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O que explica o tombo das ações da XP?
No primeiro pregão após a XP Inc. divulgar os resultados do primeiro trimestre, as ações da companhia recuaram fortemente na Nasdaq, levando junto os recibos (BDRs) negociados na B3. Nesta quarta-feira, os papéis da corretora caíram 16,1% na bolsa americana e 14,6% no mercado brasileiro.
Analistas que acompanham a empresa mantiveram indicação de compra para os ativos, caso do Bank of America (BofA) e do BTG Pactual. Mas há críticas em relação à dependência da recuperação cíclica para um melhor desempenho operacional.
Segundo relatório do BofA, o lucro líquido reportado, de R$ 1,0 bilhão, ficou 4% abaixo das expectativas dos analistas que cobrem a empresa, estável em relação ao quarto trimestre de 2023 e 29% acima do reportado no mesmo período do ano passado. Excluindo-se o evento Americanas, o incremento foi de 11%.
A expansão dos ativos sob custódia (AUC) e a adição de clientes permaneceram fracas, refletindo o desempenho do mercado de janeiro a março, levando a um crescimento das receitas de varejo menor do que se esperava, apontam os analistas. Pontos positivos foram a atividade de dívida e as receitas bancárias, que seguem “robustas”, com aumento das rendas com cartões, refletindo um esforço bem-sucedido de “vendas cruzadas”.
O custo de produtos vendidos ficou mais alto do que a projeção do BofA, pressionado por comissões mais elevadas pagas aos assessores de investimentos e consultores, enquanto as despesas gerais ficaram em linha com as estimativas. A margem EBT (sobre o lucro operacional) ficou em 26,9%, abaixo do intervalo almejado no “guidance” (projeções da própria companhia) até 2026, entre 30% e 34%.
XPBR31 no 1T2024
Na teleconferência de resultados, executivos da XP reforçaram que tal meta depende de alguma normalização do cenário macroeconômico. “Um ambiente de taxas elevadas está levando a volumes fracos de negociação de ações e fraca atividade nos mercados de capitais, adiando uma melhoria esperada nos lucros da XP”, escreve a equipe do BofA.
Na avaliação da casa, isso já aparecia na avaliação da companhia que vinha sendo negociada com uma relação de preço/lucro (P/L, que dá uma ideia do prazo de retorno do investimento) em 13 vezes para 2024. O preço justo para a ação calculado pelo BofA é de US$ 31.
Já o time de análise do BTG Pactual iniciou seu relatório dizendo que “não há muito o que escrever”, com o resultado “pouco inspirador e próximo das expecativas, que estavam longe de ser elevadas, especialmente levando-se em conta o recente desempenho das ações – com queda aproximada de 20% no ano”.
Como já antecipado pela administração, o ambiente para atrair dinheiro novo continua desfavorável, o que significa que a captação líquida ficou virtualmente dentro do previsto no trimestre. Auxiliado pela forte atividade no segmento de dívida, “o lucro líquido surpreendeu um pouco positivamente, enquanto custos, maiores despesas financeiras e aumento da alíquota de impostos levaram o lucro líquido a cair 3%”, ficando aquém do consenso de mercado.
Já o lucro antes de impostos EBT), foi considerado um melhor preditor do resultado potencial da XP, com expansão de 9% no trimestre, ficando, porém, 3% abaixo das estimativas do BTG e do mercado.
“Num ambiente em que as taxas de juro devem permanecem elevadas por mais tempo e com falta de iniciativas claras para impulsionar alfa, novos negócios, etc., as ações da XP carecem de ‘momentum’, escreve o BTG. “Devido a um ‘valuation’ pouco exigente, estamos mantendo nossa classificação de compra, mas atualmente preferimos outras opções no setor financeiro do Brasil”. O preço-alvo para os papéis está em US$ 28, para um horizonte de 12 meses.
A captação líquida no varejo mais a do segmento corporativo, em R$ 15 bilhões, ficou quase 25% abaixo das estimativas do BTG, mas o fluxo recorrente no varejo melhorou 8% no trimestre, para R$ 13 bilhões, enquanto o dinheiro trazido pelas empresas recuou de R$ 7 bilhões no quarto trimestre de 2023 para R$ 2 bilhões no primeiro de 2024.
O número de clientes ativos permaneceu estável em 4,5 milhões nessa base de comparação, enquanto os ativos sob custódia alcançaram R$ 1,1 trilhão, com alta de 2% no trimestre, de 20% em 12 meses, mas 1% abaixo da previsão do banco.
As transações com cartões, em R$ 11,3 bilhões (-4% no trimestre, com alta de 32% em 12 meses) também ficou 18% abaixo das estimativas do BTG. O número de cartões ativos aumentou 8% de janeiro a março, para 1,24 milhão de unidades. Os ativos em fundos de previdência atingiram R$ 73 bilhões, estável no trimestre, mas com aumento de 18% na base anual, representando 6,4% da custódia total.
Já a carteira de crédito, em R$ 22 bilhões, com alta trimestral de 5% e de 27% em 12 meses ficou em linha com as estimativas do BTG.
A receita líquida, de R$ 4,05 bilhões, ficou 1% acima do consenso do mercado, impulsionada por outro trimestre de forte atividade no mercado de renda fixa. Já a receita bruta do varejo, abaixo das estimativas, foi pressionada pela receita inferior da plataforma de fundos, das transações com ações, enquanto as receitas de serviços corporativos e emissões foram destaque positivo pelo terceiro trimestre consecutivo.
Frustração
No geral, a análise do BTG escreve que o mix de receitas foi pior do que o esperado em termos de produtos e canais.
Despesas antecipadas (capitalizadas no balanço) totalizaram R$ 4,5 bilhões, com aumento de 1% no trimestre e de 5% na comparação anual. Além disso, a XP desembolsou R$ 670 milhões relacionados a três aquisições de participações minoritárias, já contabilizadas no balanço do quarto trimestre de 2023. Como resultado, o valor total contabilizado como “Investimentos em associadas e JVs” (fusões e aquisições) encerrou o primeiro trimestre em R$ 3,1 bilhões, estável em relação ao trimestre anterior, mas com, forte aumento de 38% em relação ao ano anterior, destaca o BTG.
Já o total de despesas operacionais foi de R$ 1,4 bilhão, 6% acima do previsto pelo BTG, com recuo de 9% no trimestre, mas com alta anual de 35%.
“Se a recuperação cíclica demorar mais, onde estará o alfa [o excesso de retorno]?”, questiona o BTG Pactual em sua análise.
Em agosto, a casa colocou recomendação de compra para as ações da XP pela primeira vez desde a oferta pública (IPO), no fim de 2019, por avaliar que a empresa amadureceu, aprendeu com seus erros e otimizou a alocação de capital. A tese era que ao fazer isso, a companhia protegeria o seu retorno sobre o capital (ROE).
“Infelizmente, a recuperação cíclica não chegou e há frustração de que possa demorar mais para se materializar, com as taxas permanecendo altas por mais tempo”.
Ainda que veja o caso XP como um ótimo veículo para jogar com o “beta” de Brasil (o crescimento em linha com o mercado], será preciso mais alfa para recuperação dos ativos na bolsa. “Sim, a administração tem trabalhado em várias novas iniciativas, mas provavelmente será necessário mais para que a ação ganhe impulso nos próximos meses”.
Com informações do Valor Pro, serviço de notícias em tempo real do Valor Econômico
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