econômica.

Os bancos conseguiram se livrar de US$ 2 bilhões em dívidas pendentes ligadas ao “takeover” de US$ 16 bilhões da Nielsen, e se encontram nos estágios finais da venda de um outro empréstimo de US$ 1,75 bilhão ligado ao negócio. O empréstimo está obtendo uma demanda sólida e deverá ser finalizado ainda nesta semana, segundo algumas fontes.

No entanto, a dívida da Nielsen trouxe rendimentos impressionantes para os potenciais investidores, com os bancos oferecendo grandes descontos para ajudar a tirar os bônus da contabilidade. Mesmo depois que as ofertas de bônus e empréstimos forem concluídas, os bancos ficarão com bilhões de dólares em dívida da Nielsen.

Outros negócios com dívidas, especialmente os não atrelados a novas aquisições alavancadas, foram realizados. Executivos do Goldman Sachs que subscreveram um empréstimo de US$ 1,7 bilhão para a Fórmula 1 conseguiram garantir custos de empréstimos menores que os esperados para a companhia, depois que investidores lançaram grandes ordens.

A companhia, que tem uma classificação “BB” da S&P Global, emitiu o empréstimo com um rendimento de cerca de 7,9%, pagando 3,25 pontos percentuais acima de importante referencial para esse tipo de dívida. Quando os banqueiros começaram a comercializar o empréstimo, esperava-se que o rendimento chegasse a até 8,5%.

O clima mais hesitante nos mercados de crédito representa uma mudança em relação aos primeiros meses do ano. Estímulos do Banco Central no auge da pandemia desencadearam uma era de dinheiro barato que fluiu nos primeiros meses de 2022, estimulando o entusiasmo por negócios e o refinanciamento de dívidas existentes à medida que as taxas de juros se aproximavam de zero.

Mas desde então os bônus e as ações estão sob forte pressão, sofrendo um golpe da inflação alta e do aumento das taxas. Por sua vez, aumentaram os temores de que o Fed e seus pares globais apertem a política monetária levando a uma desaceleração econômica prolongada, enquanto se esforçam para conter a rápida alta dos preços.

Uma recessão poderia significar a redução dos gastos com consumo, no momento em que as empresas enfrentam uma escalada dramática dos custos dos empréstimos, que já bloqueou efetivamente muitos dos mercados de capitais.

As vendas de bônus dos EUA com classificação “junk” caíram este ano para os menores níveis desde a crise financeira de 2008, gerando recursos de apenas US$ 101 bilhões, segundo dados da Refinitiv. No ano passado, as emissões somaram US$ 464 bilhões.

As vendas de empréstimos alavancados também diminuíram dramaticamente depois de um excelente 2021. E a dívida que conseguiu atrair investidores nos últimos dois meses tendeu a ter as classificações “B” e “BB”, com os tomadores frequentemente tendo que oferecer proteções maiores aos investidores nos documentos das ofertas.

Adam Abbas, chefe adjunto de renda fixa da Harris Associates, diz que os mercados estão “efetivamente” fechados para as companhias com classificação “CCC” que tentam vender títulos de dívida, levantando o espectro de “um ciclo natural de inadimplência”.

A coordenação de vendas de dívidas corporativas vem se mostrando altamente lucrativa para os bancos em períodos aquecidos de realização de negócios, quando há muitos compradores interessados e vendedores no mercado. Mas ela se tornou uma grande dor de cabeça e um dreno aos cofres dos próprios bancos, uma vez que os investidores vêm optando por ficar de fora do mercado este ano por temerem mais volatilidade pela frente.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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