Vale a pena investir nas ações da Petrobras (PETR3; PETR4) sem dividendos extraordinários?

A partir de 2025, dividendos extraordinários da Petrobras podem sofrer com custo de investimentos, mas mercado não deixou ação de lado

Os dividendos extraordinários da Petrobras (PETR3; PETR4) estão em xeque diante da troca de comando no cargo da presidência da estatal. Com a demissão de Jean Paul Prates e a eleição da engenheira Magda Chambriard como nova presidente da petroleira, a política de dividendos pode deixar de lado distribuições extraordinárias à investidores e à União em favor de uma agenda mais forte de fusões e aquisições, escreveu o BTG Pactual.

Em relatório abordando a troca de comando, o banco prefere continuar “comprador” das ações da Petrobras.

Analistas não esperam, pelo menos em um primeiro momento, grandes mudanças na gestão da estatal, o que não significa que não existe risco político adiante: o ponto nevrálgico é o próximo plano de investimentos da Petrobras. Assim, vale a pena ou não investir nos papéis de uma das maiores petroleiras do mundo, com 10% de peso no Ibovespa?

Dividendos extraordinários da Petrobras vão acabar?

A perspectiva para o dividendo extraordinário não é consensual dentro do mercado financeiro.

Alguns analistas, enquanto avaliam que podem haver mudanças na política de distribuição de proventos a partir de 2025, afirmam ao mesmo tempo que o governo federal enfrenta desafios fiscais que podem requerer distribuições extras de estatais.

É o caso da Petrobras, afirma Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.

Neste ano, a Petrobras (PETR3;PETR4) aprovou o pagamento de R$ 36,1 bilhões em dividendos extraordinários.

“Em sua primeira coletiva como presidente, a Magda (Chambriard) não tocou nesse assunto, mas não tivemos nada que jogasse a favor à retenção dos valores”, cita Arbetman. Ele lembra que a Petrobras já pagou a acionistas 50% dos dividendos extraordinários prometidos ao mercado.

Apesar da troca de comando, a Ativa manteve recomendação de alocação de 10% da carteira de clientes nas ações da Petrobras.

E, mesmo com a retenção do dividendo extraordinário, as ações ON e PN da estatal permaneceram na carteira de dividendos da corretora.

“A distribuição do restante vai depender de condições do mercado. Mas, com petróleo (Brent) em US$ 80 (o barril), não haveria motivo para a Petrobras não pagar o dividendo extraordinário. É um patamar onde a companhia consegue gerar caixa suficiente para suas necessidades. Sabemos do desafio fiscal e não há dúvida que isso joga a favor”, completa.

Uma das principais pistas sobre o futuro dos dividendos extraordinários veio do secretário do Tesouro, Rogério Ceron. O executivo da Fazenda considera “provável” a distribuição de 100% dos proventos retidos.

Recompra de ações

No curto prazo, a troca de CEOs “muda pouca coisa”, diz Bruno Benassi, analista da Monte Bravo.

Onde uma eventual mudança pode ocorrer, de acordo com Benassi, é na frequência de distribuição dos dividendos, ordinários ou extraordinários. Se a Petrobras vinha pagando trimestralmente a acionistas, é esperado que ela diminua o ritmo e faça repasses a cada seis meses, por exemplo.

“O que a Petrobras pode fazer é acelerar programa de recompra de ações. Não deixa de ser uma maneira de remunerar, e a petroleira começou com essa estratégia mais recentemente.”

Os riscos para proventos da Petrobras (PETR3;PETR4)

A entrada de Magda Chambriard na Petrobras (PETR3;PETR4) levou o BTG a recalibrar o risco para o papel, apesar de permanecer comprado pelos dividendos extraordinários.

“Investidores devem ficar atentos aos temas relativamente novos levantados por ela (Chambiard)”, disseram os analistas Pedro Soares, Thiago Duarte, Henrique Pérez e Bruno Lima em relatório.

Por enquanto, Magda levantou três diretrizes que podem diminuir o retorno sobre capital investido da estatal:

  • Oportunidades para a indústria local (incluindo naval);
  • Investimentos em fertilizantes
  • Aceleração do CAPEX

O principal ponto de atenção, segundo agentes de mercado, é o próximo plano estratégico da Petrobras, a ser divulgado ainda em 2024.

Se, neste ano, o investidor que aposta na Petrobras (PETR3;PETR4) pelo dividendo extraordinário “deve ficar mais tranquilo”, o plano pode “complicar os dividendos” a partir de 2025. É o que aponta Benassi.

“Nesse novo plano estratégico, a maioria dos custos de capital deve continuar indo para exploração, mas podemos ver uma concentração maior em obras de refinarias, por exemplo, expandindo a área de refino”, afirma.

Rafael Schmidt, sócio da One Investimentos, aponta que a Petrobras pode focar mais em aquisições sob o mandato de Chambriard. “Ou seja, veríamos o Capex da empresa aumentando, o que pode impactar os dividendos”, explica.

É menos caixa para distribuir com mais investimentos a fazer.

O mercado tem olhos muito grandes para a composição do próximo plano de investimento, a ser lançado no final do ano, então a Magda tem cerca de seis a cinco meses para mostrar sua cara já nesse plano.”

Ilan Arbetman, Ativa Investimentos

Quanto a Petrobras deve pagar em dividendos em 2024?

O mercado mantém sua previsão de início de ano de que a Petrobras deve pagar 10% do preço da ação em dividendos até dezembro.

Alguns analistas explicam que os dividendos extraordinários acrescentam 1,5% sobre as ações.

“Mesmo com dúvidas, o yield a ser distribuído em 2024 será superior a 10%”, diz Arbetman. Em suas projeções, a Petrobras deve pagar um dividend yield de 13,60% em dividendos ordinários e mais 1,5% em dividendos extraordinários.

“Com o preço da ação hoje a mais ou menos R$ 40, um yield equivalente a R$ 4 é difícil de bater no mercado.”

“Tranquilamente ela deve pagar um yield superior a 10%”, faz coro Schmidt, da One Investimentos. A avaliação dele é de que a política da Petrobras “não deve sofrer tanta alteração quanto imaginávamos” porque o principal beneficiado é a União, que detém 28% do capital da petroleira.