Tem novidade: CEO da Azul (AZUL4) fala sobre possibilidade de fusão com a Gol (GOLL4)

O executivo da companhia destacou que peculiaridades brasileiras, do regime fiscal à legislação trabalhista, são principais ofensores para preços dos tickets aéreos no Brasil

Se combustíveis fazem aviões decolar, esse mesmo combustível é um dos fatores que derrubam o turismo brasileiro, de acordo com John Rodgerson, CEO da Azul (AZUL4). Em entrevista exclusiva à Inteligência Financeira, durante a 17ª LatAm CEO Conference do Itaú BBA, em Nova York, o executivo disse que na novela dos altos preços das passagens ele não é o vilão. Ele também falou da expectativa em torno da fusão com a concorrente Gol. Segundo Rodgerson, fusão entre companhias aéreas seria uma solução para dificuldades do setor. No vídeo, ele explica o por que.

Rodgerson alertou que as peculiaridades brasileiras, que vão do regime fiscal à legislação trabalhista, são desafiadoras e os tíquetes aéreos precisam pagar o custo Brasil, além de remunerar os acionistas.

Segundo o executivo da Azul (AZUL4), o Brasil tem três características únicas que oneram pesadamente as companhias aéreas.

A primeira delas é o preço do combustível, que é o mais caro do mundo. Em segundo lugar, vem a falta crédito. E, por fim, o número de brasileiros voando. “Chile, Colômbia e México têm mais gente voando do que o Brasil”, diz Rodgerson. Por conta desses três fatores, o valor das passagens sobe e, consequentemente, impacta a classe média.

Durante a conversa, Rodgerson ainda comentou sobre a possibilidade de fusão entre Azul e Gol (GOLL4;GOLL11), a importância do marketing positivo para o Brasil e o impacto dos juros na vida dos turistas brasileiros.

Veja agora alguns trechos da entrevista.

Fusão com a Gol

“Acredito que isso seria muito saudado pelo mercado.

Uma fusão desse tamanho ajudaria os clientes a terem muito mais acesso. A Azul voa para, mais ou menos, 100 destinos que ninguém mais voa. Então, quando você pode ter uma linha aérea para conectar com a nossa malha, isso é muito bom. Ajuda a captar dinheiro mais barato, a ter um país muito mais saudável.

Tem muita coisa que vai acontecer entre hoje e uma possível fusão futura. Mas, de novo, isso é muito cedo para pensar.

Uma coisa que os investidores talvez não conheçam bem é o processo de recuperação judicial dos Estados Unidos. Ele é bem diferente de um processo judicial do Brasil. Normalmente, uma empresa faz isso para sair de algumas dívidas, para ser uma empresa mais forte, mais saudável.

Uma empresa tem que ser saudável, não pode ser mais endividada. Então, se há uma maneira para fazer algum tipo de fusão que possa alavancar as empresas, isso é interessante. Com certeza vai acontecer? Não sei, mas estamos olhando.”

Custo Brasil

“Nós temos que ter um preço de passagem que pague os custos do Brasil, e o Brasil tem três coisas que são únicas no mundo: temos o preço do combustível mais caro do mundo, temos a falta de crédito e, nesse setor, os bancos não emprestam dinheiro, e o terceiro é utilização. Quando você olha esses três fatores, eles estão contribuindo para uma tarifa mais alta.

O Brasil, hoje, tem menos viajantes do que Colômbia, México e Chile. Isso não é bom quando olho as oportunidades que o país tem.

Eu falei o ano passado aqui, eu não sou vilão nesta história. O preço da passagem está alto, mas tem que cobrir nossos custos.

Então, o preço do combustível alto impacta a classe média do Brasil, não a classe A. Eu acho que nós temos que olhar esses fatores. Quando olho para o cenário econômico do Brasil, vejo um mercado consumidor começando a acontecer novamente”.

Azul Conecta, programa da Azul (AZUL4) com foco em rotas regionais. Foto: Divulgação

Mercado em 2024

“Para o mercado melhorar, três coisas precisam acontecer: temos que convidar o mundo para conhecer as belezas do Brasil; temos que parar de viajar para fora. A classe A do Brasil está em Paris, em Nova York, na Ásia. Ela tem que gastar seu dinheiro mais no Brasil, e, terceiro, temos que convidar a classe média para viajar a turismo.

Isso é uma coisa que está acontecendo nesse momento. As praias mais lindas do mundo existem no Brasil. O Encontro das Águas, no Amazonas. Você pode ir para Gramado ou Canela. Como vamos ajudar o Rio Grande do Sul? Tem que ir lá depois e gastar algum dinheiro no Rio Grande do Sul. Esta é a melhor maneira para ajudar.

Temos que estimular o turismo brasileiro. Você pode fazer muito mais coisas dentro do Brasil e parar de pensar para fora. Temos que convidar o mundo. Temos que falar para os próprios brasileiros que têm dinheiro gastar dentro do Brasil e convidar a classe média para viajar mais”.

Marketing para o Brasil

“Toda entrevista que eu faço, eu falo sobre esse Encontro das Águas, eu falo sobre Noronha, sobre Gramado. Então nós temos que promover mais o Brasil.

Cada cidadão brasileiro tem que falar bem do Brasil, não falar mal. Tem muita coisa linda para ver. Pessoas que estão indo para a África, que nunca viram uma onça no próprio país. É preciso ir para o Mato Grosso, para o Pantanal, pescar piranha. Tem que fazer essas coisas, tem que tem que levar seus filhos para ver Foz do Iguaçu”.

Rio Grande do Sul

“É muito triste, o que está acontecendo no Rio Grande do Sul. A coisa mais triste que eu já vi. Meu filho mora em Porto Alegre, mas o que me deixa feliz é ver o país unido para ajudar seu próximo.

Nunca vi o Brasil tão unido numa causa como nós estamos fazendo com o Rio Grande do Sul. Eu sei que é diferente, mas, puxa, nós também podemos ser unidos e crescer o Brasil, convidar outras pessoas para conhecer o país e todo mundo fazer mais uma, duas viagens”.

Turismo: ciclo virtuoso

“Como você vai dar um emprego para nordestino? Viajando para o Nordeste. Isso é maneira de ajudar o Brasil, é o ciclo virtuoso. Então, mais brasileiros indo para Maragogi vão ter mais empregos em Maragogi. Então, essas pessoas vão ter capacidade de ir para o Rio. E vamos criando uma coisa bacana”.

Juros

“A realidade do Brasil é de juros altos. Isso existia quando eu cheguei aqui, muitos anos atrás. Está aqui agora. É um desafio que está impactando o brasileiro a pensar no longo prazo para investir.

Ter juros mais altos pode ter, mas tem que ter formas para acessar o capital, para investir no próprio Brasil. Temos que olhar para o BNDES, o que as linhas do governo podem fazer. Porque é preciso tomar risco por dez anos para comprar uma nova aeronave, construir um novo terminal ou um hangar. Você tem que olhar dez anos para frente, e você não vai fazer esta compra com juros altos”.