- Home
- Mercado financeiro
- Agenda de dividendos
- Dividendos 2024: o que esperar para os próximos 12 meses?
Dividendos 2024: o que esperar para os próximos 12 meses?
Empresas citadas na reportagem:
Ano começando e logo vem a dúvida de muitas investidores: o que esperar do pagamento de dividendos 2024? Alguns analistas, claro, já fizeram as suas projeções, e a Inteligência Financeira traz para você. Mas antes, vale fazermos uma restropectiva do que foi o ano de dividendos em 2023.
Afinal de contas, as distribuições de proventos das empresas brasileiras desaceleraram no ano passado, puxadas por Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3).
Ambas as companhias – que respondem por quase a metade dos dividendos e juros sobre capital próprio (JCP) pagos na bolsa de valores – remuneraram os investidores com R$ 119,71 bilhões de janeiro a dezembro, revela levantamento feito por Einar Rivero, diretor da Elos Ayta Consultoria.
Desse modo, em comparação com o montante distribuído por elas em 2022, que foi de R$ 230,79 bilhões, o corte nos proventos das duas empresas foi de 48,1%. Já em relação a 2021, quando as companhias pagaram R$ 148,02 bilhões, a queda foi de 19,1%.
O corte foi sentido também no retorno ao acionista, quando observado o dividend yield – indicador que mede a rentabilidade dos dividendos de uma empresa em relação ao preço da ação. A Petrobras (PETR4) teve um retorno em proventos de 29,58% em 2023, após distribuir R$ 7,25 por ação. Por outro lado, em 2022, o dividend yield da petroleira foi de 58,84% e R$ 16,74 por papel – praticamente o dobro.
Petrobras não é mais a maior pagadora de dividendos
Então, vale saber antes de revelarmos como será o pagamento de dividendos 2024, que a Petrobras perdeu também o seu posto como maior pagadora de dividendos da bolsa brasileira. Posição que passou a ser ocupada pela fabricante de autopeças e motores Metal Leve (LEVE3). Afinal de contas, a companhia remunerou seus investidores com R$ 10,72 ao longo do ano, um dividend yield de 35,80%.
Mas as ações preferenciais (PETR4) e ordinárias (PETR3) da petroleira ainda figuraram na segunda e terceira posição do ranking.
Veja abaixo as 20 melhores pagadoras de dividendos em 2023:
Empresa | DY 2023 (%) | Dividendos e JCP em 2023 |
Metal Leve (LEVE3) | 35,8% | R$ 10,72 |
Petrobras (PETR4) | 29,58% | R$ 7,25 |
Petrobras (PETR3) | 25,85% | R$ 7,25 |
Grendene (GRND3) | 23% | R$ 1,39 |
Auren (AURE3) | 20,37% | R$ 3 |
Copasa (CSMG3) | 18,44% | R$ 2,89 |
CSN (CSNA3) | 17,5% | R$ 2,55 |
CSN Mineração (CMIN3) | 17,1% | R$ 0,7 |
Lavvi (LAVV3) | 13,84% | R$ 0,66 |
Valid (VLID3) | 13,28% | R$ 1,22 |
Banco do Brasil (BBAS3) | 13,16% | R$ 4,57 |
Metalúrgica Gerdau (GOAU4) | 12,26% | R$ 1,59 |
Caixa Seguridade (CXSE3) | 12,1% | R$ 1,01 |
Marcopolo (POMO4) | 11,73% | R$ 0,33 |
Cemig (CMIG4) | 11,59% | R$ 1,29 |
Bradesco (BBDC3) | 11,45% | R$ 1,54 |
Bradesco (BBDC4) | 11,2% | R$ 1,7 |
Even (EVEN3) | 10,99% | R$ 0,5 |
BrasilAgro (AGRO3) | 10,72% | R$ 3,21 |
Sanepar (SAPR11) | 10,7% | R$ 0,37 |
Nova rainha dos dividendos?
Mesmo estando no topo, ou seja, sendo uma das melhores pagadoras de dividendos em 2023, para quem busca uma ação que entregue renda recorrente no longo prazo, a Metal Leve (LEVE3) pode não ser uma boa alternativa, destacam analistas consultados pelo Inteligência Financeira. Ou seja, pode não ser considerada como um bom dividendo em 2024.
O motivo é que o dividend yield de 35,80% foi não recorrente, ou seja, não deve se repetir no futuro. Desse modo, a companhia sempre remunerou os seus acionistas de forma consistente, mas nada comparado a esse patamar elevado.
Tamanha rentabilidade foi fruto de uma oferta de ações (follow-on) que a Metal Leve fez em novembro com o intuito de pagar dividendos e diminuir a participação do seu controlador, Mahle GmbH, na empresa.
A Metal Leve captou R$ 402,5 milhões na operação. Que estava condicionada a uma distribuição de proventos, e depois desembolsou R$ 710,8 milhões, equivalente a um dividendo de R$ 5,54 por ação.
A operação desagradou o mercado e trouxe incertezas sobre o futuro da Metal Leve. Afinal, quem capta recursos a qualquer custo apenas para pagar dividendos e o controlador se desfazer de parte de sua participação?
Dessa forma, o analista independente Ricardo Schweitzer acredita que o negócio da Metal Leve, com ampla expertise em motores a combustão, está caminhando para se tornar obsoleto diante do crescimento acelerado do mercado de veículos elétricos. “Aparentemente a empresa não está fazendo investimentos para mudar esse cenário”, pontua.
Opção não tão positiva para quem busca dividendos em 2024
De acordo com Schweitzer, existe um motivo para essa postura da gestão: a Metal Leve pertence ao grupo alemão Mahle GmbH, que tem diversas subsidiárias espalhadas pelo mundo. Uma delas, a Mahle Behr, também se encontra no Brasil e está mais exposta ao mercado de veículos elétricos.
“Houve um tempo em que se ventilou a possibilidade de que Mahle Metal Leve e Mahle Behr fossem integradas, mas não foi para frente. Em 2014, a Metal Leve suspendeu os planos de incorporação e exploração de sinergias operacionais com a Mahle Behr”, lembra o analista.
Schweitzer destaca que a sensação do mercado é: enquanto Metal Leve fica obsoleta na combustão, outras subsidiárias podem estar sendo privilegiadas com mudanças tecnológicas. Embora não represente uma lesão ao investidor minoritário, o fato deste ficar com uma participação em um negócio com risco de perecimento não gera a segurança necessária para um investimento de longo prazo.
O analista não recomenda investir na ação para quem busca dividendos.
É preciso atenção sobre a empresa
Outro que olha com desconfiança o investimento em Metal Leve é Renato Chanes, analista da Ágora, apesar de projetar um dividend yield de 12% para a companhia em 2024.
Para Chanes, o dividendo de R$ 5,54 por ação pago na oferta foi uma espécie de presente para os acionistas que permaneceram na companhia. “Seguimos com recomendação de venda de LEVE3”, diz.
O analista da Ágora não enxerga a companhia como uma opção para uma carteira de dividendos no longo prazo, por conta do futuro incerto dos negócios. “A Metal Leve é um negócio que tem os dias contados, pode ser 10 anos, 20 ou 30, não sabemos quando ocorrerá o fim da combustão. Mas claramente os carros elétricos vão ganhar mais espaço no mix de vendas”, defende Chanes.
Ele reforça que o follow-on apenas sinalizou que “a Metal Leve estava aceitando vender suas ações a qualquer custo e que poderia continuar fazendo isso após o fim de período de lock-up da oferta”.
Um olhar positivo
Os mais otimistas como Sergio Biz, analista focado em dividendos e sócio do GuiaInvest, acreditam que no curto prazo a companhia deve continuar muito eficiente e remunerando os seus investidores. Apesar disso, a projeção de dividend yield é de 8,5% para 2024 – bem distante do registrado neste ano.
Para Biz ainda faltam muitos anos para que os veículos elétricos consigam dominar o mercado brasileiro, afetando a procura pelos de combustão. “O custo dessa tecnologia é muito elevado e a infraestrutura do mercado é precária”, pontua.
O analista espera que a Metal Leve entregue resultados robustos em 2024, fornecendo peças para as montadoras de veículos novos e também peças de reposição para veículos usados. “Esta segunda vertical de negócios é a que entrega uma margem maior. Como no Brasil ainda temos uma frota de carros relativamente antiga, enxergamos que a demanda por essas peças deve continuar elevada”, afirma.
A substituta em dividendos 2024 é…
Sem a Metal Leve como alternativa, qual outra companhia poderia ser uma substituta interessante para ganhar dividendos em 2024?
Se engana quem pensa que é a Grendene (GRND3) ou a Auren (AURE3), que ocuparam a quarta e quinta posição no ranking de melhores pagadoras em 2023, com dividend yield de 23% e 20,37%, respectivamente.
O motivo é que os proventos desembolsados por estas companhias também foram não recorrentes. A Grendene pagou R$ 1 bilhão de dividendos em maio, por conta de reservas de lucro, após o Tribunal Federal da 5ª região reconhecer o direito da empresa de não incluir valores de benefícios fiscais concedidos pelo estado de Ceará no seu cálculo de imposto de renda de pessoa jurídica e CSLL (Contribuição Social Sobre Lucro Líquido).
Já a Auren distribuiu dividendos extraordinários graças a uma indenização de R$ 4,2 bilhões pela Usina Hidrelétrica de Três Irmãos. Desta forma, retornos em proventos acima de 20%, como os registrados, não devem acontecer tão cedo.
A favorita para dividendos em 2024
Embora não esteja presente na lista das 20 maiores pagadoras de 2023, uma ação vem ganhando o favoritismo dos analistas como a mais recomendada para dividendos em 2024. Se trata da BB Seguridade (BBSE3), com dividend yield projetado de até 12% para o próximo ano.
Guilherme Tiglia, sócio e analista de Ações da Nord Research, explica que a BB Seguridade é o braço de seguros do Banco do Brasil. Por este motivo, pode utilizar toda a plataforma de distribuição do banco – seja agências, internet ou outros – para vender seus seguros. “Uma ótima vantagem competitiva para a companhia”, avalia.
Outra vantagem seria a exposição a segmentos sólidos da economia, entre estes o agronegócio que teve um crescimento muito expressivo nos últimos anos, destaca Régis Chinchila, analista-chefe da Terra Investimentos. A companhia também tem forte atuação no segmento de previdência.
“Os resultados recentes demonstram solidez, com um desempenho significativamente positivo entre todos os segmentos de operação. Esperamos que o fechamento da curva de juros não gere impacto negativo sobre os resultados financeiros”, aponta Chinchila.
Tiglia acredita que a companhia siga entregando ótimos resultados operacionais, com crescimento dos prêmios e redução da sinistralidade e que ainda deve continuar se beneficiando com a taxa de juros em 2024. “Com perfil defensivo, forte consistência nos resultados, a recomendação é comprar BB Seguridade”, afirma. O analista projeta um dividend yield de 11% para 2024.
Bons resultados ao longo do ano
Na Guide Investimentos, a projeção é que a BBSE3 entregue um dividend yield de 10,4% no próximo ano. Eduardo Siqueira, analista da casa, recomenda a compra do papel com preço-alvo de R$ 39.
“A companhia tem altíssimo ROE (Retorno sobre patrimônio líquido), deve manter seu payout (parcela do lucro destinada a proventos) elevado, a ação está descontada e tem boas perspectivas de resultados”, enumera Siqueira.
Na Capitalizo, o analista de ações Sérgio Neto espera que a BBSE3 tenha um dividend yield de 12% em 2024.
Apesar do risco de queda do resultado financeiro por conta dos cortes na Selic, Neto enxerga a BB Seguridade entregando resultados sólidos em outras linhas. “A linha de previdência apresentou crescimento de 13% em outubro e a de capitalização cresceu dois dígitos, por volta de 16%”, comenta.
Embora o resultado possa não ser tão robusto como o dos anos anteriores, segundo Neto, a companhia ainda consegue entregar dividendos interessantes. “Olhando para o longo prazo é uma excelente alternativa de dividendos, com retornos acima das concorrentes Caixa Seguridade e Porto Seguro”, avalia.
A BB Seguridade também garante uma certa previsibilidade para os investidores que buscam renda recorrente. A companhia tem como prática pagar dividendos semestrais, geralmente em fevereiro e agosto. Nos últimos anos, a BB Seguridade distribuiu 70% ou mais do seu lucro em proventos.
Em outras instituições como a Toro Investimentos, o dividend yield esperado para BBSE3 também é elevado, de 10,60%. Na VG Research e Ticker Research a expectativa é de dividendos de 9% e 10% respectivamente.
Leia a seguir