Como investir com juros mais altos no Brasil e nos EUA

Especialistas indicam quais investimentos estão atrativos no momento

O ciclo de alta de juros no Brasil e nos Estados Unidos traz um novo cenário para o investidor brasileiro. Alguns produtos de renda fixa ficam mais atrativos, enquanto ativos de renda variável tendem a perder tração. Tudo fica ainda mais complicado quando se coloca os lockdowns na China, a guerra na Ucrânia e as eleições brasileiras na balança.

Nesta quarta, o Banco Central (BC) subiu a taxa básica de juros, a Selic, de 12,75% para 13,25%. Essa é a 11ª reunião seguida em que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decide por uma elevação dos juros básicos. Nos Estados Unidos, o Fed (Federal Reserve, banco central americano) aumentou a taxa básica de juros da economia dos Estados Unidos em 0,75 ponto percentual, para o intervalo de 1,5%-1,75% ao ano. Esse é o nível em que estavam os juros em março de 2020, no início da pandemia de Covid-19.

“Seria um erro parar de subir juros agora. A inflação continua surpreendendo para cima e em patamares muito preocupantes”, diz Gabriel Fongaro, economista sênior do Julius Baer Family Office.

Ele vê o juros no Brasil no patamar de 13,5% em junho. Por enquanto, o boletim Focus prevê a Selic em 13,25% ao fim de 2022.

“Estamos no fim do ciclo de ajustes o que diferencia o Brasil do resto do mundo, o que é positivo para nós, a nossa inflação vai desacelerar antes”, afirma Fongaro.

Com juros bem mais altos no Brasil do que em países como Estados Unidos, o real ganha valor com o “carry trade” — operação financeira de arbitragem que consiste em obter retornos explorando a diferença entre as taxas de juros interna e externa. Ou seja, dinheiro estrangeiro entra no país e reduz a o preço do dólar ante o real.

“Mesmo com alta dos juros americanos, o diferencial de juros entre Brasil e EUA ainda será significativo, de mais de 10 pontos percentuais, o que deve ajudar o dólar a ficar mais perto de R$ 5 e do que de R$ 6”, afirma Felipe Rodrigo de Oliveira, economista da MAG Investimentos.

Fongaro projeta o dólar a R$ 5 ao fim do ano. “Vimos o Brasil ficar mais atrativo desde o começo da guerra. Com juros elevados, podemos ver o real apreciando nos próximos meses.”

Dessa forma, o investimento em dólar e em BDRs pode ficar de lado no momento.

O mais recomendado são títulos de renda fixa pós-fixados, ou seja, os que acompanham a variação da Selic.

“O CDI ficou abaixo da inflação, mas há a expectativa que nos próximos 12 meses fique acima da inflação média”, diz Fongaro.

Outra recomendação são os papéis cujo rendimento é atrelado à inflação, como alguns títulos do Tesouro Direto e debêntures de infraestrutura. “Eles têm um papel defensivo importante na carteira agora, com taxas reais em patamares atrativos. Em momento de incerteza esta é uma boa alternativa que garante um retorno real”, afirma o economista.

Fongaro também recomenda para investidores com mais experiência o investimento em private equity, mercado imobiliário e em crédito.

Oliveira, da MAG, também recomenda crédito privado de baixo risco, bem como fundos multimercados. “Eles atuam em diversos mercados no Brasil e no exterior, diversificado o portfólio em produtos que o investidor pessoa física, muitas vezes não teria acesso.”

Ele também indica fundos imobiliários, que têm dividendos mensais isentos de imposto de renda. “Por mais que os imóveis não estejam apreciando acima da inflação, as pessoas estão voltando a trabalhar presencialmente e, os FIIs, são uma forma de tentar capturar este movimento”.

O ideal, ressalta o economista, é sempre diversificar os FIIs na carteira, com cotas de laje corporativa, galpão, crédito imobiliário, etc.

Com relação à Bolsa, Oliveira indica ações de bancos, que devem se beneficiar com uma Selic maior. “Eles tendem a ter melhores resultados com juros altos especialmente porque ainda temos inadimplência baixa.”

Já Fongaro é mais ponderado. “O maior impulso para a renda variável vai ser o começo dos cortes de juros no Brasil.”

Ele recomenda manter uma parte da carteira em renda fixa pós-fixada com liquidez para que com este valor se aproveite no futuro oportunidades mais claras no mercado de ação. “Nestes momentos de incerteza, invista devagar. Não coloque todos os ovos na mesma cesta, e pense no longo prazo.”

Com reportagem de Júlia Moura.